— Se lembra do Soobin? Acho que eu já comentei sobre ele...

Arregalei os olhos na hora, engolindo em seco. Meu corpo entrou em alerta e eu só consegui pegar nossas entradas como um robô. Soobin, esse é o cara que Yeonjun era perdidamente apaixonado, mas acabou levando um fora. De vez em quando ele fala sobre o assunto, mas nunca se aprofundou de verdade.

— S-sim, eu lembro. — Respondi, com medo de qualquer coisa que eu fosse ouvir.

— Ele me mandou uma mensagem hoje, eu quase não acreditei.

— Sério? — Tentei forçar entusiasmo. Já estávamos dentro do parque colorido, com o céu escuro reforçando as luzes fortes.

— Sim! Ele perguntou se poderia ter outra chance comigo.

Eu parei de andar sem perceber. Outra chance?

Porra, outra chance? Fiquei com vontade de rir de mim mesmo, é claro que algo assim iria acontecer. Eu deveria ter previsto que não daria certo de forma alguma. Beomgyu, você é estúpido.

— Beom? — Ele olhou confuso para trás.

— Hm, eu pensei que tinha esquecido o celular, mas ele tá aqui. — Disse rápido, tentando não demonstrar a dor dentro do meu peito e fui até ele de novo. Eu não sabia que poderia sentir tanta dor física assim pela merda de um coração partido, mas parece que a qualquer momento tudo em mim vai quebrar.

— Ah, você me assustou. — Riu. — Mas voltando, o Soobin pediu outra chance e me chamou pra sair.

— Que legal. — Tentei sorrir de volta, mas não sei se funcionou. E doeu mais ainda perceber que Yeonjun nem ao menos estava olhando pra mim, já que seus olhos estavam perdidos no céu um.

— Muito legal, não é? — Ele suspirou. — Eu realmente espero que as coisas deem certo agora. Acho que eu voltaria correndo a qualquer momento pra ele, me sinto idiota. Mas acho que gostar de alguém faz isso com a gente.

— Com certeza. — Ri, mesmo não achando nada naquilo engraçado. Era irônico, e ridiculamente humilhante. Pra ser sincero, eu só quero morrer.

— Beom, você tá bem? Não sei se são as luzes, mas você parece pálido. — Ele virou pra mim, chegando perto e eu tive que me segurar pra não me afastar.

— Meu irmão disse isso pra mim mais cedo, tô precisando pegar um sol. — Nem tenho noção se minha voz tá falhando, mas ele não pareceu notar.

— Ah, que bom, você tá meio estranho. Qualquer coisa pode falar, certo?

— Que nada, eu tô bem. Quer começar pela montanha russa?

Eu pensei seriamente em sair correndo ou me jogar do alto de algum brinquedo. Qualquer coisa com certeza era melhor que ouvir Yeonjun falando sobre como estava feliz pra encontrar Soobin de novo.

E quando subimos na roda gigante, eu comecei a me perguntar o que teria acontecido se eu tivesse me declarado um pouco mais cedo. Ele teria me dado um fora ou estaria sorrindo assim pra mim? Da última vez que estivemos aqui, eu dei um beijo nele pela primeira vez, mas agora eu tô tendo que ver o instagram daquele desgraçado sortudo e sobre como ele parece ser perfeito.

O pior, é que eu nem consigo xingar o cara. Não o conheço e nem posso chamar de feio, o que torna tudo mais frustrante.

— Beom, obrigado por ser tão legal. — Yeonjun deitou no meu ombro, e eu percebi que nem tava ouvindo mais. Minha garganta estava doendo de segurar o choro e eu olhei para o chão, cogitando pular, mas só respirei fundo e abriguei ele melhor nos meus braços.

— Eu tô muito feliz por você. — Menti, acho que pela vigésima vez em dez minutos.

— E você, sobre o que você queria me contar?

Mordi o lábio e olhei para cima, tentando a todo custo não chorar. Acho que eu nunca senti tanta coisa de uma vez só, e eu tenho certeza que essa vontade de vomitar não é pela altura.

— Consegui um aumento no estágio. — Menti, e eu sei que não conseguiria pensar em algo melhor.

— Meu deus, parabéns!

Ele deixou um beijo na minha bochecha, e ficamos o resto do brinquedo falando sobre como é legal ganhar um aumento, e infelizmente nem isso era verdade pra mim. Na verdade, agora me sinto pior porque continuo quebrado e agora com o gosto mais amargo do mundo na minha garganta de tanto segurar as lágrimas.

Yeonjun parece confortável, pelo menos, porque eu sinceramente não quero mais abrir a boca e ele provavelmente já percebeu isso. Percebeu tanto que quando descemos, ele parou de andar e começou a olhar pra mim com preocupação.

— Beom, você quer ir pra casa? Acho que você tá doente. — Perguntou, e mais uma vez eu tive que engolir o choro. Tive até vontade de responder que sim, e ainda dizer que era por causa dele, porém neguei com a cabeça.

— Não tô. E fui eu que te chamei, não vou te deixar só.— Tentei parecer convincente, mas ele não mudou a expressão.

— Eu não me importo de continuar aqui sozinho, você sabe. Não se preocupa comigo, parece que tu tá precisando de um descanso urgente.

Ter ele se preocupando comigo é ainda pior.

— Eu... acho que você tá certo. — Cedi, porque eu não tenho certeza se aguentaria mais. — Não tô me sentindo bem.

— Deve ser enjoo, é normal em parques. Quer que eu te deixe na porta? — Ele chegou perto, um pouco mais aliviado.

— Não precisa, sempre tem algum táxi por aqui. Desculpa te deixar assim, não sei o que aconteceu. — Minhas pernas estavam tremendo, loucas pra saírem correndo na primeira oportunidade.

— Nada disso, sua saúde em primeiro lugar. Qualquer coisa me liga, tá bom?

— Pode deixar. — Ri de nervoso, e ele mais uma vez deixou um beijo na minha bochecha.

E eu não consegui me controlar antes de puxar o rosto dele e deixar um selinho, prometendo para mim mesmo que seria a última vez.

— Se cuida, Beom. — Ele sorriu, e eu tentei retribuir.

— Você também.

Assim que eu virei, me permiti deixar as lágrimas descerem aos poucos enquanto andava até a saída do parque e entrei no primeiro táxi que eu achei, sem paciência para esperar um Uber. Só afundei no banco do carro e pedi pro cara colocar a música no máximo, esperando que isso fosse diminuir o barulho dentro da minha mente.

Querer não sentir mais nada é pedir demais?

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:(

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