A Primavera que chegou com você

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Eu estava num labirinto grande e perigoso, perdida nas minhas próprias inseguranças e medos, quando vi você pelo caminho; caridosamente se ofereceu para me ensinar a saída do gigante emaranhado de escolhas que eu poderia ter.

Durante todo o tempo em que caminhei sozinha, as paredes do labirinto eram sem graça, não havia céu e só conseguia ouvir o som dos meus próprios passos. Já com você, tudo coloriu: você segurou a minha mão com o calor da sua pele e entrelaçou os seus dedos nos meus, como se tivessem sido feitos para nunca se soltarem; e foi tão reconfortante que não me afastei um instante sequer.

De repente, as paredes tomaram formas, entramos por uma porta vermelha e estávamos numa sala de música: você me mostrou o seu dom com piano e as suas músicas prediletas, que incrivelmente também eram as minhas. E eu cantei enquanto você tocava, porque a sua música encostou no meu coração perto o suficiente pra te mostrar o que nunca mostrei a ninguém; você sorriu pra mim da forma mais sincera que já vi alguém sorrir.

Saímos e entramos por diversas salas enquanto procurávamos uma saída.

Aprendi quatro poemas novos -ou seriam cinco?- e nunca mais errei o ponto de fazer o macarrão, quando você me levou pra um jantar à luz de velas. Ouvi todos os seus segredos quando uma das portas nos levou a um imenso parque de diversões e subimos por uma roda gigante; nessa hora o frio gelado nos soprava, e você me olhava como se fosse uma estrela. Talvez até mais do que isso.

E quando estávamos lá no topo, a roda congelou, pra que você me olhasse e tirasse o cabelo do meu rosto, me tocasse com uma das suas mãos e se aproximasse, devagar, até me beijar.

E, mesmo quando achei que nunca mais fosse acontecer, meu coração acelerou e me senti estranhamente feliz, com um misto de ansiedade e desejo. Beijei você de volta e nada nunca havia sido tão bom quanto aquele momento, que me trouxe verdadeiramente o que nunca mais achei que teria.

E nosso caminho foi muito mais longo: viajamos por lugares incríveis, te contei os meus segredos e medos, mostrei as minhas cicatrizes, textos e letras de músicas inacabadas; deitamos na grama do jardim e olhamos as estrelas; nos beijamos na praia e no mar, com gosto quente de sal.

-Te levo pra conhecer qualquer uma daquelas estrelas. -você me disse, quando o seu rosto bronzeado era coberto pelo seu cabelo castanho emaranhado. Poderia te olhar para sempre sem me cansar.

-Não preciso conhecer as estrelas quando tenho você, que é tão mais interessante. -Sorri e virei o seu rosto pra mim, que me olhou delicadamente e com uma interrogação nos olhos, se aproximando devagar.

O caminho jamais teria sido tão incrível sem você.

E quando chegamos ao final, empurramos uma portinha azul, que nos levou finalmente ao lado de fora. E lá, havia uma imensa árvore florida em um jardim perfeito.

Um tapete branco, convidados e você: no altar, a minha espera. Eu estava com um vestido rodado e com renda indo em sua direção; era então o esperado final, e feliz. Quero dizer, o caminho com você nunca me levou a um fim, afinal: era a eternidade.

O inverno, o outono e o verão se passaram enquanto estive naquele vasto labirinto, mas a primavera foi nossa e nos trouxe todas as estações de brinde, por uma vida inteira.

Que o inverno volte e que eu sita frio outra vez, dentro do seu abraço; que o verão retorne e a gente se beije na piscina de um hotel caro; que o outono venha e você pegue uma flor do chão, pra colocar entre a minha orelha e cabelos.

-Onde estávamos mesmo? -Você me abraça por trás enquanto corto uma cebola na cozinha.

-Você ia me ensinar a cozinhar bife à milanesa! -Me virei e te encarei por um segundo, e no instante seguinte, você me enrolou passando os seus braços pela minha cintura e acariciando todos os pontos da minha pele.

Largamos a comida e nos beijamos, caindo no sofá e esquecendo do mundo.

Estava completamente feliz. Obrigada, Primavera.

As Estações em que Você me LevouWhere stories live. Discover now