Capítulo Único

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As férias de verão realmente eram o marco para uma criança, que passava todo o seu tempo correndo pela casa ou destruindo alguns objetos com suas brincadeiras, que mesmo sendo repreendida pelos seus pais quando ela aprontava, logo depois os três estavam sorrindo e se divertindo em família. A filha do casal estava com seus sete anos e sendo realmente sapeca, mas adorava os momentos que passava com eles e sempre estava se pagando para seus amigos, dos momentos que tinham com seus pais.
Logo outono havia chegado e com ele trazendo muitas lágrimas. Um infortúnio havia acontecido e angústia de Lucy havia apenas começado, pois, seus pais haviam se envolvido em um acidente grave e infelizmente não conseguiram resistir e acabou a deixando.
O choro e os gritos enquanto via o sepultamento dos seus pais. O desespero em não poder ouvir mais suas vozes ou seu rosto, além do medo de quando ficasse mais velha, não conseguiria lembrar de como era ter eles por perto e as risadas que tinham com eles.
As lágrimas dançavam em seu rosto alvo. Seus olhos já estavam inchados de tanto chorar e infelizmente, aqueles que ela considerava como família, já estavam sepultados próximos a pequenas árvores que estava perdendo as suas folhas e mostrando que logo inverno estava chegando.
Em seus túmulos, a pequena criança deixava um buquê de jacintos para seus pais. As flores tinham como significado profunda tristeza, mesmo que tivesse uma beleza exótica, pois, o formato das suas pétalas são um pouco diferente das demais plantas.
O ato de deixar as flores nos sepulcros semanalmente, sempre substituindo quando os antigos buquês murcharam. Ela lembra que no dia do enterro as folhas secas das árvores em volta despencavam e encontrava o chão com graça, mas ainda sim, parecia que mundo à sua volta, se compadecia da sua tristeza e entrava de luta com ela.
Depois de sepultar os seus pais, a pequena Lucy teve que ir para um orfanato, onde acabou passando três anos sob seus cuidados, até que uma família bondosa se encantou com a menina e resolveu tê-la sob seus cuidados. No início não era tão atraída com adoção, principalmente por ter que se mudar de escola e perder os poucos amigos que ainda tinha. Demorou para ela aceitar, mas depois de conversar com seus futuros responsáveis, ela compreendeu e aceitou a nova mudança.
Na nova escola, infelizmente jovem não consegue criar laços de afetos com as pessoas, não que os alunos não tentassem se aproximar, mas com a timidez dela, seu jeito retraído e com tudo que tinha passado nos últimos tempos, acabou que ela foi se fechando cada vez mais ao mundo. Com o tempo, até as pessoas mais insistentes, acabavam apenas desistindo.
Apenas uma pessoa não sai de perto de Lucy, mesmo que fosse alguém que realmente desejava que ele se afastasse. Loke era uma criança alegre e carismática, além que adorava chamar atenção de Lucy com brincadeiras, como jogar bolinhas de papéis em sua cabeça, insistir para ela participar dos seus grupos em trabalhos ou em jogos, além de sempre fazer palhaçada e tentar fazer que ela sorrisse, nem que fosse um pouco.
Ela realmente tentou afastar ele de sua vida, mas felizmente ele não se assustou com seu jeito frio e quando percebeu, já estava se socializando com ele e se divertindo juntos, mesmo que não gostasse de admitir.
O tempo foi passando e mesmo tendo apenas um amigo, ela ainda era apagada para as outras pessoas, não demorando muito para começar a sofrer bullying. Realmente, não ter uma vida social estava começando ficar cada vez mais complicado, mesmo que Loke tentava confortá-la. Ele era bem honesto sobre seus sentimentos e contava o quanto gostava da mesma, sempre a elogiando e dizendo o com importante ela era para o mesmo, mas infelizmente, tais palavras não conseguiam atingir mais o seu coração despedaçado.
Para acabar com toda pressão, no seu segundo ano do ensino médio, uma nova Lucy pode ser vista. Ela se forçava a estar em grupos e atividades sociais que nada atraíam, apenas para começar a se encaixar no mundo dos seus opressores. Lucy tentava mostrar uma personalidade mais extrovertida, indo em festas, aceitando bebidas alcoólicas, mas seu maior arrependimento foi começar um relacionamento com alguém que não amava.
Não espere que ela tenha namorando o capitão do time de futebol, como aquele clichê em livros. Não, sua namorada não praticava nenhum tipo de esportes e também não era a pessoa mais inteligente de sua turma, esses papéis pertenciam ao seu velho amigo Loke.
O seu relacionamento era totalmente conturbado, onde sempre se obrigava a fazer tudo que lhe era errado ou contra, apenas para agradar sua namorada e seus amigos. Fazia tudo aquilo apenas para não ser taxada como invisível e não estava na mira dos seus amigos, que outrora abusavam psicologicamente da mesma. Tudo aquilo, apenas para poder encontrar um pouco de paz.
Seu namoro era extremamente tóxico, parecia que Lucy não tinha vida ou voz em tudo aquilo, que apenas vivia para fazer as vontades de sua namorada e nada mais. Sua vida estava totalmente uma bagunça e não buscava apoio de ninguém, nem mesmo sua atual família, que já estavam começando a se preocupar. Nem mesmo aquele que ela considerava um amigo sabia que estava passando.
Aquele momento era tão frio e difícil, como qualquer inverno acaba sendo. Muitas lágrimas já haviam sido derramadas e nenhuma esperança se mostrava em seus olhos castanhos, que haviam perdido os brilhos há muito tempo.
A paz que buscava, não se mostrava tão próxima. Muitas noites ela se perguntou se continuava vivendo como uma pessoa apagada e fria com os outros, pudesse ser melhor que o momento que estava tendo. Vários questionamentos passavam em sua mente e cada vez mais se arrependia das suas escolhas.
No meio de todo aquele tempo terrível, acabou que o último prego do caixão foi pregado e Lucy ficando totalmente sem chão. Sua namorada, não era uma santa, afinal abusava muito da mesma, mas quando ela tentou forçar Lucy a coisas terríveis, acabou sendo um choque duro de realidade. Depois de tudo, finalmente ela conseguiu ter forças para correr em direção ao local mais seguro que tinha naquele momento, que era os túmulos de seus pais.
Infelizmente não havia nenhuma nuvem no céu ou uma tempestade, para que cobrisse e escondesse as lágrimas que ela derramava em frente aos sepulcros, mas ela não ligava. Lucy confessava os seus sentimentos e tudo que estava entalado em sua garganta, enquanto estava ajoelhada em cima dos jacintos que seria para seus pais.
