Capítulo 51

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Não sei por quanto tempo Sarah dirigiu, apenas olhei pela janela do carro e percebi que não estávamos mais andando. Quando levei meu olhar para Sarah, ela me observava com uma expressão de dúvida, provavelmente se perguntando se eu choraria mais.

— Kat... — Ela começou a falar, buscando palavras para se expressar. — Quer que eu ligue para o John B? — Perguntou, tocando minha mão. Fiz que não com a cabeça o mais rápido que consegui. — Ele me contou que vocês são muito próximos, acho que ele pode ajudar...

— Temos que seguir com o plano. — Afirmei, limpando minhas bochechas úmidas. — Não quero que tudo dê errado por minha culpa.

Eu não posso surtar agora.

Eu não vou surtar agora.

— Tudo bem chorar, Kat. — Disse, apertando minha mão de leve. — Não faço ideia das coisas que você anda passando, mas você merece desabafar. Todos merecemos.

"Não surte, Katherine", a voz dura de minha mãe gritava em minha mente sem parar.

— Tá tudo dando errado, Sarah. — Sussurei, pensando em tudo que aconteceu nos últimos dias. — Meu pai voltou apenas para infernizar minha vida e... E seu irmão é um merda. — Passei as costas de minha mão no rosto novamente, acabando com qualquer vestígio de lágrima. — Sem ofensa.

— Rafe é um merda. — Ela concordou, dando um sorrisinho de canto.— Mas ele gosta de você. — Olhei para ela com o cenho franzido.

Ela tá ficando maluca também?

— Sei que nada justifica os erros dele, mas ele não teve uma vida fácil, Kat. — Desviei o olhar para a janela, mordendo meu lábio inferior. — A mãe dele morreu quando ele era novo. Ele é muito apegado ao papai.

— A mãe dele? Como assim? — Questionei, voltando a olhar para Sarah.

— Ele não contou pra você? — Balancei a cabeça, negando. — Meu pai teve um caso com uma garçonete, uma pogue. — Explicou, falando em um tom sério. — Ela escondeu a gravidez e criou Rafe sozinha, mas, quando ela morreu, meu pai descobriu a existência de Rafe. Quando minha mãe descobriu sobre a traição, ela surtou e sumiu do mapa.

Isso tudo é loucura.

— Wheezie era só um bebê, e eu não entendia o que estava acontecendo na época. — Continuei ouvindo atentamente cada palavra de Sarah, enquanto ela falava sem nenhuma emoção. — Sei que deve ser difícil para você acreditar, Kat, mas Ward foi um pai incrível para nós duas.

— Eu acredito em você, Sarah. — Foi a única coisa que consegui falar, afinal estava perplexa demais assimilando toda a história.

— Não sou idiota o suficiente para falar que ele foi um pai bom para Rafe, porque não foi. Os rumores do filho bastardo de Ward Cameron nunca existiriam, pois foi tudo muito rápido. Mas meu pai sempre tratou Rafe de um jeito diferente...  — Eu sentia a dor em sua voz toda vez que ela falava sobre o pai. — Rafe era um bom filho. Suas notas eram altas e nunca tinha problemas na escola... Na verdade, ele era o filho perfeito. Mas o nosso pai nunca ligou para nada disso, então, com o tempo, Rafe foi ficando revoltado.

— Eu... Eu não sabia sobre nada disso. — Murmurei.

— Eu imaginei... — Falou calmamente. — Por mais que o Rafe seja um babaca, ele continua sendo meu irmão, Kat... Eu amo ele, quero que ele seja feliz. Ele merece ser feliz. — Disse com convicção. — Mas talvez essa felicidade não vá ser ao seu lado.

Descansei minha cabeça no vidro e fechei os olhos por um curto período de tempo, pedindo para que tudo isso acabasse o mais rápido possível.

A parte infantil de meu cérebro torceu para que tudo mudasse quando meus olhos se abrissem.

Mas isso não aconteceu.

— Você precisa de tempo para pensar, eu sei disso. — Sarah me lançou um sorriso complacente e continuou falando. — Mas, se você quiser minha opinião, acho que você merece alguém que te ame. Uma pessoa doce e amorosa, que faça seu coração acelerar com cada detalhe bobo. — Forcei um sorriso educado para ela, tentando controlar a vontade de voltar a chorar.

Esse era o problema.

A pessoa que faz meu coração acelerar era Rafe Cameron.

Coração burro!

Quando pensei em falar alguma coisa, o celular de Sarah começou a vibrar no painel e vi o nome de John B na tela.

Merda...

Meu celular vibrou em meu bolso na mesma hora, mas ignorei, estava concentrada demais na conversa de John B e Sarah.

Rafe Cameron Narrando 🌪

Sarah arrancou rapidamente, saindo do quintal. Depois de poucos segundos eu já não enxergava mais o carro.

— Mas que porra!

Uma série interminável de palavrões saiu pela minha boca, em uma tentativa falha de liberar minha raiva.

Eu fiz merda. Sei que fiz merda...

— Rafe... — A voz insuportável de Emy morreu no ar.

— Saiam daqui! — Gritei, passando uma das mãos no cabelo.

— Cara, você precisa de acalmar. — Topper falou baixo, dando um passo na minha direção. — Calma...

— Eu juro que se você falar de calma mais uma vez, eu mato você com minhas próprias mãos. — Sussurei, gesticulando nervosamente em sua direção. — Saiam todos daqui antes que eu faça algo que me arrependa.

Em silêncio, o grupo de idiota passou caminhando pela porta da frente e foram para seus respectivos veículos.

— Tem uma erva no seu sofá! — Barry gritou, colocando seu capacete. — Isso pode ajudar com seu coração partido.

Pensei em xingar ele com todos os nomes que eu conhecia, mas, no momento, nada disso parecia valer a pena.

Eu perdi mesmo ela?

Não, porra! Claro que não.

Subi as escadas correndo e fui até meu quarto, depois de uma pequena olhada no cômodo, achei meu celular. Enquanto procurava o contato de Katherine em minha lista, senti minhas mãos tremendo.

Obviamente, não obtive resposta em nenhuma das 7 ligações. Eu sou um idiota burro.

— Oi, Kat. É o Rafe... — Comecei a falar, depois de começar minha gravação para a caixa postal. — Merda... É claro que você sabe que sou eu. — Xinguei baixinho, me sentando na ponta de minha cama. — Kat, por favor, vamos conversar. Preciso que você entenda, eu preciso que você me dê outra chance... Eu só preciso de uma chance.

Escutei um toque leve, avisando que meu tempo tinha acabado, então liguei novamente para Katherine e voltei a falar na caixa postal.

— Você não pode me odiar, linda. — Falei com a voz fraca. — Nós não podemos acabar assim! Eu preciso de você. Não posso falar falar que você é o amor da minha vida, porque ainda não passamos uma vida juntos... Mas, se você permitir, eu quero uma vida inteira ao seu lado. Eu te amo, linda. — Um "bip" baixo soou em meu ouvido para avisar que meu tempo estava acabando novamente. — Quero me casar com vo...

Fui interrompido pela porta de meu quarto se abrindo lentamente.

— Eu não mandei vocês todos embora, caralho? — Murmurei, antes mesmo de ver quem estava na porta.

— Você está chorando? — A voz curiosa perguntou.

Eu estou chorando?

𝙎𝙐𝙉𝙉𝙔 - 𝙍𝙖𝙛𝙚 𝘾𝙖𝙢𝙚𝙧𝙤𝙣 Onde as histórias ganham vida. Descobre agora