Hospital? Eu não sabia que o pai dele estava internado. Sebastian deveria estar triste por isso.

— Está belíssima. Vocês realmente fazem um casal perfeito.

Sebastian olha bem para mim e desce para meus lábios, talvez ele quisesse me beijar novamente, porém eu não queria fazer aquilo de novo, não com toda essa gente me olhando como se eu fosse uma atração de zoológico.

— Sim. — Respondo de imediato quebrando o clima.

Sebastian olha para algum lugar do salão, seus olhos se estreitam até ele firmar em alguém do outro lado, um homem bigodudo estranho, era esguio e não parecia ser da família, mas parecia familiar a ele.
Avisto Amélia, ela usava um vestido simples dourado, o cabelo longo estava com duas mechas presas para trás, tudo combinava em perfeita harmonia nela.
Sua mão me puxa para mais perto, me livrando do contato quente de Sebastian, a medida que o local esfriou meu coração voltou a bater normalmente.

— Estou feliz por você ter vindo. — Admitiu ela com um sorriso de orelha a orelha com o aparelho brilhando nos dentes.

— Também estou contente por vê-la novamente.

Mais uma vez ela me puxa, olho para trás, Sebastian não conversava mais com sua família, ao invés disso estava do outro lado do salão conversando com o homem esguio, uma expressão séria apoderou-se de seu rosto enquanto eu tentava ler seus lábios.
Amélia me puxou para sentar no sofá, próximo às crianças que brincavam com os brinquedos espalhados pelo chão.

— Como conseguiu convencer meu irmão cabeça dura a vir?

— Ah, eu nem sabia a respeito da festa. — Admito.

Suas sobrancelhas grossas se encontram.

— Ele não falou sobre a nossa festa anual de Natal? Sebastian é realmente um ogro. — Seus olhos reviram nas órbitas. — De qualquer modo, todo ano fazem essa festa, um encontro bobo para os parentes e minha tia se gabarem sobre suas vidas perfeitas.

Olho-lhes, os adultos conversando em uma rodinha, riam de qualquer coisa.

— Por que não gosta da festa?

— Eu preferia mil vezes estar em casa estudando do que ver tudo isso. Minha mãe sempre me puxa para essas coisas, o pior de tudo é que ela nem veio esse ano. — Seus ombros caem.

Amélia tinha a vida que desejei ter durante minha adolescência, as roupas, os irmãos e toda a família. Mesmo que minha vontade fosse jogar isso na sua cara eu entendia que todos tínhamos nossos problemas, talvez não fosse tão legal como parecesse essas festas cheias de gente rica esnobe.

— E você, como era o Natal com a sua família?

Engulo a seco.
Suponho que dizer a Amélia que meu primeiro e único presente de Natal foi uma boneca falsificada que meu pai roubou de uma loja de conveniência, ou que May ensopado de peles de frango como ceia de natal.
Balanço a cabeça tentando me livrar daqueles pensamentos, não era justo estragar sua festa com minhas histórias desanimadoras. Então resolvi mentir.

— Meus pais não costumavam comemorar essas datas.

— Sério? Que triste. — Ela torna a olhar para mim, com uma expressão de pena. — Onde eles estão?

Olho para o chão e depois para ela de novo.

— Infelizmente mortos, mas talvez muito felizes por quem me tornei. 

Os olhos da Amélia pareceram ter perdido todo o brilho, então seus ombros caíram e ela me abraça inesperadamente.

— Eu sinto muito, deve ser muito triste para você.

Assenti sutilmente.
Bato as mãos nos joelhos, tentando esconder minha tristeza, não queria arruinar a noite de mais alguém.

— Tenho que falar algo com o Sebastian. Mais tarde poderemos conversar sobre mais coisas.

Ela sorrir mais uma vez antes de eu dar as costas.
Caminho em direção ao Sebastian dizendo a mim mesma que o condenaria por me fazer mentir para Amélia, mas eles começam a andar em outra direção sem notar minha presença, então os segui. Eles foram até uma sala mais distante que parecia um escritório. Posicionei meu rosto na fresta que deixaram na porta, por estarem naquele local deduzi que deveria ser algo de sigilo.

— Conseguimos pegar os delatores, e o carregamento chega depois dos feriados.

Sebastian faz um sinal para ele continuar falando.

— Senhor, parece que nossos compradores passaram a aceitar negócios os Clifford.

Ele leva a mão até os lábios de forma ríspida.

— Tem certeza disso?!

— Sim, senhor.

Ele respira fundo, mas sem nenhuma calma.

— Aqueles miseráveis... querem tudo o que é meu. — Bateu o punho na mesa com força. — Quero que aumente a segurança nas alas norte e oeste do galpão, e faça acordos melhores com os compradores que nos restam.

O homem mal pisca.

— Outra coisa — puxou o homem para mais perto pela gola da camisa —, arrume uma maneira de me trazer a cabeça daquele merda do Andrea! Estou farto de idiotas.

Pisco algumas vezes.
Sebastian estava combinando a morte de alguém? Quem era Andrea? Quem eram os Clifford? Tantas questões surgiram na minha cabeça, porém aquela conversa confirmava as minhas suposições sobre o Sebastian ser alguém perigoso.
Sebastian dá as costas para o homem com os dedos na testa até mirar seus olhos na minha direção, apertando os olhos para saber quem bisbilhotava pela fresta. Saí de lá em passos largos, voltando para o salão.
Eu sabia que não era da minha conta, mas fiquei curiosa em relação ao que ouvi, Sebastian ficaria irritado por me pegar espionando seu trabalho, mas seria mais uma das mil coisas que eu não daria a mínima.

° ° °

Mesmo acostumada com a mesa farta que Marília costumava colocar diariamente, essa conseguiu me surpreender. Havia tanto tipo de comidas diferentes, um porco envernizado com uma maçã na boca bem no centro da mesa, aves, carnes, tudo que poderia existir como prato natalino, o que deveria ser uma visão dos céus se tornou um verdadeiro tormento após eu ouvir aquela conversa, meu estômago estava embrulhado. Sebastian não evitou olhar-me o jantar inteiro, mal tivemos tempo para falar sobre o que ouvi.
Revirava as ervilhas em meu prato enquanto eles conversavam sobre coisas de gente rica, não dei ouvidos, tinha coisas mais importantes na minha cabeça agora.

— Mal tocou na comida. Está se sentindo bem? — Perguntou uma mulher do meu lado.

— Só estou um pouco enjoada. — Mostro um sorriso amarelo.

O jantar pareceu parar por uns segundos. Olhei para os lados tentando entender o porquê.

— Não completaram nem dois meses de casados. — Murmurou Viviane.

— Sebastian não brinca em serviço. — Incrementou Nicolae. Eu mal tinha o visto durante a festa, porem ele não aguentaria ficar mais de dois minutos no mesmo ambiente que eu sem me julgar.

— Não estou grávida, se é isso que estão pensando.

— Claro que não está. Sebastian nunca teria coragem.

— Claramente. — Finalizo.

Peço pelo olhar para Sebastian que fôssemos embora, porém ele desviou para a tia. O clima estranho estendeu-se, pois ninguém mais tinha coragem para abrir a boca.
Limpo o canto dos meus lábios abandonando completamente a refeição.

— Obrigada por terem me recebido, mas não estou muito bem essa noite.

Levanto da mesa completamente atordoada. Ouço vozes vindo da sala, porém ignoro.

Perverso Where stories live. Discover now