CAPÍTULO QUARENTA E NOVE

36 4 0
                                    


   O quarto de Kurama estava escuro, havia somente uma luz tênue que atravessava as cortinas cor vinho, banhando o cômodo em um profundo tom de carmesim. Ele não precisava de muita luminosidade para se locomover, sua visão lhe proporcionava a visibilidade que teria em um lugar claro. 

   Dobrado sobre uma poltrona marrom ao lado da cama, ele apanhou sua camiseta social preta e a vestiu, mantendo desabotoado dois botões próximo a gola, deixando uma faixa fina preta ㅡ da espessura de um dedo ㅡ em torno da base da garganta, e uma corrente prateada com uma árvore momiji gravada na placa oval, à mostra. Abotoou as dobras do punho enquanto atravessava o cômodo em direção a um suporte de casacos, pegando o sobretudo preto com padrões de espirais cinzentas que era tido como parte do uniforme padrão dos hogosha. Ele odiava aquela vestimenta. Do bolso do casaco ele tirou um relógio prateado com correia de couro e o colocou no pouso.

    Não precisou olhar no espelho para saber que estava apresentável o suficiente para sua missão como stalker. Passou a mão pelos cabelos e deu um longa olhada no quarto. Suas poucas coisas que haviam no dormitório disponibilizado pela Academia estavam todas em seu devido lugar, satisfatoriamente organizadas, não havia nada sobre os tatames do piso nem empilhadas em lugar algum. Tudo perfeito, exceto pela cama que estava completamente bagunçada. Kurama fez um ruído com a garganta. Ele detestava fazer a cama, mesmo que não fosse um trabalho nada difícil. Com um manear de mãos, os lençóis roxos de seda e os travesseiros de plumas de ganso se ajeitaram sobre o colchão, deixando-a impecável, como se ele nem tivesse passado por ali.

  Depois de uma nova checada no quarto, finalmente de acordo com seu gosto, ele saiu do cômodo, trancando a porta ao passar.

    Kurama tomou o seu caminho pelos corredores de piso de madeira avermelhados cobertos por longos carpetes dourados do Pavilhão da Sonoridade, o edifício que abrigava todos os funcionários da Academia, desde os hogosha da segurança, aos professores. 

   Enquanto seguia até o primeiro andar onde ficava a cozinha do pavilhão, indagava-se se deveria levar algo para Shin comer. O amigo tinha ficado com o turno da madrugada enquanto Kurama havia voltado para o dormitório para um curto cochilo, e ele duvidava que o companheiro tivesse deixado seu posto para comer algo. Decidiu, por fim, que seria uma boa levar algo para o amigo.

   Ele estava virando no corredor à esquerda quando começou a ouvir sons distantes de balbúrdia vinda das portas duplas da cozinha, o que definitivamente não era comum no Pavilhão da Sonoridade, onde um timbre mais alto que o tom normal era recebido com carrancas, principalmente durante a manhã.

   Ao chegar de frente às portas duplas, sem qualquer rodeio, ele as escancarou. Sua chegada interrompeu a discussão fervorosa dos professores ali presentes, fazendo com que eles se silenciassem e se virassem para olha-lo parado a porta.

   Kurama colocou as mãos nos bolsos de sua calça.

   ㅡ Alô! ㅡ Saudou. ㅡ Manhã animada, não?!

   ㅡ Aí está ele! ㅡ Sibilou Yoshida, o professor de Harmonia Espiritual dos Inativos, caminhando em sua direção. Kurama o observou se aproximar, dando uma longa analisada no kimono azul-turquesa soado do homem. "Não é nem meio dia e ele já está encharcado", admirou. "Talvez devesse fazer uma visita na enfermaria". ㅡ Onde você esteve?

   Kurama arqueou as sobrancelhas escuras, impressionado com a abrupta falta de cortesia do professor. O que por si só não era uma surpresa. De forma geral, grande parte dos hogosha com quem tinha contato não eram corteses com Kurama, parte por ele não ser um dos hogosha do Instituto e parte por ele mesmo não fingir simpatia quando tinha plena consciência de que não gostavam dele ali, mas geralmente eles ao menos tentavam ser cordiais. Ou fingiam ser.

IY- Ao Cair Da NoiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora