O Téo é uma pessoa admirável. Ele é divertido e honesto. E, como se isso não bastasse, é lindo. Mas é um trabalhador compulsivo e esse é o seu defeito mais significativo.

Vai ser um tanto constrangedor, na festa, ficar me esquivando das pessoas, o tempo todo me interrogando sobre "o casamento", como se eu estivesse desesperada acendendo velas a Santo Antônio para me casar com o Téo. É, vovó Olga tem razão quando diz que a paciência é a maior das virtudes!

Desligo meu computador, me despeço de todos no escritório e vou para casa. Quando chego ao meu apartamento Capitu me espera abanando o rabo, como sempre. Matamos, rapidamente, as saudades e prometo a ela muitos passeios pela praia.

Capitu tem quase três anos, mas ainda age como filhote, é extremamente ativa e amorosa, minha melhor companhia. É predominantemente branca, mas com as orelhas e as patas traseiras pretas. Foi através dela que conheci o Téo.

Eu estava correndo no calçadão da praia de Boa Viagem quando ela atravessou a avenida assustada e acabou sendo atropelada por uma criatura numa moto que nem se deu ao trabalho de parar. Ela devia ter poucos meses de vida, ainda tão pequena.

Foi aí que o Téo, que estava passando e viu tudo acontecer, parou o carro e nos levou à emergência veterinária. No início eu até tentei encontrar um lar para ela, mas, aos poucos, ela tomou conta da minha casa e, quando eu percebi, ela já tinha coleira com seu nome e havia um estoque de ração para dois meses no meu apartamento. Unidos por um bom pretexto, eu e Téo nos aproximamos e começamos a namorar.

Arrumo uma mala generosa, afinal devo ficar pelo menos uma semana na praia. Isso se eu conseguir parte das férias com o Mendes.

Ricardo Mendes é o meu mentor profissional, e é o chefe de arquitetura e urbanismo do escritório. Ele é sócio da Paula Baracho, a chefe da área de design e interiores. Eu gosto do meu trabalho, mas às vezes tenho vontade de montar um escritório meu... Outras vezes quero largar tudo e estudar engenharia na Alemanha. Assim, sigo trabalhando para eles na Mendes & Baracho Arquitetura.

Acho que não será difícil convencer o Mendes. Ele ficou muito satisfeito com a minha última versão do hotel que estamos projetando para ser construído na praia do Paiva. Confiante, envio os últimos emails de trabalho, um para o cliente, outro para o chefe e organizo minhas roupas.

Deixo Capitu no banco de trás do meu Mini Cooper conversível vermelho e seguimos viagem. Tudo tranquilo na estrada, embora estejamos no verão. Deixo o rádio tocando no volume máximo e piso no acelerador. Capitu dorme tranquila, alheia à minha performance em dueto com Bob Dylan.

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Quando estaciono, Fausto aparece para me dar boas-vindas.

- Boa tarde, Olívia!

- Olá Fausto, tudo bem? Onde estão todos, digo, todas as pessoas conhecidas? - pergunto surpresa com a quantidade de gente andando por todos os lados.

- Seu pai foi dar uma volta de barco com Davi. Dona Catarina e Roberta estão em reunião com a cerimonialista.

- Vovô e vovó não chegaram ainda?

- Ainda não, Dona Olga ligou há pouco, pediu para avisar que eles só vêm amanhã à tarde.

- Obrigada, Fausto, eu vou subir para me instalar no quarto, você poderia levar Capitu e ver se ela está com sede?

- Claro, Lili! - ele pega a guia de Capitu e a conduz a caminho do gramado.

Fausto deve ter cerca de cinquenta anos. Ele trabalha para os meus avós há muito tempo na casa em Toquinho. Para mim ele é um verdadeiro guardião dos animais. Nunca vi qualquer animal repelindo-o, até dos pássaros ele consegue se aproximar.

Subo para o meu quarto e abro a janela que dá para a área de trás da casa, onde fica a garagem e um grande gramado arborizado, sendo a mais frondosa das árvores, a minha.

