c a p í t u l o ✿ 4

Começar do início
                                    

Não era o aniversário perfeito, mas pelo menos seu coração estava mais leve. Quase podia fingir que não teria que voltar para o internato ao final do dia — e faria questão de enrolar pelo resto da tarde para evitar ao máximo esse momento.

Caminhou a esmo pelo centro por mais meia hora até sentir os pés começarem a doer e o calor se tornar insuportável. Checou o horário no celular: 14h. Só precisaria estar de volta às 19h, mas já começava a ficar exausta.

Dez minutos depois, quando começou a ter certeza que não aguentaria mais 6 horas fazendo vários nadas, encontrou o que lhe pareceu um oásis em meio ao deserto. Trocou com prazer a rua quente pelo ar-condicionado daquela loja, cuja fachada anunciava Cyber Fever em neon.

Seus olhos brilharam ao ver com os leds roxos iluminando as várias mesas de computadores dispostas para uso. Viu alguns garotos com headsets falando alto enquanto jogavam uma partida de CS:GO, o clima inconfundível de uma lan house.

— Quer ajuda, pequena?

Só então Bianca prestou atenção no garoto de vinte e poucos anos mascando um chiclete e lhe encarando por trás do balcão. Seu rosto era repleto de acnes e usava um boné de aba reta da Marvel.

— Ahn, boa tarde — respondeu, pensando de onde vinha aquela intimidade para lhe chamar assim, mas estava acostumada com pessoas usando sua pouca estatura para lhe apelidar. Realmente precisava ficar na ponta dos pés para conseguir conversar direito por trás do balcão alto. — Aqui é uma lan house?

O garoto ergueu uma sobrancelha, mas foi simpático ao lhe explicar:

— É um cyber café com computadores para games. — Apontou para a parte de trás da loja, onde estavam os setups. O local estava bem arrumado e Bianca percebeu uma escadaria ao fundo. — Tem dez computadores aqui de baixo e mais dez lá em cima, num espaço com sofás, televisão e consoles. — Em seguida, apontou para a entrada, onde eles estavam. Haviam três mesinhas redondas com cadeiras, uma televisão de 42 polegadas passando episódios de Naruto e duas geladeiras de vidro com bebidas a venda. — Também servimos cafés e outras comidas.

Seu tom não era dos mais animados enquanto explicava algo que provavelmente sempre precisava repetir, mas os olhinhos de Bianca brilhavam com o entusiasmo de quem achara seu novo lugar favorito. Ela nem sabia que lan houses ainda existiam em 2019! Quem dirá uma especializada em jogos.

— Que foda! Quanto é a hora? — Imediatamente abriu a bolsa, procurando a carteira.

Ele apontou para a tabela de preços bem à vista no balcão.

— 7 reais, 5 a partir da quinta hora. Todos os PCs têm configurações para jogos de última geração — explicou — Tu joga?

Bianca franziu os olhos, desconfiada. Era agora que aquele cara lhe olharia com deboche, pensando que ela não podia jogar apenas porque era uma menina?

— Jogo sim.

— Massa. — Ele fez uma bola de chiclete e tirou outra tabela de preços debaixo do balcão. — Aqui tem umas condições especiais. Que jogo tu curte?

— Eu tava terminando o Red Dead 2, mas queria jogar um lolzinho — respondeu, sentindo-se um pouco mal por desconfiar que ele seria babaca.

Então deu uma olhada na tabela de condições especiais enquanto o atendente explicava sobre o bônus de horas para quem subisse seu rank em jogos competitivos durante o tempo na lan house.

Deixou um sorriso malicioso escapar. Boa não era a melhor forma de classificar Bianca no League of Legends: estava, no mínimo, para excelente. O jogo era dividido em nove ranks e Bianca estava com a sua conta principal no penúltimo deles, Grão-Mestre, antes de começarem as aulas no internato. Ficava entre os melhores players do servidor.

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