O Sequestro do Príncipe

Capítulo 01

— Assustador, você diz, Billy boy? — o maior perguntou, seus olhos azuis abrindo-se como se não acreditasse no que ouviu. – Como ele é?

Os dois rapazes à porta da sala da caldeira do navio conversavam em tom conspirador. Eram tão opostos quanto o sol e o dia, chegava a tornar cômica a amizade que os unia.

Billy esticou-se na ponta dos pés e alcançou a orelha do loiro ao seu lado, em sussurros contou sua pequena aventura:

— Quinn, eu nunca vi um rapaz assim, ele é tão lindo quanto as sereias das canções que Rue canta. Até o cheiro dele era... maravilhoso... — seu rosto avermelhou-se pensando se devia ter confessado a última parte — Será que todos da realeza são assim? 

Ele retornou para a postura inicial, os dois se olharam por um instante, pensativos, e então caíram em gargalhadas nervosas.

— Billy, você inventa muita m-... —

Sons de passos os interromperam, logo ambos tomaram uma postura séria apressadamente.

Esses passos pesados ambos já conheciam, tão familiarizados estavam com as botas de couro que hora ou outra os chutavam para que voltassem ao trabalho e parassem de conversar.

Era o capitão do navio, Law, o qual, assim que adentrou no estreito corredor, começou a falar, avaliando a situação.

— Algum problema durante a minha ausência, rapazes?

– Não, senhor. — respondeu Quinn.

— Bill, você levou água para o nosso convidado como eu te disse?

A cabeça castanha do pequeno de dezesseis anos acenou energeticamente. Quinn o cutucou com o cotovelo.

— Sim, senhor! — Billy apressou-se a responder. — E somente eu entrei, senhor, assim como foi mandado.

Leader assentiu em aprovação.

Após a incursão noturna para pegar a jóia preciosa do rei, retirou-se para remover as roupas que usara durante a pilhagem e descansar. Deixara seus dois intendentes pessoais de guarda.

Law, sem muita cerimônia, entrou na pequena sala da caldeira, um local quente e escuro, onde ficavam os tripulantes quando precisavam de punição.

Puxou um barril vazio para mais próximo e sentou-se nele, as longas pernas cobertas na calça escura esticadas à sua frente despreocupadamente.

Sorriu observando a cena, era uma situação divertida do seu ponto de vista.

Como estava sentado, apenas precisou esticar-se para alcançar o rosto do homem de cabelos claros.

— Se me morder, vai perder os dentes — ameaçou, seu sorriso ainda intacto.

Segurou o queixo do príncipe e com a outra mão removeu a mordaça suja. O soltou em seguida, limpando as mãos nas laterais da calça.

— Imagino que Vossa Alteza nunca frequentou nada como o nosso quarto de honra, huh? — a ponta de sua bota encostou no joelho do príncipe, o instigando a falar.

Anthony tossiu nervosamente ao ter a boca liberada. Quando olhou para cima seu olhar estava vermelho de ódio.

— SEU MERDA! Que pelo menos usasse  um pano limp-... Humf — Enquanto vociferava para o alto homem, Tony teve a mordaça enfiada de novo em sua boca.

O cheiro pungente de suor ácido e odor de peixe voltando às suas vias o encheu de náuseas, dessa vez conseguiu cuspir o pedaço de pano.

— UGH..!! Eu... Ah! — sufocou súbitamente com o choro entalado, lágrimas começaram a descer pela sua bochecha de pele dourada. Ainda de cabeça baixa, uma pergunta escapou por entre os dentes cerrados — Por que?

— Sem gritarias, ou aquilo — Law apontou para o chão onde estava o pano babado — vai voltar para onde estava.

Não tinha nenhuma satisfação pessoal em humilhar o garoto, mas não podia deixar qualquer um gritando consigo em seu próprio navio.

Anthony engoliu em seco. Respirou fundo algumas vezes antes de falar novamente.

— Você tá com quem? Ziepres? Rhuyalle? — O menor levantou a cabeça, avaliando o rosto do outro sobre os reinos que mencionou. Nenhuma reação. — Quem tá te pagando? Papai pode pagar o triplo se me devolver! E eu nem...

"Pfft!..."

Uma risada abafada ressoou o aposento. Wade cobriu a boca para impedir que o riso o tomasse.

— Ah... Desculpa, mas essa foi muito boa — os olhos esmeraldas refletiam diversão — Seu papai pode oferecer o quanto quiser, ninguém está me pagando por isso, já consegui o que queria.

— Você ainda não entendeu a situação? — Wade perguntou, sem esperar realmente por uma resposta. — Você não vai voltar para lá, agora você é meu.