Limites

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O que leva uma mulher a se encontrar com alguém discretamente em uma estação de trem a noite? Certamente isso é uma pergunta retorica, que estou fazendo a mim mesma enquanto estou sentada em um banco na estação.

_Você está atrasado. -Eu digo quando ele se senta ao meu lado, nem ao menos desvio o olhar do jornal que finjo ler.

_Alguém já te disse o quanto você é perfeccionista? –Ele perguntou irônico.

_Seu irmão, várias vezes. –Eu o respondi, e ele perguntou um pouco preocupado, se fosse em outra situação eu até teria brincado com ele:

_Como ele está?

_Bem ele está com raiva de você, mas quando isso se resolver ele vai perceber que você só estava ajudando. –Eu o tranquilizei.

_Eu espero que sim, quando ele entrou naquela sala tudo que eu pude ver era desgosto, você sabe o quanto eu queria ter dito a verdade a ele? –Ele disse e por alguns instantes eu me senti culpada em estar fazendo isso.

_Eu sei, mas não podia, ou tudo que conquistou nos últimos dois anos teria sido em vão. Você foi bem. –Eu disse na esperança de convencer ele que estava fazendo o certo e então completei –Você convenceu a todos, embora eu não tenha aprovado você chamar meus filhos de monstrinhos.

_Em minha defesa aqueles quatro são terríveis, mas você deveria ver Aaron quando nós éramos mais novos, seus monstrinhos não chegam nem aos nossos pés.

Eu percebi o tom de saudade em sua frase e não pude deixar de sorrir, mas eu precisava voltar a realidade que vivíamos.

_Está na hora de você ir, você sabe o que fazer certo? –Perguntei.

_Claro que sim, ir para longe, não fazer contato com ninguém, até você me ligar naquele número me dizendo que é seguro.

Fiquei satisfeita, acho que eu o havia treinado bem.

_Cuide bem dos meus sobrinhos Emily, e principalmente cuide bem do meu irmão. –Ele me disse.

_Eu sempre cuido deles Sean. –Dizendo isso me levantei e sai, joguei o jornal em uma lixeira e peguei um taxi até onde eu tinha deixado meu carro.

O tempo todo não pude deixar de pensar no quanto esse trabalho já tirou de mim, ele tirou o pouco de inocência que me restara, o casamento dos meus sonhos, a capacidade de acreditar no ser humano, e nos últimos tempos até mesmo meus filhos, temo que eu esteja chegando ao meu limite. Deveria ter ouvido o que minha mãe me disse há alguns anos, pensando nisso deixo minha mente vagar para o momento que liguei para minha mãe para contar sobre o divórcio.

Parece que meu coração ia explodir, tudo que eu sentia era medo, remoço e principalmente culpa, não sei o que me deu e o pior não sei qual foi a ideia absurda que agora estou na linha com a pessoa, na qual nunca imaginei falar sobre esse assunto.

_Você está bem? –Ela parecia cuidadosa com as palavras.

_Eu estou mãe. –Eu tentava ao máximo deixar minha voz firme, para que não denunciasse meu estado.

_Não, você não está. –Ela afirmou e isso só serviu como gatilho para que eu pudesse finalmente desabafar.

_Eu não aguento mais mãe, desde o divórcio eu não chorei, eu concordei em permanecer na equipe, eu até mesmo permaneci firme quando ele apresentou a amiga dele, mas eu não posso mais, eu pedi um realojamento. -Confessei em meio a lagrimas teimosas que insistiam em escapar, temi que ela não tivesse entendido o que eu disse, e por alguns segundos até mesmo desejei que ela não tivesse, havia tantos anos que eu não me permitia quebrar perante ela, que isso só reafirmava o quão fraca eu estava.

Acordando para a vidaWhere stories live. Discover now