Foda-se o patriarcado

Capítulo 1 - O caos está instalado

Ana e Mariana acabam de se beijar no lançamento de seu aplicativo de maternidade, onde as duas compartilham uma sociedade. Seus convidados estão desnorteados com a notícia, uma vez que as duas não demonstravam nenhum indício de que estavam juntas. Determinadas a fazer tudo por suas filhas e por sua amizade, elas estão cumprindo com o combinado da melhor maneira possível para que esta farsa não seja percebida por absolutamente ninguém.

Ao descer do palco, Mariana avista Ferran sair pelos corredores do evento sem dizer uma única palavra, por um lado sentiu-se aflita pois não pôde se desculpar e por outro, agradeceu por não ter que confrontá-lo naquele momento. Juan Carlos e Pablo conversam entre si, tentando entender o que estava acontecendo e o porquê deste aviso tão repentino, que na cabeça deles, não fazia o mínimo sentido.

__ O que foi isso? ( Diz Pablo, inclinando a cabeça em direção a Juan com uma voz bem baixinha. )

__ Eu não sei, Pablo. Pensei que tivessem nos chamado aqui para fazer as pazes conosco, entretanto parece que é completamente ao contrário. Querem nos confrontar.  (Juan Carlos murmura.)

Ana pede para que Ramón leve seus filhos para casa, ela acredita que conversar com eles em casa seria mais fácil do que naquele evento. Tinham tantos investidores, ela não poderia correr o risco de conversar com seus filhos e acabar causando uma discussão exaltada. 

__Mãe, eu não quero ir para casa. Quero que me explique, desde quando você e Mariana estão juntas? (Ceci parece um pouco nervosa, talvez constrangida.)

__ Ceci, não lhe devo explicações. Isso é entre Mariana e eu, em casa conversaremos melhor. Desça e vá para o carro, Ramón te levará. Você também, Rodrigo. ( Ana fala rápida e ríspida.)

Ao olhar para o lado, Ana avista Mariana e sua mãe conversando. Mas logo é interrompida por Marcela.

__ Ana, é de uma coragem imensa você, uma mulher executiva e mundialmente reconhecida, assumir um relacionamento com uma pessoa do mesmo sexo. Agora entendo mais do que nunca a proposta do aplicativo Konene, Mariana tinha razão quando defendeu que o app deveria ter sua responsabilidade social. A família é aquela onde encontramos amor, admiração, carinho e atenção. Não há ninguém melhor do que vocês duas para representar isto.

Ana assentiu com a cabeça, com um sorriso de lado, até que sínico e respondeu Marcela com uma única palavra "Obrigada." Estava confusa  ainda, tentando assimilar tudo o que tinha ocorrido, apesar de estar determinada, ela sabia que manter este relacionamento não seria nada fácil. 

Mariana tentou evitar sua mãe o máximo possível, mas ela insistia em conversar. Terê então, a puxa para o canto e segurando seu braço, nem tão forte e nem tão fraco, pergunta ao pé do ouvido.

__ Mariana, o que deu em você? Está louca? Desde quando você e Ana são um casal? 

__ Mãe, eu não quero conversar sobre isso agora. Por favor. Podemos conversar em casa? 

__ Não, Mariana. Eu quero saber o que está acontecendo.

__ A única coisa que precisa saber é que eu e Ferran não estamos mais juntos e que Ana é minha namorada agora.

Mariana termina de falar e desvia o olhar de sua mãe, sai andando de uma forma bem apressada. Sua mão segue trêmula enquanto segura sua taça de champagne, ela se sente mal ao mentir para os outros, a única coisa que lhe alivia é saber que está com sua melhor amiga ao lado dela. 

A festa então continuava, os investidores  encontram-se empolgados com o aplicativo e o beijo de Ana e Mariana já havia se tornado TRENDING TOPICS no TWITTER. As duas ficavam uma ao lado da outra, conversando com cada investidor que lhes cumprimentava. Ficaram desta forma até o final da festa.

