Desabafei liberando um soluço. Os olhos de Rebbie se enchem de lágrimas assim que proferi a última frase. Uma frase tão simples, mas tão recheada de sentimentos e dor. Muita dor.

Arrastei meus dedos pelas bochechas, limpando rapidamente minhas lágrimas. Esse não é o momento de chorar.

O olhar de Rebbie sobre mim, diferente dos demais, não é um olhar de pena, é um olhar maternal. Me sinto sozinha, envergonhada, nua e indefesa, assim como um bebê que acabara de nascer.

Os olhos escuros de Rebbie, mesmo através dos óculos de grau, tentam se comunicar comigo em uma forma de tentar expressar "Vai ficar tudo bem, eu estou aqui."

O ranger da porta atrás de mim fez meu corpo se enrijecer. Prendo a respiração e fechei meus olhos fortemente por alguns segundos antes de abri-los. Rebbie manteve seus olhos presos à mim com sua expressão calma.

Passos se tornaram cada vez mais próximos e o cheiro amadeirado atravessou minhas narinas. Meu corpo travou em pânico. O que Michael irá dizer? O que ele irá pensar ao me ver com sua irmã? O que Rebbie dirá?

Deena? — Sua voz ecoou um pouco longe. Suave como uma canção.— Amor, volte para a cama.

Seus passos se aproximavam cada vez mais. Olhei para todas as grandes janelas de vidro tentando buscar formas de fugir, mas como?

Vejo a nevasca cair cada vez mais forte no lado de fora, o que me faz crer que provavelmente as janelas estejam soterradas em meio a neve.

Voltei a olhar para Rebbie tentando buscar alguma ajuda. Ela é a minha única salvação, mas a irmã de Michael nada disse, apenas assentiu lentamente com a cabeça antes de voltar a sua posição inicial.

Deena... — Ouvi a voz de Michael ao meu lado.

Ele me achou.

Me virei calmamente, assistindo Michael caminhar até a mim em passos lentos. Um sorriso de canto está instalado em seus lábios. Mesmo com o rosto amassado de sono, ele parecia feliz ao me ver.

— O que está fazendo aqui, amor? Perdeu o sono, foi?

O corpo magro de Michael finalmente parou à minha frente. Seus dedos percorreram o meu do pescoço até minhas bochechas, acariciando-as.

O encarei completamente atônita. O homem a minha frente franziu a sobrancelha em tremenda confusão antes de, então, deslizar o seu olhar para o nosso lado.

Jesus! — Ele exclamou, assustado, me soltando rapidamente. — O que você está fazendo aqui?

Rebbie levantou o livro em a mão direita.

— O que você faz aqui — Os olhos dela me encaram rapidamente. — Com ela?

— Rebbie... — Michael me encarou envergonhado antes de virar-se para a irmã novamente.

Rebbie balançou a cabeça em negação e depositou o livro de volta à mesa. Com cuidado, ela agarrou a bengala de madeira escura, que durante todos esse tempo esteve apoiada na poltrona e se levantou, vindo em nossa direção.

A cada passo lento de Rebbie, Michael se enrijecia. Seus dedos se apertaram em punho e seu maxilar travou. Em todos esses meses, eu nunca vi Michael tenso assim. Nem mesmo quando esteve de frente com James.

Me desculpe. — Michael abaixou a cabeça. — Apenas me desculpe. Por tudo.

O que?

Rebbie engoliu o seco também abaixando sua cabeça. Um suspiro longo e sofrido fugiu de sua boca antes de levantar a cabeça novamente. Seus dedos finos percorreram os ombros largos do irmão seguindo sua nuca, onde afagou os cachos em um ato de carinho.

Mike. — Sua voz doce fez com que Michael levantasse a cabeça. — Não peça desculpas.

Assisti tudo curiosa e ainda um pouco assustada. Rebbie mais uma vez prendeu seu olhar ao meu e então os levou calmamente de volta para o irmão.

Eu tenho medo de errar como errei com você. — Michael respondeu trêmulo.

Ela é sua chance de redenção. É a sua chance de se livrar dos fantasmas passados. — Sua voz baixa, porém firme.

Michael virou seu rosto em minha direção. Vi seus olhos brilharem feito as chamas de uma lareira aconchegante em um dia frio. Senti meu corpo se aquecer e meu coração errar algumas batidas.

— Cuide dela. Ela precisa de você. — Rebbie acariciou seu ombro.

— Eu preciso dela. — Ele sussurrou quase por um fio.

Chicago 1945 Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon