— Acho que também vou. Tenho muito o que fazer. Com licença, senhor — ele se levantou. O pai concordou com a cabeça e voltou a ler o jornal e beber seu café.

Thiago subiu de volta para o quarto e começou a se vestir e separar o dinheiro que iria levar para comprar tudo que precisava. Enquanto vestia seu terno, ele relembrou sua história com Elizabeth. Os dois haviam se conhecido no começo do colegial, começaram a namorar alguns meses depois e nunca mais tinham se separado. Agora, que os dois tinham dezoito, Thiago tinha decidido que era a hora correta de dar um passo a mais. Os dois namoravam há quatro anos, as duas famílias se adoravam e, modéstia parte, seus genes eram muito bons, gerariam filhos lindos. Ele ainda estava um pouco indeciso em relação a esse pedido, afinal, Elizabeth nunca tinha falado com ele sobre esses assuntos. Mas, ele achava que eram aquelas coisas de garotas de não querer assustar seus pretendentes com essas conversas de casamento. Sorte dela que Thiago pensava bastante nessas coisas, e sabia que Beth era a garota certa para ele. E sentia que ele era o certo para ela. E a conversa com os pais não o deixava mentir. Beth era uma moça sensível, romântica, sonhadora — às vezes até demais... E ele faria de tudo para agradar esse lado dela. Quero dizer, que tipo de rapaz prepara um jantar à luz de velas na véspera do natal para pedir sua garota em noivado?

Com tudo pronto, ele desceu para a sala a tempo de sentir os aromas do seu grande jantar de noivado sendo preparado. Despediu-se dos pais e seguiu para o centro da cidade. O local estava um pandemônio. Manifestantes com cartazes gritando pela praça do centro. A polícia tentando intervir. Os comerciantes, assustados com toda a situação, começaram a fechar as lojas e os compradores, com medo de não conseguirem comprar tudo que queriam, saíam correndo de uma loja para a outra, com sacolas e mais sacolas nas mãos. Ele teria que se apressar. Mas ele pensava positivo. Todo esse estresse valeria à pena quando ele visse o olhar de Beth para sua linda aliança de diamante.

Resolveu estacionar seu carro um pouco afastado de toda a bagunça. Passaria na joalheria primeiro, pois ficava mais longe que a floricultura e o que ele queria lá era mais importante, então, se a loja fechasse, seu plano todo iria por água abaixo. Ele olhou o relógio: onze e quarenta-e-dois. Teria que correr se quisesse chegar a tempo. A joalheria ficava a treze quadras de onde ele tinha estacionado. Por um segundo pensou em ir de carro até uma área mais próxima, mas, e se não tivessem vagas? Era melhor ir a pé mesmo. Sebo nas canelas, pensou, e então correu.

Uma semana antes, no mesmo dia em que tinha reservado o anel, ele foi até a casa dos pais de Beth para pedir sua benção. Encontrou apenas sua mãe, Inez. O pai estava trabalhando. Lembrava-se de estar no carro, as mãos suando. Ele sabia que Elizabeth não estava em casa naquele horário, então a surpresa não seria estragada dessa maneira. Mas, e se seus pais não permitissem. Eles eram muito novos, sim, mas quando a pessoa é a certa, não tem para que esperar. Ele sabia que esse momento chegaria uma hora ou outra, por que não agora?

Ele tocou a campainha. A casa de Beth era um pouco maior que a sua, apesar dos dois morarem no mesmo bairro, sua família era composta apenas por três pessoas, já a dela, continha quatro pessoas, pai, mãe e duas filhas. A irmã mais nova de Beth era muito bonita e inteligente, se ele tivesse algum amigo solteiro, com certeza arrumaria ele com a garota. Inez abriu a porta um pouco confusa, provavelmente não estava esperando por ninguém naquele horário. Ao ver um Thiago extremamente nervoso parado a sua frente, ela abriu um sorriso:

— Thiago, querido, boa-tarde! O que lhe traz à nossa casa nessa linda tarde? A Beth não está nesse momento.

— Eu sei, sra. Inez, eu estou aqui justamente para falar contigo — ele disse, enquanto esfregava suas mãos compulsivamente.

— Oh! Entre, meu filho, entre.

Depois de se acalmar com um copo de água ou dois, ele explicou o motivo de sua vinda repentina e pediu a benção de Inez para o pedido. A princípio, ela ficou em choque, perguntou se era algum tipo de pegadinha, o que ele prontamente respondeu que não. Então sua ficha caiu e ela ficou quase mais animada que sua própria mãe. Abraçou o genro, beijou-o e até pegou um champanhe para comemorar. Ela mal podia acreditar que sua filhinha seria pedida em casamento dali uns dias. Concedeu total permissão para que Elizabeth fosse a sós para a casa de Thiago na véspera do natal e logo se despediu dele, dizendo que precisava ligar urgentemente para o dr. Víndice — pai de Elizabeth — e anunciar a novidade. De todos os cenários que ele pintou em sua cabeça enquanto ensaiava o pedido, este tinha sido melhor até que o mais positivo que passara por sua mente. Talvez porque o pai dela não estava presente naquele momento. Mas isso não importava. Ele tinha a benção dos pais da garota, isso melhorava as coisas em, pelo menos, uns setenta por cento.

Histórias Para Gaivota DormirWhere stories live. Discover now