Sua surpresa foi quando sentiu os braços quentes lhe abraçando naquele momento de profundidade. Uma fagulha de esperança nasceu, pois por um momento achou que sua namorada teria aparecido, mas acabou surpresa ao ver Loke ao seu lado e lhe oferecendo um apoio. Ela não esperava por ele, pois acreditava que havia acabado com a amizade entre eles.
Loke lhe ofereceu sua atenção e carinho para aquele momento difícil, onde escutava tudo que ela sentia. Não havia julgamento em seus olhos, avelãs, apenas preocupação com ela e querendo ajudá-la de alguma forma.
— Loke, o que faço? Não aguento mais tudo isso. Sabe, eu até mesmo pensei em desistir de tudo e me apagar desse mundo. — Lucy disse com honestidade e pela primeira vez em anos, estava abrindo e revelando os pedaços do seu coração.
Ela sentiu ser abraçada novamente e as lágrimas escorrendo cada vez mais em sua pele, enquanto ela sentia que estava molhado completamente a camisa preta do seu amigo, mas naquele momento, ela apenas queria ser honesta consigo mesma.
— Mereço tudo isso? — questionou ela entre as lágrimas.
Loke apertou um pouco o abraço e mordeu seu lábio inferior.
— Claro que não. Foi apenas terrível coincidência. Eles são pessoas idiotas, que apenas querem mostrar que estão em uma situação melhor, mas no fim, para se sentirem melhores consigo mesmo? E no final acabar descontando em terceiros. Não precisa se martirizar por tudo isso, você não tem culpa, apenas queria poder ter paz consigo mesma e nem isso conseguiu.
Mais lágrimas começaram a escorrer dos olhos achocolatados dela, enquanto apertava ainda mais o seu abraço no ruivo. Demorou alguns minutos para que ela conseguisse parar com suas lágrimas e respirar com mais tranquilidade, mas em nenhum momento se afastou de seu amigo.
— Por que veio atrás de mim? Fiz coisas terríveis junto com eles. Tinha certeza que havia te machucado. — perguntou ela com a voz trêmula.
— Porque sabia que aquelas eram palavras vazias e não era a Lucy que conheci anos atrás. Você poderia até ser fria, mas nunca ofenderia alguém e se acharia por isso. — disse ele. — Além disso, sempre que dizia as palavras que não acreditava e era apenas para se encaixar, os seus olhos se tornavam mais opacos e também nunca conseguia observar a pessoa.
— Você sempre está me observando.
— É claro, afinal, você é a pessoa que conquistou o meu coração.
Os olhos acastanhados se arregalaram por um momento e novamente veio aperto em sua garganta como a vontade de derramar mais lágrimas, mesmo que não tivesse naquele momento.
— Eu não mereço isso. — respondeu ela quase em um sussurro. — Não sou uma pessoa digna de amor, afinal eu não quero te decepcionar.
— Todos são dignos de amor, Lucy. Não precisa ser tão dura consigo mesma, apenas basta admitir que é falha como qualquer ser humano. Não me importo em me decepcionar nesse momento, pois, apenas quero ver seus sorrisos mágicos e seus olhos brilharem para um novo começo. Apenas se levante e não ligue para todos ao seu redor, apenas busque sua felicidade.
Loke se afastou um pouco dela e ajudou a arrumar os fios loiros de seu cabelo, para que assim pudesse observar completamente o seu rosto alvo. Ele não ligava naquele momento para os olhos vermelhos e inchados, por causa do choro, ou seu nariz estava escorrendo um pouco.
Ela fungou na tentativa desesperada de fazer seu catarro parar de escorrer e voltar para seu nariz, uma medida nojenta? Sim, mas naquele momento ela não estava pensando em ser uma dama e se mostrar perfeita. Loke já havia visto o seu lado ruim, mostrou outro não seria nada de mais.
— Obrigada. — agradeceu enquanto tentava limpar suas lágrimas ou qualquer outra coisa que tivesse em seu rosto naquele momento.
Loke sorriu e ajudou ela a se levantar completamente, como também arrumar alguns fios de cabelos que haviam se bagunçado minutos atrás. Ele ofereceu levá-la para uma lanchonete próxima, para que comprasse um pouco de suco de maracujá e pudesse conversar mais.
Algumas semanas se passaram e o inverno já havia se findado, para que a primavera pudesse finalmente começar e marcar um novo começo não só para vegetação, mas como também para Lucy.
Ela caminhava tranquilamente em direção aos túmulos de seus pais, enquanto carregava um buquê médio de íris. Era a primeira vez que levava para seus pais flores que não fossem os jacintos, mas aquilo era proposital, pois, assim como o ramalhete que carregava era um recomeço para a loira.
Delicadamente colocou o buquê sobre o sepulcro de sua mãe e depois se virou em direção de Loke que carregava outro ramalhete, para depois colocar no túmulo de seu pai. Ela fechou os seus olhos e passou alguns minutos contando para sua família as novas coisas que havia lhe ocorrido. Lucy não falava em voz alta, pois, queria que aquele momento fosse apenas com ela e eles.
Ela contou para eles que finalmente havia dado um fim em todo aquele ambiente tóxico que lhe cercava. Não tinha seus supostos amigos que ligavam apenas para aparência e nem tentava entender seus sentimentos, medos e desafios, como sua namorada que acabou sendo tão pior que eles.
Foi complicado acabar com tudo aquilo, ainda mais com a pressão que eles colocaram sobre ela, dizendo que tudo aquilo era uma perda de tempo e que era a pior decisão da sua vida. Terminar o relacionamento foi mais complicado, pois, ela não agiu nada bem com toda aquela situação e até tentou atacar Lucy, que apenas revidou com um belo gancho esquerdo.
Não se pode dizer que as coisas haviam se ajeitado como passe de mágica e que sua vida seria como um conto de fadas, mas as coisas estavam caminhando. Lucy estava sentindo paz interior e realmente gostava desse alívio.
Os seus olhos castanhos se levantaram e observaram as mesmas árvores que marcou cada fase de sua vida, desde o momento que entrou naquele cemitério. Muitas vezes ódio completamente, pois parecia que estavam debochando de sua dor. Agora olhava para elas com apego, porque elas estavam tendo um recomeço como Lucy, já que seus galhos estavam cheios de brotos e algumas flores que haviam se revelado ao mundo.
Um sorriso foi desenhado nos lábios avermelhados. Ela respirou profundamente e depois voltou sua atenção para seu amigo que havia dado uns passos para trás, para que ela tivesse um momento mais privado.
Se contasse para pequena Lucy, que o garoto que atormentou um pouco sua infância acabaria sendo seu anjo da guarda, ela teria negado e informando que Loke não poderia ser esse tipo de pessoa. Ela estava feliz por ter se enganado.

