A enfermeira foi embora. Tinha outra pessoa do meu lado. Ela tinha dito a enfermeira que estava comigo e me guiou para um quarto que não era o meu. Ignorei completamente sua presença e não ia sequer reclamar que estava no lugar errado. Não tinha forças para mais nada.

Mas havia algo no canto do quarto...

Um berço de plástico sobre rodinhas com letras grandes escritas em marcador azul escuro. Era o nome "Tyler" escrito do jeito mais lindo que já li na minha vida.

E um interruptor ligou em mim. Eu estava viva de novo. Corri até o berço em um desespero tão grande que esqueci o suporte do soro. A dor aguda na minha mão deixou evidente que a agulha tinha se movido dentro do meu corpo perfurando algo que não deveria, mas eu não me importei. Puxei o meu filhote para fora do berço e o apertei nos meus braços.

A coisa mais linda desse mundo.

E eu não ia soltá-lo mais nunca. Se alguma enfermeira aparecesse para me convencer a devolve-lo ou soltá-lo ela ia sair dali apanhada e mordida. Isso era óbvio.

- Não quis te assustar. Você deveria ter ficado no seu quarto.

Levantei os olhos para a morena desconhecida ao meu lado. Ela tinha arrastado o suporte do soro para perto de mim evitando que eu me machucasse mais.

Ela era da minha altura. Um par de olhos grandes e cinzentos, uma boca desenhada e um nariz afilado completavam suas feições discretas. Não era exuberantemente linda, mas tinha um belo corpo e algo... exótico em sua beleza simples.

Seus jeans era justo e surrado, a camiseta preta exibia um decote quadrado e ela mantinha os longos cabelos negros amarrados em um rabo de cavalo farto e apertado.

Não me importava que ela parecesse inofensiva, mantive Tyler escondido nos meus braços e me coloquei de lado, mantendo-a tão distante dele quanto eu conseguiria.

- Calma. - levantou as mãos com um tom animado - Sou amiga do Oliver, fofinha. Não precisa ficar nervosa.

Não deveria ter muito mais de vinte anos. E tinha algo estranho no seu sorriso delicado que era quase... infantil.

- Amiga do Oliver?

- É! Pode me chamar de Lola. - lançou uma mão empolgada na minha direção para que eu apertasse. Mas eu apenas a observei. A moça era uma incógnita. Uma mulher com ares de criança, com um jeito descontraído psicopático que me causava arrepios.

- Lola? Eu já o ouvi mencionar seu nome... mas achei que fosse... mais...

- Violenta? Rude? Cheia de cicatrizes? - sorriu.

- Velha.

- Ah! - sua risada era gostosa e completamente inapropriada diante do meu evidente desespero - Eu escuto muito disso também. Acho que é bom não ser o que as pessoas esperam. - seu sorriso se contraiu em uma expressão convencida e sagaz - Assim eu as pego desprevenidas.

- Oliver mandou você?

- Ele disse que você estava em uma situação de perigo. Ficou preocupado. Me pagou uma quantia obscena para que eu ficasse de olho em você nos últimos meses da gestação e primeiros meses de vida do bebê. Imaginou que você estaria indefesa nesse período e que seria bom ter um apoio por perto.

- Indefesa?

Eu estava acuada, sozinha, triste e deprimida. Mas ainda assim me irritava que alguém me considerasse indefesa.

- Não sei se foi a expressão que ele usou. - estreitou os olhos tentando se lembrar.

- Mas foi a expressão que você usou. - reclamei.

[Degustação] Alguns AnosOn viuen les histories. Descobreix ara