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─ Como assim aluna nova? Já estamos no final do ano letivo, só três semanas de aula e acabou.

Assim que chegou na sala dos professores acompanhada da coordenadora do colégio particular qual lecionava, Flávia, Laila arrumava suas coisas e ia em direção a cafeteira para se servir de um expresso em cápsula.

─ A mãe da menina ligou ontem para mim, tadinha ela estava desperada, Lala. E também, foi uma quantia alta que ela ofereceu para aceitarmos a filha. Ela vem hoje, então já sabe como receber os alunos no meio do ano letivo. Depois conversamos mais sobre esse assunto. Qualquer coisa estou na minha sala. ─a coordenadora avisa, se servindo também de café.

─ Tudo bem. Bom trabalho, meu anjo.

Se encontrando sozinha na sala, a mulher usou sua meia hora de adiantamento no trabalho para checar suas redes sociais enquanto degustava o café. Lia mais alguns comentários de familiares e amigos próximos em sua conta privada do Instagram, quando em meio a milhares de solicitações para segui-la, encontrou o user do jogador, que já havia chamado mais a atenção da mulher ao curtir o tweet.
Enquanto ponderava se deveria ou não deixá-lo entrar em sua conta, foi até a sua sala de aula receber as crianças que chegariam por volta de oito horas da manhã. Como de costume, ela sempre interagia com seus pequenos alunos. A cada um que entrasse na sala, escolhiam em uma parede aonde haviam pequenas ilustrações coladas, uma forma de serem recepcionados. Havia imagens de abraços, beijos na bochecha, soquinho com a mão e até mesmo dancinha. Cada escolha ela adaptava para a criança.

Sua sala não estava muito cheia, o que já era normal pois tinham apenas quinze alunos, agora dezesseis com a nova criança que entraria. Alguns minutos antes de começar a aula, Augusto entra na sala de mãos dadas com uma pequena. Ele parecia feliz em puxar sua nova colega até a mesa de sua professora, que via a ingenuidade no olhar do pequeno mesmo após todo o estresse de sábado, qual ele provavelmente não compreenderia.

─ Tia Lala, tia Lala. ─ele chegava eufórico ao lado da professora, abraçando suas pernas. Se abaixando para ficar na altura do pequeno, ela o respondeu:

─ Guto. Parece que alguém está feliz demais na primeira aula da semana. ─encarou a menina meio tímida atrás dele, mas foi interrompida ainda pelo pequeno.

─ Titia essa é a Mavi, ela entrou hoje tia ela é minha amiga e estuda comigo agora. ─puxava a menina para mais perto de sua professora.

─ Guto, cuidado. ─a professora estendeu a mão de forma convidativa para a menina. ─ Então você deve ser a Maria Victória. Eu sou a Laila, sua nova professora. Você está bem?

A mais jovem apenas concordou, encolhendo os ombros. Parecia até assustada.

─ Não precisa ficar assim, a turma vai te receber muito bem e vamos virar ótimas amigas, tá bom? ─voltou a proferir, encarando Guto que puxava a mochila de rodinha da menina para o assento livre ao lado dele.

─ Tá bom, tia. ─dizia num tom baixo, então apertou a mão da mulher, que por sua vez a guiou até a mesa.

Os olhares curiosos das crianças a cercavam, mas Augusto parecia ser um ótimo amigo que sempre perguntava para sua amiga se precisava de ajuda e também falava como sua professora era a melhor do mundo.
E aquilo fazia o dia de Laila melhorar a cada vez mais.

A manhã passou de forma rápida, mas como o horário de ensino no colégio do Leblon era único, após o almoço as crianças teriam um momento de descanso ou brincadeira até o horário de saída. Como na parte da tarde era uma auxiliar que cuidava das crianças, Laila se encontrava sozinha na sala. Enquanto atualizava seu plano de aula, que ainda fazia parte da inclusão das crianças em formação de palavras e os números, para avançarem em matemática, não percebeu a presença de seus pequenos até ser chamada atenção pelo o de cabelos castanhos.

─ Tia. ─Augusto encarava com os olhos curiosos a mesa de sua professora, que fechou seu caderno de aula para lhe dar atenção. E ao lado do rapaz estava Maria Victoria, que chorava.

─ Oi Guto. Victória, o que aconteceu pequena? ─preocupada, se levantou da mesa para ficar a frente deles, se sentando no chão enquanto os mais novos faziam o mesmo.

─ Tia, ela não quer contar porque tá chorando. Eu achei que ela estava dodói mas ela não disse. ─de forma carinhosa, Guto abraçou sua nova amiga.

─ Pode contar pra mim, Mavi. Você é tão linda para chorar. ─passando o polegar pela bochecha dela, secou algumas lágrimas.

─ O papai e a mamãe brigaram ontem, tia. Gritaram muito, a mamãe falou que eu não ia mais ver meus amigos, porque eu ia sair da escolinha. ─sua voz triste começava a deixar claro o motivo do choro. ─ O Guto disse que você é legal e que vai me ajudar.

─ Minha princesa, seus pais acharam melhor você estudar em um lugar novo. Olha quantos amiguinhos você vai ter agora, e ainda estuda  com o Guto. Ele é bem legal também, e inteligente. Vamos te ajudar em tudinho, tá bom? ─abriu os braços, o que faz a mais nova ir até entre eles, qual a envolveu num abraço carinhoso.

─ A mamãe quer me levar embora, titia. Eu quero ficar com meu papai. ─a dona da voz chorosa afundava o rosto em seu pescoço. ─ Eu quero ficar com o papai e o Guto.

Soluçando a menina, Laila ainda fazia carinho em suas costas.

─ Sua mamãe vem te buscar? Posso conversar com ela se quiser. ─se afastando da mais velha, Maria a encarou um tanto esperançosa.

─ Por favor titia, eu quero ficar aqui. ─balançava as mãos pequenas e gorduchas em súplica.

─ A titia vai te ajudar, Mavi. Agora, por que vocês não voltam a brincar com as crianças? Daqui a pouco vocês vão pra casa. ─todos se levantaram enquanto a professora falava.

─ Obrigada tia Lala. ─disseram em uníssono, abraçando a perna dela antes de correrem de volta ao parquinho.

Pedagogia não era apenas lecionar em sala de aula. Envolvia também o bem-estar físico e mental de suas crianças. E Laila sabia que Maria Victória não estava bem em casa.

haters gonna hate [andreas pereira]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora