Capítulo 5 - Cheiro de Sangue

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Nesse momento, Bramba, que estava um pouco atrás de mim, bufou. Eu fingi não notar mas me pareceu uma reação genuína de desgosto e eu me perguntei qual seria a dinâmica do grupo. Chelon caminhava a alguns passos na minha frente. Eu podia ver a capa negra balançando conforme ele se movia, seus passos eram estranhamente elegantes, diferentes dos de Bramba. O bárbaro carregava um peso enorme nos ombros então cada passada era uma marretada no chão.

Será que eu pisava duro assim?

Olhei para o alto, estava completamente claro agora, mesmo na penumbra azulada da floresta. Eu acelerei para alcançar Chelon.

— Quanto tempo vocês se conhecem? — perguntei.

Foi Hiz quem respondeu minha pergunta.

— Há meio ciclo mais ou menos. — ele falou quase cantarolando, sua voz sorria.

Não fazia a mínima ideia de quanto tempo era um ciclo, mas deveria ser bastante tempo, acho.

— O que é múnus?

— Não sabe nem isso? — O Sombra gritou lá da frente. Aquelas orelhas pontudas dele eram realmente irritantes.

— Múnus é uma espécie de trabalho avulso. Geralmente são requisitados por senhorios nobres, mas alguns vassalos mais ricos também podem pedir. O senhorio precisa pagar uma taxa para anunciar a múnus e entes podem se juntar para realizar o trabalho. — Chelon falou.

Entes.. seria o equivalente a pessoas? indivíduos? Eu cocei a cabeça.

— Entes são os habitantes do Domínio pertencentes a castas camponesas e acima. — Chelon pareceu captar minha confusão.

— Castas... — murmurei.

Continuamos a caminhar por um tempo até Hiz parar e fazer sinal para o grupo. As orelhas dele se moviam, pareciam captar algo. Eu olhei para Bramba e depois para Chelon, eles compreendiam o que aquilo significava. Tentei perguntar algo mas o Necromante colocou a mão nos meus lábios antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

— Temos de fazer silêncio agora. — ele falou baixinho.

***

A tensão havia passado. Agora podíamos relaxar pois o perigo do território dos Diamus ficou para trás. As orelhas pontudas de Hiz não eram tão irritantes no final das contas, sem elas não conseguiríamos localizar a matilha de monstros e desviar a rota para longe deles. Olhei para o céu ainda encoberto pela copa das árvores e reparei que a luz diminuía. Eu sabia que seria uma viagem longa, havia visto a extensão da floresta antes quando escalei aquela árvore e mesmo assim eu tinha esperança de sair de lá antes do anoitecer.

Sair... comecei a pensar.

Depois dessa floresta, para onde eu iria? Talvez uma cidade? 

Me sentia suja pois o lodo do monstro ainda encardia minhas botas e minha camisa estava nojenta de sangue seco. 

Como andaria por uma cidade nesse estado?

Eu virei para meu ombro e mexi um pouco na camisa suja. De repente Bramba puxou meu braço e eu tomei um susto, quase derrubando o que levava. Ele aproximou o nariz da minha mão e depois enfiou a cara no meu ombro. Eu larguei a carga no chão e o empurrei num movimento involuntário, o guerreiro quase perdeu o equilíbrio.

— Cuidado moleque! — Bramba disse e eu fiquei olhando para ele, tentando entender o que havia acontecido.

— O que houve? — Chelon, que estava um pouco à frente de mim, parou de andar e olhou para trás.

A TerceiraWhere stories live. Discover now