Capítulo 52

15.8K 1.2K 307
                                    


Eu estou chorando?

Por um curto período de tempo, minha visão ficou embaçada e não consegui enxergar Wheezie direito. Fechei os olhos rapidamente e passei as mãos pelo rosto, em uma tentativa falha de melhorar minha situação.

— O que aconteceu? e viver em um horário totalmente diferente do seu me deixa louca — perguntou, em um tom doce, enquanto caminhava até mim com passos lentos.

Silêncio.

Wheezie é só uma criança, não é obrigada a se envolver nessa situação toda... Quem me dera eu tivesse essa chance.

— Você precisa de algo? — senti o colchão afundar ao meu lado, mas continuei olhando para minhas mãos, envergonhado. Balancei a cabeça de forma negativa, perdido em meus pensamentos.

— O papai fez alguma coisa, não é? — sua voz era fraca, lotada de tristeza. Mesmo que ela já soubesse a resposta, afirmei com a cabeça.

As coisas poderiam ser bem mais fácies se eu não tivesse encontrado Katherine aquele dia na rua. Eu poderia estar focado e ter certeza de minhas decisões.

Mas ela é a melhor coisa que já me aconteceu. Uma parte minha sabe que eu a perdi e não tenho mais chances de recompensá-la pelo que fiz, mas prefiro manter minhas esperanças.

Meus pensamentos tolos foram interrompidos pelo som abafado de Wheezie ao meu lado. Quando levei meu olhar para ela, vi minha irmãzinha com as bochechas cobertas de lágrimas.

Merda!

— Ei, não chora! — passei meu braço por seus ombros e a trouxe para mais perto. — Vai ficar tudo bem... — eu fico tentando me convencer disso o tempo todo, mas nem sei se ainda acredito nisso.

— Não sou um bebê, Rafe. — ela resmungou, encostando a cabeça em meu ombro e olhando para frente. — Tá todo mundo esquisito! O papai fica bravo com tudo, Rose aparece do nada falando sobre essa mudança repentina e a Sarah nem fala mais comigo... Ela nunca está em casa e parece não ligar mais para nada. — apertei seu ombro um pouco mais forte, em um tentativa idiota de deixá-la mais calma.

— Nós vamos ficar bem, pequena... — sussurei, mesmo sem acreditar em minhas próprias palavras.

Eu odeio todos eles.

Odeio Sarah por abandonar a Wheezie como se fosse nada.

Odeio Rose por deixar meu pai continuar com essa loucura toda sem tentar impedir. Ela pode não dar a mínima para nenhum de nós, mas, porra, ela é a coisa mais próxima que Wheezie tem de uma mãe

E odeio Ward por fazer as minhas garotas passarem por isso tudo.

— O quê você acha de Atlanta, hein? — falei em um tom divertido, vendo que as lágrimas tinham parado. — Fomos para lá quando você era menor, mas acho que não deve se lembrar muito bem. Poderíamos passar o resto das férias lá... Ou sei lá, passar mais um tempo. As escolas de lá são ótimas, você pode gostar.

— Tá falando em fugir pra Atlanta? — me acusou, soltando um risinho fraco. — Tipo, só nós dois? — vi um brilho diferente em seu olhar.

Talvez eu também tenha deixado Wheezie um pouco de lado...

— Não vamos fugir! — me defendi, lançando um sorriso para a garota. — Apenas umas férias prolongadas, longe de Outer Banks.

— Não sei... — sussurrou, um pouco receosa. — Acho que eu ia gostar de Atlanta.

Soltei um suspiro aliviado e, pelo primeira vez nos últimos dois dias, eu senti uma pontada verdadeira de esperança.

— Tenho que resolver uma coisa antes, pirralha.

Katherine Campbell narrando 🌌

Estão atrasadas. — John B falou, enquanto eu e Sarah descíamos do carro.

— Jura? Acho que chegamos no momento certo. — resmunguei, caminhando até a cerca enorme que separava a pista de pouso de nós.

— O ouro já está todo no avião. — Pope avisou, olhando para o avião no meio da pista de pouso.

— Você tem um plano pra entrar? — perguntei, olhando para John B. — Porque eu tenho um leve pressentimento de que não vão nos deixar entrar pelo portão da frente. — brinquei, me aproximando da cerca.

— Eu tenho uma ideia... — JB falou baixinho. — Mas acho que vocês não vão gostar muito. — quando levei meu olhar para meu melhor amigo, ele sinalizou para a Kombi, estacionada a poucos metros de nós.

— Não! Claro que não! — Sarah gritou, vendo eu e John B caminhávamos até o veículo.

— Acho que essa é nossa única opção, Sarah. — falei, tentando segurar o riso. — Posso dirigir?

— Não abusa, Kat. — John b disse, abrindo a porta e sentando no banco do motorista. — Acho melhor vocês ficarem aqui, e eu vou lá sozinho.

Sem falar nada, Sarah entrou na kombi. Adoro tanto ela.

— Vocês — apontei para Kiara, JJ e Pope. — Fiquem aqui e, caso o John B faça alguma idiotice, chamem a polícia. — Entrei na kombi também e fechei a porta. Até parece que vou ficar na reserva depois de tudo que o Ward fez.

Nenhum dos pogues pareceu se opor contra minhas palavras, talvez porque nenhum deles queira participar de idiotice que estamos prestes a fazer.

John B deu partida da kombi e acelerou. Segurei a respiração e fechei os olho quando nos aproximamos da cerca. Escutei um barulho alto e, quando abri os olhos, já estávamos indo em direção ao avião, dentro da pista de pouso.

𝙎𝙐𝙉𝙉𝙔 - 𝙍𝙖𝙛𝙚 𝘾𝙖𝙢𝙚𝙧𝙤𝙣 Onde as histórias ganham vida. Descobre agora