— O que está fazendo?

— Sendo humana, relaxe, Swan. Não vou quebrar seu pescoço. — Riu, fazendo-me a encarar de baixo, notando o quão bela era mesmo naquela posição.

A arqueóloga abriu a pomada, passando em meus dedos da mão direita com cuidado, ignorando minhas recusas e exclamações com sucesso.

— Não precisava fazer isso, eu conseguia fazer sozinha... — Resmunguei, apoiando a área machucada em cima da barriga.

A latina me encarou com força, como se me desafiasse a reclamar outra vez de sua atitude.

— Nem tudo você precisa fazer sozinha, Emma. — Comentou, falando mais nas entrelinhas do que a simples frase. Seus dedos deslizavam pelo meu cabelo em um carinho contínuo, relaxando-me.

— Não lembro a última vez que fiz algo por mim com a ajuda de outro alguém. — Confessei, batendo a mão na barriga levemente em nervosismo.

— Você pode falar comigo se quiser, não apenas sobre história ou sobre a Cleópatra. Já ultrapassamos a intimidade física, então sinto que podemos ultrapassar outras.

— Não sou uma pessoa com muitos amigos.

— Eu percebi — A morena riu baixinho, não parando seus movimentos constantes — Nunca a via conversando com ninguém no telefone, como é normal ver a Fiona e Archie fazendo.

— Bom... — Ri amargamente, deixando as palavras no ar.

— Posso ser sua amiga também, Emma, não apenas alguém para matar vontades.

— Não a vejo assim. A admiro demais para imaginar você como apenas isso. — Suspirei, virando-me no seu colo para sentar, a encarando de perto com nossas pernas nos tocando.

— Então quer contar o que aconteceu? Dizem que sou uma ótima ouvinte, porém apenas fale se sentir confortável, não quero que ache que é obrigada só porquê vi todo o ocorrido de hoje.

Ajeitei-me no sofá para a encarar com mais cuidado, percorrendo meus olhos em toda sua figura, refletindo o que eu tinha a perder e a resposta era "nada", não havia nada.

— Você quer saber sobre hoje, Ruby ou meu irmão?

— Para ser sincera eu tenho uma pequena impressão de que todos eles são a mesma história, entrelaçadas.

Encostei meu corpo no sofá com mais cuidado, deixando as costas no estofado e os joelhos rente ao meu peito, encolhida o máximo que podia ao começar a contar.

* Play Ta Reine - Angèle (version orchestrale) *

Eu tinha dezessete anos quando estava me formando no último ano escolar, vivendo uma boa aventura atrás da outra, sem realmente sair dos trilhos, quase nunca dando problema algum para meus pais ou meu meio-irmão mais velho, que era fruto do casamento anterior de David Nolan com Mary Margareth que morreu no parto. Ingrid Nolan era minha mãe, seus olhos claros e cabelos loiros sempre entregando nosso parentesco.

Olhei-me no espelho do banheiro da escola particular, observando meu vestido vermelho longo destacando minha cor enquanto a música explodia no som do lado de fora, animando todos os adolescentes que sentiam o primeiro ar de liberdade fora da dita adolescência.

Sorri quando vi atrás de mim Ruby entrando pela porta, a trancando ao caminhar até a mim com pressa, seu vestido branco tremeluzindo atrás de si ao correr para me beijar em algo que beirava o excitante e o temor de sermos pegas.

Ruby e eu éramos amigas desde a infância, crescendo juntas graças aos nossos pais que eram políticos e que sempre jantavam uma na casa do outro, nos fazendo criar uma ótima amizade com o passar do tempo, até os últimos meses.

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