46_ Trégua.

7.3K 1.2K 896
                                    

Minutos atrás...

ㅡ Olha, Jurema, eu sei que a gente não se dá nada bem, que eu e você temos vontade de nos matar a cada segundo e que na primeira oportunidade vamos dar um jeito de ferrar com a vida da outra, mas eu queria, humanamente, pedir que déssemos uma trégua. ㅡ Pedi assim que pisamos no shopping.

ㅡ Trégua? ㅡ Ela se virou para mim abaixando o celular que segurava.

ㅡ É. Eu to passando por coisas demais e só quero um pouco de sossêgo. Não precisamos virar amigas, é só... Nos suportarmos. ㅡ Sinceramente, eu não esperava uma boa reação de Jurema. Esperava que ela risse na minha cara ou sei lá, mas ela não o fez. A mesma me observou como quem realmente estava pensando na proposta.

ㅡ Ta, mas precisamos estipular condições. ㅡ Ela assentiu.

ㅡ Ok, você começa. ㅡ Concordei e nós voltamos a andar.

ㅡ Nem você e nem seus amigos podem me chamar de Rabanete, criatura radioativa, cara chupada ou pão amassado do diabo. ㅡ Segurei fortemente a minha risada. É uma trégua, Perola, pelo amor de Deus!

ㅡ Ok. Eu falo com eles. ㅡ Concordei.

ㅡ Agora você.

ㅡ Não dê em cima do Saulo. ㅡ Ela me olhou.

ㅡ Pow, mais vocês terminaram!

ㅡ Não interessa, essa é minha condição. Não dê em cima dele. ㅡ  Com muito custo ela concordou. ㅡ Você.

ㅡ Fala pro Pedro parar de fingir tomar susto sempre que me vir pela casa. ㅡ Novamente segurei a risada.

ㅡ Ta, eu falo com ele. ㅡ Ela assentiu. ㅡ Não tente arruinar minha vida inventando mentiras sobre mim pro meu pai ou pra qualquer outro. Não trame planos bestas pra me difamar.

ㅡ Feito. ㅡ Nós impusemos mais algumas condições e em seguida apertamos as mãos. ㅡ Acho que esse é o início de uma trégua.

Momento atual...

Vinícius, o que faz aqui? ㅡ Perguntei ainda meio em " choque ". A última pessoa que eu esperava ver na face da terra era ele. É claro que morávamos na mesma cidade, mas desde que nos formamos que eu nunca mais tive notícia dele.

Foi como um filme da sessão da tarde em que te trás nostalgia e muitas memórias de que nem se lembrava mais. Olhar para ele me fez lembrar dos dias que eu gostava dele. De cada momento ao seu lado, cada risada que demos, cada abraço, tudo. Naquela época eu me irei tanto, porque não era possível! O cara dava todos, literalmente, TODOS os indícios de que sentia o mesmo por mim, mas aí... Foi mal. Foi tudo que ele me disse.

Eu fiquei inconformada de que ele apenas brincou comigo.

Mas, olhando agora, posso perceber nitidamente que o que sinto por Saulo vai além de um simples gostar. Os sentimentos que eu nutria por Vinícius não chegam nem aos pés do que sinto por Saulo, nem um pouquinho.

Vinícius era um cara gato que me atraía. Saulo é o cara por quem sou apaixonada.

ㅡ Perola? ㅡ O garoto me analisou dos pés a cabeça e abriu um sorriso ladino. ㅡ É você?

ㅡ É o quê que tu ta fazendo aqui, Vinícius? ㅡ Fiz uma careta.

ㅡ Eu que pergunto o que está fazendo aqui, faz tanto tempo que não te vejo. Você está ainda mais linda. ㅡ Ele sorriu de novo.

ㅡ Quê que você acha que eu to fazendo aqui? ㅡ Coloquei as mãos na cintura.

ㅡ Nossa, pra que essa ignorância toda? Você não costumava me tratar desse jeito. ㅡ O rapaz começou a dar uns passos na minha direção. ㅡ Ta aqui sozinha?

ㅡ Não, to com uma... Colega.

ㅡ E será que ela vai demorar? ㅡ Ele sorriu maroto.

ㅡ Eu não sei, mas talvez ela encontre eu e o seu corpo sem vida no chão quando voltar. ㅡ Ele riu.

