A morena engraçada havia assumido sua vontade de descobrir o mundo, entender sua sexualidade, já que não se via com homem algum e morrendo de medo de tentar algo com outra garota que poderia espalhar aos quatro ventos o que haviam feito e por isso me dispus a ajudar, assumindo que as vezes eu me perdia na ideia de peles suaves e lábios macios, sabendo que a heterossexualidade não era algo que me cabia, mesmo que meu interesse por homens existisse.
Na noite anterior eu havia dado a ideia de que poderíamos contar o nosso relacionamento que já ultrapassava mais de cinco mesmo para nossos pais, pensando que por serem homens políticos e revolucionários seria bem aceito, que nossos medos eram apenas medos, paranoias sem fundamentos.
Após o baile dei um beijo atrás de uma limosine em Ruby, prometendo que ligaria quando contasse e a fazendo prometer que faria o mesmo.
Naquela noite decidi ir a pé até a grande casa cinza em que vivia, dançando nas ruas como se houvesse ganhado na loteria, recheada pelo sabor da paixão que preenchia meu peito como se não houvesse amanhã, apenas sentimentos.
Cheguei em casa com um sorriso de orelha a orelha, ouvindo os questionamentos de Ingrid sobre se eu estava apaixonada.
— Olhe, David! — Minha mãe apontou para o meu sorriso — Isso só pode ser amor.
Meu pai ao ver que a loira estava correta se aproximou para me segurar pelos ombros, depositando um beijo carinhoso em minha testa.
— É verdade? — Sorriu para o meu aceno afirmativo — Então traga aqui essa pessoa para que eu possa conhecer, afinal você está deixando de ser nossa garotinha.
— Vocês já conhecem! — Exclamei, feliz e contente, afastando-me enquanto ficava de pé em frente ao grande sofá que Ingrid estava sentada.
— Conhecemos? E quem seria? — Papai perguntou, provavelmente passando nomes em sua cabeça.
— Ruby. — A voz masculina respondeu por mim, fazendo-me notar que Neal estava no andar de baixo — Não posso acreditar que você quer contar essa nojeira para os nossos pais, Swan!
Olhei confusa para o mais velho, o vendo falar mais sério do que nunca, desgosto presente em sua expressão. Como se me repudiasse e eu não fosse mais sua irmã mais nova de uma hora para a outra.
— Como sabe?
— A vi outro dia no quintal, deixando que aquela puta passasse pelo nosso portão e a beijasse como se fosse um homem! — Riu com nojo, afastando-se da escada.
— Emma, isso é verdade? — Minha mãe perguntou, levantando-se com cautela, porém sendo parada pela mão dura do meu pai que a segurou no lugar.
— O que Neal falou é verdade ou não? — David questionou, quase rosnando, me assustando com o som raivoso presente na voz.
— Sim... — Sussurrei, sentindo meu coração avisar que não havia mais volta, que algo estava errado, que eu estava errada e que eu havia feito o maior erro possível.
Os olhos de todos presentes era um o espelho do outro, um misto de repugnante julgamentos, nojo e decepção. Como se eu fosse impura, como se eu fosse uma doença transmissível, mas isso não impediu o tapa duro que David desferiu contra o meu rosto, fazendo-me virar a face para o outro lado pelo impacto, sentindo a queimação se espalhar pela minha pele junto das minhas lágrimas.
— Eu quero que repita e pense bem. É verdade o que Neal falou? — David perguntou novamente, me vendo acenar com a cabeça até desferir outro tapa mais forte que o anterior — É verdade, Emma? Diga-me e olhe nos meus olhos.
— Não... Não é verdade... — Menti, a voz soando trêmula no meio das lágrimas, sendo estrangulada pelos soluços que soltava involuntariamente.
— Eu não consigo nem olhar mais para sua cara, menina. Apenas... Esqueça tudo que disse hoje e nunca mais me envergonhe. Isso, isso que você acha que é, é um fardo que não quero na minha família.
Aquelas foram as últimas palavras que David me disse antes de subir as escadas, deixando-me tremendo dos pés a cabeça apoiada na parede, assistida por Neal que ignorou e seguiu seu pai mas não antes de cuspir perto dos meus pés.
Olhei Ingrid que possuía a mão em sua boca, me encarando estupefata ao se aproximar.
— Mamãe...
Sua mão erguida me parou, enquanto fechava os olhos.
— Não me chame assim, isso... — Apontou para mim — Isso não é a minha filha. Eu nunca colocaria um pária no mundo. Se essa é sua escolha, então também será sua escolha perder nosso nome. Não quero contato. Por isso se lembre da resposta do seu pai... De David — Se corrigiu antes de dar as costas, seguindo o caminho que todos tomaram, mesmo que eu estivesse deslizando pelo chão em tremores que me tomavam como avalanche, uma atrás do outro, aumentando sua intensidade até ser posta em um choque que me paralisava.
Não haviam pensamentos na minha cabeça ou muito menos a ideia de tempo, apenas sentimentos percorrendo cada extensão minha. Poderia ter se passado dez minutos ou duas horas, eu não sabia, até ser interrompida por uma batida trêmula na janela da cozinha que escutei graças ao silêncio profundo. Era o nosso toque secreto...
Balancei a cabeça ao sair do topor, correndo para a porta traseira da pequena mansão, deparando-me com a pior visão que poderia ter.
Ruby segurava uma mochila da escola com seu vestido manchado de sangue que pingava do seu supercilio e lábios, machucados por algo que parecia ter sido uma péssima briga.
Aquela noite soava como o maior pesadelo que eu poderia estar tendo e que eu torcia para acordar e tudo não ter passado de um devaneio durante o sono.
Mas era real. Era doloroso. Estava tudo fodido e perdido.
— Não posso, Emma, eu não posso continuar com isso — Ruby sussurrou, quase se engasgando em seu próprio sangue.
— O que aconteceu?
— Eles me bateram, meus próprios pais me bateram... — Soluçou, tentando limpar os lábios manchados, tremendo pela dor que aquilo causava.
Tranquei a porta atrás de mim, afastando-me com a morena para uma copa de árvores que ninguém conseguiria me ver, distante da casa.
Ruby se jogou em meus braços em um adeus, tremendo tanto quanto eu, seu sangue se perdendo no vermelho do meu vestido.
— Preciso ir... — Sussurrou, tocando minha bochecha dolorida até eu perceber que havia um corte ali, fino e ardido — Minha vó concordou em ficar comigo.
— Não ficaremos mais juntas? — Deixei uma lágrima escorrer pela bochecha, dolorida em cada sentido da palavra.
— Primeiro precisamos ficar vivas, Emma...
E com um beijo recheado pelo gosto de sangue, Ruby se foi noite a dentro.
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VENENUM
FanfictionRegina Mills, historiadora e arqueóloga, apaixonada no mundo antigo, vivendo mais pelo passado dos grandes do que o seu presente. Emma Swan, jornalista cultural, almejando os maiores furos históricos de culturas diferentes ao redor do mundo. Graças...
Reine
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