Era verão. Eu sei disso pois lembro do barulho e da brisa abafada do ventilador. já se passava das 17:00, eu havia acabado de tomar meu remédio quando minha mãe veio me avisar que alguém me esperava à porta.
Era ele.
- O que você quer, otário? - perguntei esperando um xingamento como resposta
-Eu preciso te mostrar algo.- ele respondeu sério.
“Tem alguma coisa acontecendo” pensei quando percebi suas mão agitadas e seu maxilar contraído. A memória de Pennywise veio na minha cabeça, mas fiz questão de esquecer isso.
Avisei para minha mãe que ia sair. O segui, em silêncio, até a ponte dos beijos.
O que estamos fazendo aqui? - cheguei a pensar que era uma pegadinha, até perceber que ele olhava sério para frente. Segui seu olhar e logo senti uma euforia instantânea.
Nossas iniciais estavam gravadas ali. Parecia que a Terra tinha parado de se movimentar. Só me dei conta daquela realidade quando ele me beijou. As borboletas visitaram meu estômago e eu deixei de pensar na quantidade de germes que devia ter na boca dele. Não senti medo, o palhaço estava morto.
Nós continuamos nos encontrando lá todos os dias depois da escola. Depois de mais ou menos um mês com aquela rotina, ele me pediu em namoro e assim me fez o garoto mais feliz daquela cidade.
Eu me sentia bem, depois de muito tempo me sentia uma pessoa normal, pena que estragaram isso
***
1990. Mesmo que a internet já estivesse sido popularizada, nós, dos losers, gostávamos de se comunicar por cartas, e foi esse fator que acabou com nós. Em um domingo de manhã, Beverly disse que alguém mandou uma carta para ela em meu nome, dizendo que ninguém podia ser amigo do Richie além de mim e com mais um monte de xingamentos para todos ali. Eles ficaram em choque, mas Ben foi o que mais ficou chateado, acho que ele nunca teve amigos antes. Tive que usar minha bombinha de asma algumas vezes.
O grupo acabou se quebrando, todos se afastaram, principalmente de mim.
— Você não podia ter feito isso, eddie! meus amigos eram tudo pra mim!- richie gritava comigo mais uma vez.
— Mas cara, não fui eu! você tem que acreditar em mim!
— Você deixou nossa relação estragar nossa amizade! Estou cansado disso, Eddie. nem tudo é sobre você, sabia? — ele ajustou os óculos e limpou a testa, seus olhos estavam cheios de lágrimas. Nunca mais fui o mesmo depois daquelas palavras.
Os dias se arrastaram como meses. ninguém mais falava comigo. a ideia de saber que alguém estava conspirando contra mim martelava na minha cabeça. eu passei mais tempo dentro de casa do que de costume — era casa-escola, escola-casa. já que não tinha mais amigos, podia focar em tentar descobrir o que aconteceu.
Peguei meu livro de geografia de Derry e folheei algumas páginas. o que eu não esperava era encontrar uma página com uma fotografia de página inteira de um balão vermelho com a mensagem: "não achou que tinha acabado, não é, Eddie?"
Sentia que meu coração ia sair pela boca. “a gente tinha matado aquele desgraçado”. não tinha mais amigos. o que eu poderia fazer?
Bem, com medo, eu saí de Derry, fiquei rico e me casei. As minhas memórias foram esquecidas, mas eu continuava infeliz.
