Capítulo 2

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Bernardo

Estava sentado na cadeira do meu escritório, conferindo um contrato, era mais uma sexta-feira típica de todas as que eu vivia desde a morte de Ana Carolina. A mulher com quem fui casado e que perdeu a luta contra o câncer há um ano.

Não via mais motivos para me divertir e olha que eu nem me sentia um homem tão velho, que não pudesse curtir uma balada de vez em quando. Mas aquelas coisas só tinham sentido com Ana Carolina, não queria viver mais a minha vida depois de tudo.

Terminei o contrato e vi que já passavam das dez da noite. Esperava muito que Rodrigo, meu filho caçula e o único que morava comigo, não estivesse em casa, para ele não perceber a hora que eu chegaria.

Eu tinha dois filhos, Alberto e Rodrigo, quase que dava para formar uma dupla sertaneja, mas eles odiavam esse estilo de música, então nem tinha como fazer aquele tipo de piada com eles.

Assim que desliguei o laptop da empresa, soltei um longo suspiro e peguei a minha maleta, que continha alguns documentos os quais eu verificaria durante o final de semana. Trabalhar era melhor do que ficar pensando somente em catástrofes.

Saí da sede da minha empresa, que eu tinha muito orgulho de ter continuado o legado do meu pai no meio de aviação e de ter conseguido fazer com que a pequena empresa que ele tinha se transformar em uma holding extremamente famosa. A Roux Airlines era uma companhia aérea extremamente importante para o Brasil e o mundo e eu já havia ganhado diversos prêmios por ter feito aquela empresa se tornar quase um mundo, que oferecia diversos empregos para os mais necessitados.

Entrei no meu Rolls-royce e parti em direção à minha casa. Amava dirigir e até pilotar, afinal há alguns anos havia tirado o meu brevê para poder conduzir alguns aviões e quando ficava um pouco entediado somente por trabalhar, eu tirava um tempo para curtir aquele hobby que poucos tinham.

Foram mais de quarenta minutos no trânsito infernal de São Paulo, que mesmo fora do horário de pico, ainda parecia um monstro para quem queria chegar em casa, mas consegui chegar no meu lar são e salvo e sem perder a paciência com aquela merda toda.

Estacionei o carro na garagem de casa e quase praguejei, assim que vi o carro de Rodrigo ao lado do meu. Pelo jeito ele não havia saído e eu teria que escutar o sermão de um moleque de vinte anos que não entendia nada da vida, mas que sempre queria mandar na minha, só por ter decidido não curtir mais da forma que fazia antes.

Saí do carro e caminhei para dentro de casa, antes que eu pudesse ao menos depositar a maleta de meus documentos na mesa de canto da entrada, meus dois meninos apareceram no final do corredor.

Aquilo era estranho, pois eu não entendia o que Alberto estava fazendo em minha casa, já que ele morava em outro lugar com a sua esposa Adriely.

— Meninos? — Tentei entender o que os dois faziam ali.

Já que eu esperava encontrar somente Rodrigo, que provavelmente estaria me esperando chegar para encher minha cabeça com suas reclamações, mas encontrar os dois foi algo completamente estranho.

— Oi, pai! — Alberto, murmurou.

— Oi, filho. — respondi, ainda achando muito estranho aquilo.

— Precisamos conversar, pai. — Foi a vez do Rodrigo se pronunciar.

— Tudo bem, vamos para a sala.

Apontei em direção do lugar que estava falando e eles assentiram, seguindo para lá e eu fiz o mesmo. Assim que adentrei o lugar, caminhei até o bar, enchendo um copo com uísque, pois era a bebida que me deixava mais leve e que não fazia com que eu explodisse na solidão que me encontrava.

Voltei-me na direção dos meninos, que permaneciam em pé e passei a mão pela minha barba.

Aquilo estava estranho. Por que estavam agindo daquele jeito?

— Papai, Rodrigo entrou em contato comigo há alguns dias e eu achei por bem estar presente aqui.

— Vão me explicar o que está acontecendo? — Encarei Rodrigo, pois eu tinha completa convicção de que ele havia ido encher o saco de Alberto em relação a mim.

— Papai, precisamos fazer uma intervenção para o senhor.

Tomei todo o líquido âmbar que estava em meu copo de uma vez, pois não estava gostando do que ouvia.

— Do que estão falando?

Depositei o copo na bancada do bar e caminhei para o centro da sala a fim de tentar compreender o que aqueles meninos estavam querendo.

— Papai, nós amamos a mamãe e nunca deixaremos de amá-la, mas precisamos continuar a vida, assim como o senhor precisa continuar a sua.

Revirei os olhos e comecei a andar em direção a saída da sala, mas Alberto esbravejou.

— Com todo o respeito, se o senhor não nos ouvir, eu juro que ficarei um bom tempo sem visitá-lo.

— Está me ameaçando? — Olhei por cima do ombro, ao indagá-lo.

— Não, estou anunciando que se o senhor não se prestar a ao menos nos ouvir, eu não terei outra escolha a não ser me manter afastado, para não vê-lo definhar a cada dia mais.

— Vocês estão achando que sou criança?

— Não, pai. Só que o senhor está se matando de trabalhar, ao invés de curtir um pouco a vida. O senhor só tem quarenta e quatro anos e mesmo assim, deixou de viver depois da morte da mamãe.

Passei minhas mãos pelo meu rosto, irritado, e com raiva de estar sendo tratado como um idiota.

— Querem que eu arrume uma mulher ou várias, é isso?

Os dois se olharam e respiraram fundo, como se eu estivesse errado naquela situação.

— Papai, o senhor pode arrumar quando quiser outra mulher, só que no momento só estamos falando de curtir a vida. Só queremos que o senhor saia e se divirta como antes. Até os seus amigos o senhor afastou.

Alberto tinha vinte e seis anos, mas já parecia muito mais velho, devido à sabedoria que possuía.

— Não estou com a mínima vontade de viver a vida, depois de perder Ana Carolina.

Alberto se aproximou de onde estava, colocou sua mão sobre meu ombro e continuou a tentar me convencer:

— Papai, foi e ainda é difícil para nós, mas vamos fazer o que prometemos na última vez que falamos com a mamãe?

Lembrei-me da promessa que lhe tínhamos feito: de que viveríamos como sempre, felizes e aproveitando o máximo da vida que podíamos.

Desistindo depois de dar de ombros, murmurei:

— O que devo fazer?

— Comprei uma viagem de cruzeiro para o senhor. Vão ser dias incríveis e parte amanhã, acho que o senhor deveria aproveitar a oportunidade. Deixei os papéis da viagem na mesinha de cabeceira do seu quarto, se decidir ir dá tempo de arrumar uma mala.

Uma viagem...

Eu amava viajar, mas tinha esquecido daquilo depois de ficar tão solitário.

Acho que eu podia tentar mudar ao menos uma vez depois de todas as tragédias.

— Tudo bem, eu vou...

Talvez fosse aquilo que precisava para voltar a ser feliz.

Ou ao menos ter uma vida mais normal. 

A Filha do Meu Sogro - DegustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora