- Eu não aguento mais... - Ele murmurou. - Tudo que eu faço é para agradar a eles e nada é suficiente. Só lembram de mim quando veem que não estou cumprindo com os meus deveres. Faça isso, faça aquilo... - Desabafou enquanto olhava para o fundo do quarto.

Um bolo formou-se em minha garganta quando vi seus olhos marejarem.

Eu não conseguia imaginar o quanto devia ser ruim viver em uma casa em que você não recebe amor, carinho e atenção. Apenas ordens e reprovação.

- Eu não sou um filho, sou um servo. - Murmutou, por fim.

Me aproximei dele e o abracei. Ele não se moveu por alguns instantes, mas logo entregou-se ao meu abraço.

Mesmo com o cheiro horrível de álcool que queimava minhas narinas, não me afastei. Sei que ele precisava daquilo no momento, mesmo que provavelmente não se lembrasse de muita coisa pela manhã.

- Eu sinto muito por isso. - Sussurrei.

Ele balançou a cabeça e desvencilhou-se do meu abraço.

- Desculpa por invadir o seu quarto. - Ele disse olhando para o chão. - Eu estou um pouco bêbado.

Ri com o nariz.

- Tudo bem. Você pode me retribuir depois.

- Com um beijo. - Riu e eu o olhei incrédula.

- Quem disse que eu quero um beijo seu? - Fiz careta.

- Todas querem. - Deu de ombros, convencido.

Revirei os olhos, mas não pude deixar de gargalhar.

- Eu vou dormir aqui, está bem? - Ele disse e deitou-se na minha cama. - Olha, estrelas! - Disse admirado com as estrelas florescentes do meu teto.

E agora? Como eu ia levá-lo para casa?

- Daniel, você não pode dormir aqui. Se meus pais descobrirem, eles me matam! - Ri.

- Como você pegou essas estrelas do céu? - Ele perguntou, me ignorando.

Gargalhei.

- São de mentira, seu idiota. - Me deitei ao seu lado.

Se ele saísse amanhã bem cedo, talvez, ninguém perceba.

- Ei... - Ele me chamou e eu o olhei. - Vai pra sua cama. - Ele me empurrou.

- Você que está na minha cama. - gargalhei.

- Invejosa. - Fez careta e virou de costas para mim.

Balancei a cabeça, rindo e em seguida ouvi sua respiração pesar ao meu lado. Tinha caído no sono.

Como que poderia alguém que eu desgostava tanto até três anos atrás, tornar-se alguém da qual gosto de ter a companhia?

Hoje, eu finalmente entendi: Daniel não era tão difícil de lidar, apenas precisava sentir-se acolhido por alguém.

Fiquei observando sua mansidão ao dormir por um tempo até sentir meus olhos pesarem.

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Um Retorno Inesperado | ✓Where stories live. Discover now