Uma Criança Pródigo, Um Jovem Cansado

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“Pois aquele garoto, que ia mudar o mundo
(mudar o mundo) assiste agora tudo em cima do muro.

Meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder, Idelogia eu quero uma pra viver...”

– Idelogia (Cazuza)

São Paulo - Brasil.

(9:12am)

Assim que apertou o “play” iniciando o repertório das músicas que mais gostava de ouvir, principalmente pela manhã, ele retornou até sua cama, onde coloca seu MacBook de volta no colo, revisando mais uma vez o texto que havia acabado de escrever, havia parado no parágrafo três, nesse momento estava sem ideia alguma de como prosseguir, os olhos de um tom dourado puxado pro verde, vasculhavam a tela de um lado a outro, mudando palavras, trocando sinônimos e corrigindo erros ortográficos. Ele fazia isso quase todos os dias, pelo menos aqueles que estava em casa sem fazer nada, agora que entrou de férias da escola, podia ter tempo o suficiente de revisar suas escrituras, dando continuidade ao livro que vem tentando escrever, desde que tinha quatorze anos, porém, que estava num constante bloqueio mental.

Olhou pela janela de seu quarto, a tela de proteção o impedia de degustar da vista, que nem era tão bonita assim comparada a de alguns lugares que já havia conhecido, não de dia, prédios e mais prédios ao relento, um céu acinzentado, com nuvens carregadas, logo iria cair um mundo d'água, já que São Paulo é de longe a cidade mais bipolar de todas, a todo momento o clima muda. Embora os céus estejam escuros e o clima mais frio, ele se sentia totalmente em paz, a manhã estava amena, casa silenciosa, somente a melodia e a voz de Ney Matogrosso ecoando o ambiente deixando tudo ainda mais agradável, ele gostava de ouvir MPB, era seu gênero favorito, pois as canções lhe traziam inspiração para escrever.

Quando chegou ao refrão, se viu obrigado a cantar também:

“Porquê o passado me trás uma lembrança, do tempo em que eu era criança, e o medo era motivo de choro, desculpa pra um abraço e um consolo. Hoje eu acordei com medo mas não chorei...”

Eddie se permitiu cantar sussurrando, adorava aquela música, ouvia quase todos os dias, logo retornando sua atenção à tela, respirando fundo e se forçando a pensar em algo legal para começar mais um parágrafo. Querendo ou não, sentia-se frustrado, faz muitos dias em que não consegue escrever se quer duas linhas inteiras, e para um livro que começou a escrever aos quatorze, e agora, com dezessete, ainda não chegou nem na metade, às vezes lhe deixa aflito. Edward Kaspbrak sempre foi um garoto que além de zelar pela boa imagem, era muito perfeccionista consigo mesmo, isso veio desde que era criança, onde sempre foi muito inteligente, muito criativo, muito comunicativo também, isso despertou muitas atenções seja dos pais, ou de pessoas mais próximas, além do resto da família.

E como toda criança prodígio, logo as expectativas em cima de si só fizeram aumentar, uns apostavam que seria um médico cirurgião que nem a mãe, outros, que seria um diplomata que nem o pai, onde viveria viajando e representando o Brasil no mundo inteiro, até agora, ele ainda não havia decidido, quer dizer sim, ele havia decidido, porém era um rumo totalmente diferente de tudo aquilo que sonhavam pra ele; estava em seu último ano do Ensino Médio, atingiria a maioridade em alguns meses, sendo assim, ele teria que dar a resposta até o fim do ano, algo que tenha lhe preocupado bastante. Pois Eddie não quer estudar medicina, tampouco negócios internacionais, ou economia e essas coisas, o que ele quer mesmo, é escrever, cursar uma faculdade de letras, Kaspbrak ama livros mais do que tudo, passa a maior parte do seu tempo lendo, escrevendo e desenhando também.

HELIPAWhere stories live. Discover now