— Não... Claro que não — respondeu ele, sentindo-se mesmo um bobo.

Se continuasse se assustando cada vez que o conde falava, ia irritá-Io. Namjoon prometera que cuidaria dele. Devia confiar no futuro marido.

— Então, por que não come? — quis saber, intrigado. — Você deve estar com fome.

Aquele rapaz era um enigma para o alfa. Não conseguia entendê-lo, o que não era de estranhar, pois não se conheciam. Mas por que dava tanta importância ao que ele poderia pensar?

Seokjin tornou a pegar o garfo e recomeçou a comer. De fato, tinha fome e estava tudo tão gostoso! 

Comeram em silêncio. O ômega por não saber o que dizer; o alfa, preocupado em fazer os planos para o casamento. Tanto que esqueceu-se do noivo. Quando terminou de comer e inclinou a cadeira para trás, acendendo um charuto, é que se deu conta de novo da presença dele. Contemplou-o através da nuvem azulada de fumaça e, de repente, lembrou-se que não lhe pedira permissão para fumar.

— Peço que me desculpe... — disse, apagando o charuto. — Eu não devia fumar com você aqui na sala. É um péssimo hábito que adquiri na França...

Impulsivo, o ômega colocou a mão no braço dele.

— Por favor, pode continuar — disse, rápido. — Está em sua casa. Não posso fazer nenhuma exigência...

O conde olhou a mãozinha, avermelhada e grossa, pousada sobre o tecido fino de seu casaco. Que par mais estranho, o maltratado orfãozinho e o nobre desfigurado, pensou. Ergueu a cabeça e notou um doce brilho nos olhos negros. Uma criança meiga, oferecendo-lhe conforto e paz. Admirável ele ter sobrevivido aos ataques dos Kim, sabia o quanto a matriarca da família poderia ser impiedosa. Pensar na família Kim o fez lembrar de uma coisa.

— Preciso falar com você — disse, sério.

Seokjin ficou de novo tenso. Retirando o braço de sob a mão dele, Namjoon acendeu outro charuto. Então, começou:

— Sei que nada do que houve foi fácil para você e vai haver muita mudança ainda, — Calou-se para organizar os pensamentos e falar sem assustá-lo. — Amanhã a esta hora você já será o novo conde de Baekje, meu marido. Pelo casamento, assumirá várias responsabilidades, porém o mais importante é que não irá mais depender da generosidade de lady Kim. Vai poder fazer tudo que quiser... dentro do razoável, claro. Garanto-lhe que não vou ser exigente. Aos olhos do mundo, faço questão de nos apresentarmos como um casal unido, harmonioso. Mas o que fizermos na intimidade só a nós dois diz respeito.

Seokjin concordou, acenando com a cabeça, entendendo o que o conde queria dizer. Pretendia que a sociedade acreditasse que a união deles era normal. Jae-hyun ferira profundamente o coração e o orgulho do alfa. O conde não gostaria que boatos sobre o acordo de casamento que fizeram se espalhassem, e todos o encarassem como um alfa digno de pena, que não pôde conquistar de verdade o coração de um ômega.

— Quanto às responsabilidades?... — indagou.

— Não são muitas. Você terá de dirigir Baekje Court e esta casa, comparecer aos lugares que eu indicar em minha companhia. Vamos passar a maior parte do tempo no campo. Perdi o gosto de morar na cidade — explicou ele, sem tentar esconder a amargura.

O jovem percebeu a tristeza dele, mas não fez comentários, sentindo que ele não gostava de despertar piedade.

— Não tenho prática nessas coisas — avisou com franqueza.

— Não se preocupe. Temos uma excelente mordomo. Você só terá de aprovar o cardápio do dia e dizer quando quiser algo especial. Quando se acostumar, fará as coisas como achar melhor. Tenho certeza de que logo vai se sentir em casa. Darei ordens a uma modista, madame Celeste, para fazer um guarda-roupa completo para você, o mais depressa possível.

— Você faz tudo parecer tão fácil! — comentou ele, tímido, começando a sentir-se à vontade com ele.

— E é fácil. Jamais vou mentir para você. Honestidade é muito importante para mim. Ainda mais na condição em que nos encontramos. Para o nosso casamento acontecer, precisamos estar de acordo sobre o que desejamos para ele. Falando nisso, há outra coisa que precisamos conversar, e necessito que seja franco comigo. Quero ter herdeiros, como já lhe disse. Porém, como ainda somos jovens, não precisamos apressar as coisas. Prefiro que você esteja mais saudável e mais confortável comigo para que possamos começar a pensar nisso. Acredito que você também prefira. — o ômega assentiu timidamente, sentindo as bochechas corarem — Nunca irei tocar em você sem a sua permissão. Mas, quero que tenha em mente que uma hora ou outra precisaremos avançar nesse quesito no nosso relacionamento. Você está de acordo com isso? Que um dia será meu por completo?

O ômega assentiu novamente. Mesmo envergonhado, encarou os olhos castanhos do alfa para passar segurança. Sentia-se nervoso, nem ao menos sabia direito o que acontecia entre um ômega e um alfa entre quatro paredes. Os poucos conhecimentos que tinha vinham da literatura, e isto o deixava inseguro. Mas, o Kim também queria filhotes, ainda mais de um alfa como o conde, então concordou.

— Caso prefira, podemos fazer isso em algum dos seus cios, pois será mais fácil para você. Não irei obrigá-lo a me ajudar nos meus, mas caso seja do seu desejo também, eu agradeceria, pois não costumo tomar medicamentos. Sobre morder você, acho que podemos conversar sobre isso depois. Não acho que marcá-lo seja tão urgente ou importante, principalmente porque passaremos os primeiros anos do nosso casamento no campo, onde ninguém irá nos importunar com perguntas inconvenientes. Poderá aproveitar esse tempo para aprender etiqueta e boas maneiras também. Irei contratar alguém para lhe ensinar.

O lorde levantou-se e foi para junto dele, que ergueu a cabeça e inclinou-a para trás, a fim de olhá-lo. Pensou, com pesar, que se o alfa o amasse, tudo seria mais fácil. Seokjin não sentiria tanta necessidade de fazê-lo orgulhar-se dele. Se o conde o olhasse com amor, teria segurança ao lado dele, em vez de questionar cada possibilidade do futuro. Mas Namjoon não o amava e ele precisava acostumar-se com essa verdade. Seokjin devia ser grato pelo que tinha. Talvez um dia ele viesse a gostar dele minimamente.

— Agradeço o que faz por mim. Prometo ser um bom marido, o melhor que puder — disse, enfim, num fio de voz.

Namjoon reconheceu apenas a gratidão nos profundos olhos negros. A que ponto chegara! Só era capaz de despertar em ômegas esse sentimento: gratidão!

— Se você for mais honesto que seu primo, já me darei por feliz — retrucou ele, brusco, lembrando-se de tudo outra vez. — Vamos embora, então.

Nem olhou para ver se o ômega o seguia, quando foi para o quarto de vestir pegar a capa.

Seokjin acompanhou-o em silêncio. Será que a vida deles seria sempre assim? Teria de pisar em ovos para não expulsar o bom humor do alfa? Foi ao quarto, pegou a capa em cima da cama e correu atrás do conde. 

Talvez um dia, se o destino assim quisesse, caminharia tranquilo ao lado dele, como uma verdadeiro marido.

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O ômega do Conde | NamjinOnde as histórias ganham vida. Descobre agora