01. Lei de Murphy é uma merda, mas é uma merda porque sempre funciona

7 1 0
                                    

— Eu prefiro morrer a ir naquela festa e dar de cara com o Ryan. Já é um milagre eu conseguir sequer assistir às aulas com ele depois daquela vergonha monstruosa que eu passei. Eu deveria ter ligado pra minha mãe e pedido um atestado pra me liberar dessa reta final, isso sim. Depois, eu poderia dar um jeito de trancar a faculdade e fazer aquele intercâmbio pra França que tia Fleur vive insistindo que eu faça. Então não, não vou sair desse quarto por nada neste mundo.

Já falei sobre como Rose era uma grande drama queen?

— Nem por uma pizza com queijo extra? — Scorpius cantarolou, batucando os dedos na porta que nos separava da dramática da minha prima.

Conhecendo Rose, aquilo teria um certo efeito sobre ela. A pausa para reflexão indicava que eu estava certo e que a sugestão de Scorpius havia sido certeira. Trocamos um sorriso, mas logo Rose resmungou, com a voz um pouco abafada - aposto que ela havia se jogado na cama, torturando-se ao tentar decidir se poderia deixar de lado a sua vergonha por alguns pedaços de pizza.

— Scorpius. Foi o mico do ano.

— Você vai precisar se esforçar — sussurrei para Scorpius, que cruzou os braços e franziu o cenho, tentando pensar. — Oferece pizza doce também. Ela ama a de chocolate, principalmente se vem meio queimadinha.

— Como ela pode gostar daquilo? — ele sussurrou de volta, fazendo uma careta. — Nós nunca pedimos.

— Exatamente por isso você precisa oferecer — afirmei, colocando a mão no ombro dele. — Nós podemos sobreviver a uma ou duas fatias de pizza de chocolate queimado. Ou podemos deixar tudo pra ela também.

— Bom, não é uma pizza tão ruim assim.

Um fato sobre Scorpius: ele era alguém difícil de dar o braço a torcer e nunca, absolutamente nunca, recusava comida. Ele não pediria de forma deliberada algo que não gostasse, mas, se estivesse disponível, ele simplesmente precisava provar. Por quê? Um olho maior que a barriga e pouco amor ao próprio paladar.

— Oferece logo — resmunguei e ele revirou os olhos, respirando fundo.

— Podemos pedir mais coisas... — Scorpius tentou, num claro apelo de fazer com que Rose tivesse uma ideia sobre qualquer outra coisa exceto a maldita pizza de chocolate queimado.

— Scorpius! Mandei vinte e quatro áudios enquanto estava bêbada pro cara que tinha me dado um pé na bunda público. Vinte e quatro. E todo o campus sabe. Nada vai me convencer a sair daqui.

Nós nos entreolhamos novamente e lancei o meu olhar mais severo para que ele oferecesse logo a porcaria da pizza. Scorpius fez uma expressão de dor, colocando a mão sobre a própria barriga, enquanto cantarolava de novo:

— Nem por aquela pizza de chocolate? — apesar da entonação animada na voz, a expressão enojada de Scorpius entregava tudo. Precisei segurar o riso e a vontade de fazer um som de nojo. Felizmente, poucos instantes depois, a porta se abriu e Rose nos encarou com desconfiança.

Vocês querem comer aquela pizza?

Ela tinha os braços cruzados e usava o moletom da faculdade, com os cabelos ruivos soltos, mas claramente embaraçados. A máscara de argila verde mantinha a expressão dela endurecida, porém era nítido que ela havia franzido a testa demais, já que a região estava bastante marcada com a argila ressecada. Senti que Scorpius daria risada e estragaria tudo, então dei alguns passos para ficar no campo de visão de Rose e a segurei pelos ombros.

— Não vou mentir pra você, eu e o Scorpius não queremos comer aquela pizza — ouvi o protesto do meu amigo, mas ignorei e esbocei um sorriso para minha prima —, mas nós dois queremos você feliz. E, se isso significa quebrar nossa promessa de que nunca mais deixaríamos você pedir aquela atrocidade, então que seja.

Against the oddsOnde histórias criam vida. Descubra agora