Os outros convidados? Bom, Juan Carlos e Pablo foram embora logo depois. Decidiram não falar com as duas, pois acharam melhor comunicar ao advogado primeiro. Helena também já havia ido embora, não trocou nenhuma palavra com Mariana. Provavelmente estaria chateada, sentia-se traída, afinal Mariana contava tudo a ela, mas por alguma razão, não lhe contou isso. 

Com o ambiente vazio e escurecido, afinal já estava tarde e as duas estavam sendo as últimas a sair, Ana olha para Mariana enquanto anda devagar em direção a mesma.

__ Está tudo bem? (Ana pergunta)

__ Sim, claro. Estou bem. (Mariana responde com a voz baixa, olhando para os lados com um sorriso fraco no rosto.)

__ Me desculpe por Férran, sei que estava gostando dele. (Ana diz olhando para os olhos de Mariana, ela realmente se sentia mal por Mariana ter a beijado na frente dele.)

__ Tudo bem, Ana. Eu não me importo. Tudo o que me importa é você, Regina e Valentina. Se isso é o que precisamos fazer para manter a nossa família, então é isso que faremos. (Mariana pega na mão de Ana, olhando para ela com um sorrisinho bobo, mostrando que realmente estava ali para sua amiga.)

__ Bom, vamos para casa. (diz Ana, apontando para a saída.)

__ Ah, eu não vou para a sua casa hoje. Acho que é importante você, Ceci e Rodrigo conversarem sobre o que aconteceu. (Mariana definitivamente não quer ir para casa de Ana e ter que lidar com essa situação, ainda mais quando sabia que Juan Carlos estaria lá. Ela tinha medo de sua reação.)

__Bom, tem razão. Quer que eu te dê uma carona, pelo menos? (Diz Ana segurando as chaves do carro.)

__Não, Ana. Não precisa. Pode ir. 

A essa altura, todos estavam em casa. Juan Carlos e Pablo estavam tristes, Pablo por ter causado toda aquela situação entre ele e Mariana. Embora estivesse chateado com ela, ele sente muito por tudo que aconteceu. Se pudesse voltar atrás, voltaria e faria tudo diferente. Mas não pode e ele sabe disso. Mesmo se sentindo culpado e reconhecendo que Mariana é a melhor mãe que Regina poderia ter, ele quer ter sua voz como pai respeitada. E sabe que para isso, precisará ir em frente com o processo.

Juan Carlos não foi para a sua casa onde mora com Ana, normalmente ele preferiria continuar lá mas estava de coração partido. Embora soubesse que seu casamento com Ana já havia terminado, era difícil para ele enxergar o fim. As memórias dele com Ana ainda eram frescas em sua mente, a cada pensamento ao recordar seus momentos juntos, sentia aquele aperto no peito. Aquele aperto que te dilacera por dentro, que te tira o norte, te cega parcialmente pois só lhe deixa enxergar o que mais te dói. Doía tanto que não haviam palavras mais, não havia mais nada. Em um quarto de hotel, Juan ficou. Pelo menos por essa noite, ele ficou lá. 

Ana ao chegar em casa conversou com seus filhos, Rô e Ceci se mostraram positivos com o namoro de Ana. Mas estavam tristes, ainda tinham esperanças de seus pais reatarem. Ana vai precisar de mais tempo para convencê-los de que, não importa o que ocorra, ela e Juan Carlos estarão sempre ali para cuidar dos três, independente se os dois são um casal ou não.

Arrumou-se para deitar, olhando para o teto de seu quarto em um completo breu, começou a pensar. Ana tinha muitas dúvidas, não sabia o que queria ou o quem ela era mas tinha a certeza de que, ao estar com Mariana se sentia no lugar certo. 

Já Mariana, dorme com Regina abraçada. Está tão cansada que só decidiu deitar ali com sua filha, fechou os olhos e não pensou em nada. Só dormiu...

"Meu amor era tão cruel quanto as cidades em que vivi, todos pareciam piores à luz. Há tantas linhas que eu cruzei sem perdão, eu vou te dizer a verdade, mas nunca adeus"

Taylor Swift