Tambor ▸ parte 1

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Nossos instrumentos estão ali e passamos o restante da tarde tocando músicas aleatórias e as nossas. Acho que consegui tirar um pouco a cabeça dele do programa.

Mas quando a noite chega, ele não tem outra opção além de tentar. Agora, não precisando mais deixar o Chuck "sozinho" com as meninas, é a nossa chance de conhecê-las um pouco melhor. E claro que quero fazer isso. Vai que ele acaba escolhendo alguma delas, eu preciso de todas as informações possíveis para ajudar o meu amigo.

Claro que eu já tinha, pelo menos, uma noção de quem elas são e o que faziam. Nós tínhamos escolhido em conjunto, olhando as fotos, vídeos e ficha de inscrição delas. Só que claro, que quando nos encontramos pessoalmente, a coisa é sempre diferente.

A noite está fresca, e no canto de olho, vejo o Chuck tomando o seu segundo copo de bebida. Seus ombros ainda estão tensos e os olhos perdidos, mas pelo menos, ele está sorrindo um pouco mais.

Ficamos em turnos para sempre ter alguém próximo a ele durante as gravações para não ficar óbvio o estado apático dele. Estou esperando o bartender terminar de fazer a minha bebida, quando vejo alguém se aproximar de mim. É uma das candidatas.

— Oi — saúdo ela com um sorriso de praxe e girando levemente o corpo para ficar de frente a ela.

— Olá — ela responde tranquila e bate com o dedo levemente no tampo do bar, para chamar a atenção do bartender que está de costas, ainda preparando a minha bebida. Quando o rapaz vira, ela pede uma taça de vinho.

É completamente estranho eu me fixar tão atentamente em seus dedos delgados.

E ainda mais estranho é eu estar aqui do lado de uma mulher linda, em silêncio e não sentir a necessidade de puxar assunto, ou flertar com ela. O silêncio e o sorriso discreto que ela me oferece é suficiente.

— Por que você tem uma tatuagem de um chapéu num lugar tão escondido? — não tinha percebido que ela tinha virado para mim e está encarando a tatuagem mais delicada que eu tenho.

Olho para o desenho discreto, com tinta clara que está marcado em minha pele. Normalmente essa é uma das minhas tatuagens que ninguém presta muita atenção, já que as outras que cobrem meus braços são mais chamativas.

Só que aquilo não é um chapéu.

— Não é bem isso que ela é, na verdade...

— Por favor, não precisa me explicar. Estou apenas brincando com você. Claramente é uma jiboia engolindo um elefante — ela abre um sorriso tão brilhante que acho que minha mente deu um giro em sua órbita.

Sei que muitas pessoas possuem essa referência sobre o livro do Pequeno Príncipe, mas é sempre uma felicidade encontrar alguém pessoalmente. Acho que me sorriso entrega o quanto fiquei feliz por escutar aquilo.

— Tenho um sobrinho. Já li tantas vezes essa história que sou capaz até de recitar partes do livro sem nem ao melhor olhar — ela se explica ainda sorrindo.

— Ganhei o livro da minha tia. Eu já não era tão criança, mas fiquei encantado com a história. Mas foi o suficiente para despertar o meu interessa na leitura — digo, passando o dedo suavemente sobre a tatuagem.

— Por isso então que você a marcou no seu corpo — ela apoia o queixo na mão direita e sustenta seu olhar. — Eu lembro de ler algo falando que você gosta muito de ler, mas confesso que pensei que isso fosse estratégia sua para pagar de culto. Sinto muito por isso.

— Imagina! Acho que provavelmente a maioria das pessoas devem ter o mesmo pensamento que o seu. E ultimamente, com a agenda corrida da banda, eu realmente diminuí meu ritmo de leitura, mas quem sabe aqui seja uma boa oportunidade para colocar pelo menos as leituras que estou mais ansioso em dia! — me surpreendo por não mentir, nem suavizar a verdade para ela.

O que Aconteceu nos BastidoresWhere stories live. Discover now