Digo que é minha porque vovô Aurélio plantou a figueira em homenagem a minha mãe quando vovó Olga ficou grávida, e, assim que eu soube desse fato, devia ter uns sete anos, pedi a árvore de presente de aniversário, e mamãe me deu.

Quando olho em sua direção vejo a minha casa de madeira, no alto da figueira e Capitu corre feliz. Ouço o alerta de nova mensagem me lembro de telefonar para Téo avisando que cheguei. A mensagem é de Roberta perguntando a que horas devo chegar, acho que Fausto não avisou que eu já estou aqui.

Retorno para Téo, desligado. Eu deveria saber que ele tem mania de me pedir para que eu lhe telefone quando sabe que vai desligar o celular. Parece que faz de propósito. Estou cansada de me frustrar em relação a ele. Desisto. Preciso resolver nossa situação assim que voltar a Recife.

Mas agora vou aproveitar o tempo que tenho aqui. Deixo o telefone no quarto, coloco um vestidinho florido confortável e desço para dar uma volta na praia com Capitu.

No terraço, mamãe está se despedindo da cerimonialista, e eu vou cumprimentar minha cunhada:

- Oi Robertinha! - digo, abraçando-a.

- Oi Lili! Achei que você só viria à noite! Onde está o Téo?

- Ele não vai poder vir, está trabalhando, para variar - Quando respondo fingindo estar abatida, percebo que, na verdade, me sinto mais leve desde que ele confirmou que não viria.

- É uma pena - ela diz - acho que seus avós ficariam muito contentes com a família toda aqui - completa.

- Mas a família inteira vai estar aqui - digo sem pensar e imediatamente percebo que falei demais. Roberta é como uma irmã para mim, muitas vezes já foi minha confidente, mas eu não tinha intenção de comentar sobre minha atual situação com o Téo antes de ter resolvido tudo com ele.

- Aconteceu alguma coisa? - ela pergunta.

Hesito um pouco, mas acho que vai me fazer bem colocar para fora o que estou sentindo a respeito dele. Sento-me na espreguiçadeira à beira da piscina e ela me acompanha.

- Na verdade foi o contrário - denuncio. - Nunca acontece nada, Beta! O Téo está sempre muito ocupado. Eu também estou, é verdade, mas às vezes parece que ele não faz o menor esforço para a gente se encontrar. Seus pacientes sempre têm prioridade. Estou farta de tantas desculpas. Estou pensando seriamente em terminar de uma vez por todas essa estória quando chegar a Recife. - Digo exasperada.

- Tenha calma, Lili, às vezes são só momentos difíceis, alguns desencontros que só precisam de paciência e amor para serem ajustados. - Ela diz em tom de conselho.

- O que eu não sei é se ainda existe amor para salvar o que quer que seja, porque minha paciência já está esgotada - quando termino de falar sinto uma leveza nas costas, como se fosse real e possível seguir em frente sem a segurança que o Téo costumava me dar.

Mamãe se aproxima de nós e pergunta o motivo da minha irritação. Cansada de falar no assunto Téo, começo a tagarelar sobre a decoração da festa e toda a movimentação dos fornecedores chegando.

E ela, que simplesmente ama organizar qualquer tipo de reunião, está exultante com essa festa. Isso é suficiente para que ela mude o foco e comece a listar, cheia de entusiasmo, todos os detalhes que preparou.

Seguimos até uma das mesas que fica à beira da piscina e sentamos, as três, para discutir se fotos com os netos e bisnetos serão feitas antes ou depois da cerimônia. Depois de algum tempo, começo a sentir que estou me esquecendo de alguma coisa e um latido ao longe me recorda: Capitu!

- Fausto, cadê a Capitu? - Pergunto quando ele se aproxima para indicar à decoradora onde mamãe está.

- Já faz um tempinho que ela saiu correndo em direção à praia. Não tive como ir busca-la, Lili - ele diz aflito por conta dos afazeres redobrados para a festa.

- Não tem problema, Fausto. Vou procurá-la, você está com a guia? - Ele me entrega a guia e eu me levanto me despedindo de mamãe e de Roberta.

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Na chuva com BenjaminOnde as histórias ganham vida. Descobre agora