A confusão mental das sete mulheres perdurou por alguns segundos até que um som de palmas irônicas ecoou pelo local, chamando-lhes a atenção. Nesse exato momento, uma figura máscula saiu por entre as árvores ao norte, a uns trinta passos de distância da arquibancada de cimento adversária. À medida que os pares de olhos femininos focalizavam no homem, notando sua imobilidade completa e a pele pálida, rapidamente perceberam que se tratava de Gavin Leatherwood portando um sorriso debochado. Ele usava trajes finos e sociais, tais como um lindo pretendente para um encontro romântico.

Meus parabéns, caíram como patinhos... Outra vez! – soltou uma risadinha, balançando a cabeça. – É tão fácil enganar vocês, como pode isso?!

O vampiro saía das penumbras geradas pelos arbustos, caminhando com movimentos graciosos, quase felinos, até o centro das jardas brancas... parando a poucos metros do pentagrama. O homem deu um aceno, mexendo os dedos cheio de anéis.

– Todas aqui, do jeitinho que queríamos... – Gavin abriu os braços, com uma expressão de quem se divertia. – Como eu adoro o Halloween! É o meu feriado perfeito. Não é como os outros festejos idiotas que deixam as mãos cheias de espinhos de pinheiros, não tem coelhinhos, fogos de artifício, parentes. Só doces! Você sai e ganha doces! Além de ser o dia mais importante do ano, pois é a única noite no calendário gregoriano onde você pode aterrorizar crianças e não ser considerado um psicopata!

Gavin trocou o peso das pernas, sem pisar no pentagrama, inclinando a cabeça para o lado de modo a analisar com suas íris vermelhas o lugar de esporte dos discentes.

– Urgh... Essa Universidade representa tudo de errado nos anos 80: uma aparência de salubridade disfarçando uma escuridão violenta. Já viram o ensino médio atualmente? Não é filme: a molecada usa pó, levam armas à escola. Todos os músicos britânicos gays fingem ser héteros. A história lembrará dessa década como a era da bosta. Sinceramente, entre o Irã, Contras, AIDS, o programa "Super Vicky" e o crack, tenho certeza que os anos 80 será o fim do mundo que conhecemos. – ponderou, coçando o queixo livre de barba. – Cada década tem o seu período de decadência, obviamente. E é nela que estou mais vivo!

– Quanto falatório desnecessário. – Veronica se pronunciou enquanto girava uma estaca de madeira na mão direita. – Típico. Você realmente não mudou nada nesses cinquenta anos, Leatherwood. Já te disseram que você fala demais?!

– Velhos hábitos não morrem... – Gavin murmurou, ainda despreocupado. – Hmmm... Confesso que não esperava vê-la aqui, Iglesias. Uma mulher como você limpa a bunda com diamantes às custas de encher o saco de vampiros. Não veio parar aqui devido aos doces de Halloween, acertei?!

– Olha só, e não é que você é bem perspectivo? – a caçadora falou com ironia na voz, tocando a ponta afiada da madeira com o polegar.

– Estou surpreso pelo Vaticano ter deixado você para trás. Você não era o bichinho de estimação deles? – Gavin semicerrou os olhos, cheio de desconfiança.

A caçadora mais velha deu um sorriso torto, tentando ganhar alguma espécie de tempo para que uma Allyson ainda congelada pudesse surgir com alguma ideia improvisada.

– Mais ou menos isso...

O vampiro elegante deu um passo para o lado, mantendo-se a analisar as jardas e o campo de futebol coberto pela estrela e o pentagrama. O jogo estava a seu favor e não iria se precipitar. Com sua visão e olfato apurados podia muito bem sentir o medo transpirado pelas mulheres. E amava isso.

– Sempre a mando do arcebispo deles... – ele refletiu consigo mesmo. – E quem manda nele? O rei de chapéu pontudo, no trono de Roma. Patético, até mesmo para vocês caçadores.

Over The DuskOnde histórias criam vida. Descubra agora