A VIAGEM

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A VIAGEM

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A VIAGEM

Já passam bem das duas da manhã. Quase duas horas e meia de estrada, mais de duzentos quilômetros deixados para trás em uma rodovia tão silenciosa e mórbida, que tudo à minha volta parece sair de um filme de terror. A paisagem é envolta por sombras assustadoras de árvores iluminadas unicamente pelos faróis do meu carro.

A escuridão da noite noite só é quebrada pelo brilho envergonhado da lua cheia que volta e meia se esconde em um aglomerado de nuvens deixando tudo no mais profundo breu aterrorizante.

Estou tão cansado que custo a manter meus olhos abertos. As piscadelas que dou pesadamente, fazem-me balançar de um lado para outro a cabeça tentando deixá-los bem aberto para evitar uma tragédia. Se não fosse pelo falatório da minha irmã Nicole e o Rock pesado no rádio em volume exagerado que a fazia gritar quando falava comigo, com certeza, já teria dormido ao volante...

- Você está me ouvindo?!- Ela fala alto sacudindo meu braço.

- Estou! - As palavras saem arrastadas. Era para estar na minha cama, abraçado em meu travesseiro e já no décimo sono.

Mas, depois que Nicole veio dos EUA, trouxe na bagagem a paixão pelo Halloween. E junto com a sua melhor amiga, decidiram fazer um baile no centro comunitário do bairro da nossa antiga cidade com esse tema.

A molecada da idade dela adorou a novidade. Aliás, tudo que se traga de fora para uma cidadezinha de interior como Terra Nova é bem vindo! Lá a vida gira em torno do agronegócio. E não existe uma diversão tão exótica assim. Óbvio que os mais velhos acharam um absurdo trazer uma festa que aclamava "o demônio" para a cidade.

Mas Jonas, o filho do prefeito convenceu o pai do contrário. Deixou claro que a festa não tinha nada haver com cultos satânicos e coisa e tal e por fim...

Tive que levar a pivete para casa para que pudesse orquestrar seu plano. Desde que entrou na faculdade, há quase um ano atrás, mora comigo na capital. Mas, como uma filhinha mimada, sempre que quer voltar para casa tenho que largar tudo que tenho pra fazer e trazê-la. Já que, segundo minha mãe, sou o responsável por essa maluca desajuizada de dezessete anos.

- Você não está respondendo minhas perguntas! - Ela protesta batendo com força as mãos no painel do carro.

Responder o quê? Não entendo nada de festas, decorações, luzes e bandas de adolescentes? Até que idade iria essa fase? Pois ela não era mais uma criança. Mesmo agindo como tal. Não tinha a responsabilidade de uma jovem e se vestia como uma boneca de mangá...

Passei a mão pelo rosto tentando espantar o sono. Os suspiros pesados em meu peito por causa dele, doem. Peguei a garrafa de energético e tomei um bom gole. Já tem um gosto amargo de tanto tempo que está ali no console. Respirei pesadamente pensando que ainda faltam uns cem quilômetros e tinha medo de não vencê-los.

- Nica, faz as coisas como achar melhor e se tiver alguma dúvida tenta pedir para sua amiga xereta! - Tento ser o mais gentil possível. Mas sinceramente, minha paciência já está no limite.

SERENA (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora