Parte Um

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Jenny:

Eu estava sentada na melhor mesa do refeitório, aquela que todos querem se sentar, mas eu tenho motivos para estar aqui. A vida toda me esforcei para criar a imagem que tenho hoje, ser capitã das líderes de torcida não é tão simples como acreditam ser, é mais do que um rostinho bonito. Requer muito treino e responsabilidade.

Sei que quando me olham só enxergam meus privilégios, a vista grossa que os professores fazem para as aulas que perco pra treinar, o olhar de todos quando passo pelo corredor, a mesa no centro do refeitório e, claro, namorar o garoto mais cobiçado da escola: o capitão do time.

Acontece que eu me cansei disso.

As pessoas esperam algum tipo de crueldade da minha parte, um desprezo por quem supostamente é inferior a mim quando na verdade nunca me senti melhor que ninguém. Nunca concordei em tratar ninguém como lixo, nunca me senti confortável com as brincadeiras de mal gosto feitas pelos "populares", foi numa dessas que resolvi terminar com o Ethan enquanto ele me levava pra casa depois da aula.

– Vocês passaram dos limites, – eu disse ao ver o que os garotos do time tinham feito – não tem graça nenhuma.

– Eu não fiz nada, foram os outros caras! – Ele se defendeu.

– Esse é o problema, Ethan, você não faz nada. Todos os dias seus amigos fazem alguma piada de mal gosto, ofendem alguém e você não fala nada. Dessa vez eles pegaram pesado, encher o armário do garoto com espuma de barbear? Vocês estragaram o trabalho que ele devia entregar amanhã!

Percebi que ele segurou o riso, isso me deixou ainda mais decepcionada com ele, revirei os olhos e soltei um suspiro audível, ele realmente não entenderia.

– Para o carro, Ethan. Eu vou a pé daqui.

– Não, não. Você tem razão, eles se excederam um pouco.

– "Se excederam um pouco" é eufemismo.

– Eu vou falar com eles amanhã, eu prometo.

– Na semana passada você prometeu a mesma coisa e não disse nada pra eles, tanto que os trotes continuam e você ainda ri disso. Pra mim já chega.

– Qual é, Jenny? Na semana passada nem foi nada de mais...

– Para o carro, Ethan.

– Tá bem, na semana passada também foi errado, vou falar com eles sobre isso também.

– Para o carro, Ethan – me limitei a repetir pausadamente cada palavra.

Ele respirou fundo antes de encostar o carro e virar pra mim visivelmente irritado.

– Jenny, se você descer desse carro agora a gente já era, entendeu? Nosso namoro já era.

– Então você entendeu bem o objetivo dessa conversa. Você é tão babaca quanto seus amigos.

Abri a porta do carro e saí ignorando ele chamar meu nome e buzinar.

Isso aconteceu ontem, ele me mandou algumas mensagens durante a noite, mas ignorei todas. Hoje de manhã avisei minha mãe que voltaria a usar meu carro pra vir pra escola e aparentemente ela entendeu que não estava afim de responder muitas perguntas, então só disse que tudo bem. Não vi o Ethan nas primeiras aulas, o time também estava treinando para a final do campeonato que seria amanhã, agora no intervalo eu teria que encontrar ele na mesa.

Ethan conseguia manter as aparências como ninguém, mesmo assim me surpreendi com a cara-de-pau dele em se sentar do meu lado e passar a mão ao redor da minha cintura dando um beijo na minha bochecha como fazia todos os dias. Lancei um olhar indignada pra ele que apenas sorriu e disse baixinho pra que somente eu ouvisse:

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