— Obrigada por me acompanhar. — agradeceu ela se levantando com cuidado.
— Sabe que eu faria qualquer coisa por você. — respondeu ele se aproximando para ajudá-la.
Lucy sentiu seu rosto esquentar e mordeu seu lábio inferior. Ultimamente, ela estava sentindo muito a sensação de bater de asas em seu estômago. Uma sensação agradável e um pouco incerta, mas ela estava gostando.
— Vem, vamos ao shopping e tomamos um bom sorvete. — disse ele colocando a mão esquerda dela em volta de seu braço direito.
— Passamos na livraria? — perguntou ela com os olhos brilhando.
— Com toda certeza. Passamos lá um pouco antes de ir na sorveteria. — disse com um sorriso.
— Hm...Vou comprar uma enorme casquinha de baunilha! — Lucy falou com um enorme sorriso e abraçando o braço esquerdo dele.

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Gostaria de agradecer a @BunnyG__ por ter me dado força para fazer esse ship e não me convencer que matar protagonista não é uma boa solução. Obrigada.

Essa história já foi postada no Spirit com mesmo nome, além do meu perfil lá também ser @TaliaEnd

A história está vinculada com projeto @FTU ( no Spirit).

Agradeço pelo incrível trabalho que foi essas capas, que realmente sempre me surpreende. Muito obrigada @Earthngravity novamente pela capa!

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