ㅡ Ainda brava comigo? Qual é? Eu não fiquei com você naquela época, mas nunca é tarde pra tentar. ㅡ Eu pensei em andar para trás para mantê-lo longe, mas eu só conseguiria bater nele se ele estivesse perto, então permaneci parada. ㅡ Ainda sente algo quando me vê?

ㅡ Enjôo conta?

ㅡ Vinícius? ㅡ Jurema apareceu no provador e pareceu bem surpresa de vê-lo ali. Não só surpresa, como preocupada. ㅡ O que faz aqui?

Vinícius olhou para a garota e seu sorriso idiota sumiu de seus lábios na hora. Ambos ficaram se olhando por uns segundos com um clima muito esquisito e pesado.

ㅡ Fala ai, Jurema! ㅡ Ele abriu um sorriso brincalhão. ㅡ Óh, ta de cabelo preto agora... Por que será o motivo? ㅡ Ele cruzou os braços. Seu tom era do tipo que estava zoando com a cara dela.

ㅡ O que você está fazendo aqui? Pensei que estivesse morando em São Gonçalo. ㅡ Ela disse se referindo a uma cidade perto da nossa, um pouco perigosa, devo dizer.

ㅡ É, mas eu voltei a morar aqui. ㅡ Ele respondeu.

ㅡ Que pena, estava torcendo para você levar um tiro lá ou coisa parecida. ㅡ Enquanto eles discutiam eu tentava entender o que havia rolado para eles estarem daquele jeito. A última vez que os vi juntos estavam aos beijos, o que havia acontecido? 

ㅡ Para sua infelicidade, não. ㅡ Ele respondeu com um sorriso debochado e se virou para mim.

ㅡ Acho melhor você ir embora. ㅡ Jurema passou pelo mesmo e parou perto de mim.

ㅡ Mas, por que? Eu acabei de chegar. ㅡ Ele brincou abrindo aquele sorriso que eu tanto admirei no passado.

ㅡ Porque aqui é o provador feminino, você nem devia estar aqui, afinal, por que está aqui?? ㅡ Ela o questionou.

ㅡ Vim ver se minha irmã estava aqui, mas acabei encontrando alguém mais interessante. ㅡ Ele sorriu olhando diretamente para mim. Jurema olhou para mim também ao notar que ele me encarava.

Eu estava muito, muito curiosa para saber o que havia rolado entre eles, mas também estava cansada. Toda aquela situação confusa na minha e mais a aparição dessa assombração estavam sugando toda a minha energia. Sinceramente, sentia falta do tempo que não precisava me preocupar com nada além da faculdade. Eu não tinha um pai maluco, Jurema estava longe e eu não tinha que me preocupar em me dar bem com ela, Vinícius era só uma lenda do meu passado, minha mãe estava feliz em casa e eu não precisava fingir não namorar estando namorando. Confusão do cassete, por que minha família não pode ser normal?

Balancei a cabeça sentindo que ela iria doer em breve e entrei novamente no provador para tirar aquele vestido e colocar a minha roupa de volta.

ㅡ Por que você está aqui? O que pretendia fazer? ㅡ Ouvi Jurema sussurrando.

ㅡ Eu não ia fazer nada, eu só... Não esperava encontrar com a Perola depois de tanto tempo. ㅡ Ele sussurrou de volta. Eles sussurravam igual a cara deles.

ㅡ Ta, mas... Só deixa ela em paz, ta?

ㅡ E por que?

ㅡ Por que já magoamos muito ela e eu não quero você perto trazendo as lembranças daqueles dias. Ela já está com problemas demais pra isso.

ㅡ Ué, e você agora se importa com a Perola? Tu ficou comigo sabendo que ela gostava de mim.

ㅡ Eu sei! ㅡ Ela falou um pouco mais alto no impulso. ㅡ Eu sei... ㅡ Voltou a sussurrar. ㅡ Mas, eu... A gente deu uma trégua, ok? E eu também não devo satisfação pra você, agora some e deixa a Perola em paz.

Gente, será que o refrigerante que eu bebi estava batizado? Eu ouvi mesmo a Jurema me " proteger " ?

•••
Continua...

As Regras do Amor Vol. 1Where stories live. Discover now