Parte 02 - O Reencontro

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─ SARA, ELES CHEGARAM! – minha mãe grita, e eu – é claro – derrubo toda a bandeja de bolinhos de bacalhau no chão.

─ Ah, minha filha! – meu pai exclama, colocando as mãos na cintura, com cara de enfezado, mesmo naquele avental branco. – Cata tudo, finge que não caiu. O que não mata engorda.

Eu me abaixo para tentar catar, mas sem querer bato numa outra bandeja na beirada da mesa e quase que empadinhas de camarão vão fazer companhia aos bolinhos no chão.

─ Deixa para lá, Sara – ele diz, ainda mais irritado. – Eu cato, muito obrigada pela sua ajuda.

Tiro minhas luvas, indignada. Ora, sou obrigada? Meu cabelo está fedendo a fritura de bolinho de bacalhau e todo arrepiado. Socorro!

─ Vamos logo filha, recebe-los! – minha mãe diz toda animada.

─ Nem morta – eu respondo, ríspida. – Vou me trocar primeiro e dar um jeito no fedor desse cabelo.

─ Larga de frescura! – ela diz, praticamente me puxando pela orelha para o nosso quintal lotado.

─ Mãe, eu tô falando sério... – eu tento continuar, mas de repente ela para.

E eu me vejo encarando Rodrigo e Éster, com sorrisinhos amáveis e os mesmos rostos que eu tinha totalmente esquecido, mas que agora olhando-os de novo, vieram rapidamente a minha mente.

Não posso evitar um suspiro quando não vejo Jopa. Só não sei se de alivio ou de desapontamento.

─ Ai meu Deus, Sara! – Éster diz, me encarando com aqueles olhos mel profundos. – Não acredito que é você!

─ Nossa, mocinha, você cresceu. – Rodrigo diz, sorrindo e comprimindo seus olhos até eles virarem uma linha.

─ Olá senhor e senhora Carron, como vão? – pergunto delicada.

─ Estamos ótimos e você também! – Éster responde pelos dois. – Estou impressionada, querida! Você ficou muito bonita.

─ Ah, obrigada. – eu coloco meus olhos no chão, envergonhada.

E é por isso que eu vejo pés calçando all stars beges se aproximando.

E, sem saber o que esperar exatamente, levanto os olhos.

Para ver uma pessoa totalmente desconhecida se metendo no meio de Éster e Rodrigo.

Mais alto que Rodrigo, de ombros mais largos também. Pele de tez morena, queimada de sol. Um sorriso torto gracioso, cabelos da cor dos olhos de Éster e um óculos escuro super estiloso combinando com a pólo azul clara e com a calça jeans meio desbotada.

Tudo que eu consigo pensar é: NÃO É POSSÍVEL!

Porque inteiramente não faz sentido na minha mente que meu amigo tenha se tornado esse pedaço total e completo de mal caminho!

Mas no momento que ele tira os óculos de sol do rosto e fixa seus olhos castanhos bem claros no meu rosto, eu o reconheço de cara. O reconheceria em qualquer lugar, com qualquer disfarce, por seus olhos, seu olhar.

João Paulo.

Nenhum de nós disse nada. Nem eu, nem ele, nem Éster, nem Rodrigo e nem mesmo minha mãe.

Pergunto a mim mesma se estou sonhando. Mas a maneira como ele, do nada, me envolve num abraço apertado, forçando-me a dar de cara com seus ombros, me mostra que isso é tudo menos um sonho.

Foi uma questão de segundos pro tempo regressar e eu me sentir de novo aquela garota de 13 anos, apaixonada pelo vizinho. Parecia que o tempo não tinha passado, que os cinco anos de distancia não eram nada.

Reencontros, trufas e anjosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora