Memórias, é curioso a forma como são reascendidas em nosso cérebro, naquele momento eu era atingido por uma enxurrada delas. Teodora e eu brincando por entre as árvores frutíferas, inclusive algumas das quais ficamos maiores com o tempo, como a cerejeira no quintal da minha avó, ou o pé de colônia que ao passar dos anos já não me cobria por completo e me deixava com seu cheiro, refrescante e selvagem. Festas da padroeira, bares com as conversas mais absurdas, risadas frouxas com os amigos e até mesmo as percas que parecem ser bem mais dolorosas numa cidade pequena, imagine num vilarejo como Calango Azul. Tudo isso vinha na minha mente só de vê-lo ainda ao longe, entre a terra íngreme que o circundava.
— Você precisa me contar tudo, primo! Como é na cidade? Já virou a noite nas festas? E a faculdade? Tem drogas e safadeza por todo lado?
Minha família, como de costume em qualquer reencontro, organizou uma festa de boas-vindas para mim, no bar/restaurante de tio Fabrício e Teodora mal me deixou conversar com os familiares e amigos na cidade, mas não reclamei. Apesar de estar morando numa cidade agitada, a agitação da minha prima era algo reconfortante.
— A cidade é normal, sim, já virei uma noite festejando, não dá para sair das festas a noite e voltar andando pra casa, não é como aqui, você pode ser assaltado ou coisa pior.
Ela abriu a boca e deu batidinhas no meu ombro.
— Conta mais!
— A faculdade não é essa orgia toda não, tá? As pessoas tem responsabilidades.
— Bem-vindo de volta, João!
Antônio, o filho do borracheiro do vilarejo, chegou perto de nós. Sorriso tímido e coçando atrás da orelha logo depois de hesitar em apertar minha mão, as dele estavam sujas de graxa, puxei a mão dele e apertei mesmo assim.
— É muito bom te ver, Antônio, você está mudado!
— Você também, tá parecendo um doutor. — meneei a cabeça, em agradecimento, Antônio se voltou para minha prima — Oi Dorinha.
— Que Dorinha, que nada, garoto! Perdeu o Juízo? É Teodora, repete comigo.
"Teo-do-dora."
Ele realmente repetiu, de uma maneira torta e até bem fofa, mas minha prima tinha uma paciência bem curta quando o assunto eram rapazes, sobretudo os lentos como Antônio, o coitado já sofria com a negação em suas investidas desde o oitavo ano.
— O que você quer?
— Eu queria saber se você não gostaria de dançar essa música comigo, é mais pop, né? Eu sei que você gosta.
— Não tá vendo que eu estou conversando com o Ítalo, garoto?
— A tá...
Eu quase pude ver o rosto dele murchando de maneira literal.
— Vai dançar, garota! — eu a imitei, lhe jogando para perto de Antônio — Depois continuamos a nossa conversa.
— Mas...
Ela fez cara feia, mas Antônio nem sequer o puxou ou algo assim, só esperou que minha prima cedesse, e finalmente aconteceu, eles começaram a dançar.
Acenei e cumprimentei meus tios e tias, e algumas figuras que cresci conhecendo, nem todos por nome, mas no vilarejo só o fato de você ver a pessoa frequentemente já lhe torna um conhecido.
— É como diz o velho ditado...
Tio Fabrício abriu espaço entre um grupo que eu conversava, ele segurava com uma mão sua enorme caneca de shop, com a outra me envolveu em seu braço massudo.
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BINABASA MO ANG
Mais que Quinze Segundos - projeto contos SOS 4º Edição (DEGUSTAÇÃO)
RomanceÍtalo está de volta ao vilarejo em que nasceu e cresceu. Depois de cinco anos afastado, o jovem recém formado não poderia se encontrar mais feliz por rever seus familiares e amigos. Contudo, o evento que deveria ser apenas festivo, revela uma decisã...