DESPREZÍVEL

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Vítimas!

Como era contraditório. O mesmo sangue quente e viscoso saindo da veia que me alimentava causava náusea e nojo quando frio e seco sob a minha pele. E minhas mãos estavam banhadas de vermelho. Talvez a sensação fosse parecida com a de uma pessoa normal diante de comida pútrida e mal cheirosa.

Andei cambaleante procurando por lugares que pudesse esconder meu estado de sujeira, me embrenhei por entre árvores e mato alto. Os animais noturnos emitiam seus chiados, e algo mais estava ali, se movendo com rapidez, se aproximando de mim.

Quem teria tanta coragem? Não pude reprimir o sorriso que se formou em meus lábios. Inspirei fundo, o aroma metálico característico do sangue humano quase inexistia. O que impregnava o ar, e que corria em suas veias, era o cheiro de um sangue adocicado misturado ao que bebera. Uma criatura como eu.

Minha audição ampliou, separando os ruídos. Eu me concentrei no mais sutil, o que se pareciam com pisadas leves, quase andando na ponta dos pés, usando o ar a seu favor para avançar e chegar até mim. Virei para minha esquerda, de onde soube vir meu visitante.

Escondi-me entre o mato alto. Eu sabia que poderia sentir minha presença como eu podia sentir a sua; me surpreendi quando notei algo inesperado.

Iat! ― Distraída do momento, surpreendi a mulher que me seguia, agarrando-a pelo pescoço e apertando forte.

― Quem é você? ― girei seu corpo e bati com as suas costas contra o chão. Ela agarrou o meu braço, mostrando-se surpreendentemente forte. As batidas do seu coração eram quase fracas. ― Você é como eu...

― Me... solte... e... conver... saremos...― sua voz saiu estrangulada, abafada pela falta de ar. Minha boca se ergueu num sorriso com toda a perversidade. Apertei ainda mais seu pescoço.

― Pensa que sou algum idiota, cățea?

― Eu... conheço... você. ― Suas palavras me golpearam, me enchendo de confusão.

― Como me conhece? Está mentindo e eu vou te exterminar por isso. ― Minha mão espremeu ainda mais forte seu pescoço. A mulher abriu a boca, implorando por ar.

― Nahan. Seu nome... é... Na... han Mcl... vol.

Minha mão abriu do seu pescoço pálido e frio, deixando as marcas dos meus dedos, que logo foram desaparecendo, enquanto eu me arrastava para trás um pouco tonto com o que me revelou. A mulher se sentou, alisando a pele já intacta de novo. A estranheza da situação desvendada me deixou em choque. No fundo, eu reconhecia aquele nome. A sensação de que ela estava dizendo a verdade. Que sabia quem eu era.

― Não me chamo Nahan Mclvol. Meu nome é Dimitri Dempsey.

A mulher me encarou, seu lábio se ergueu no canto direito. Sua boca pintada com batom vermelho tinha um contraste horrível com seus dentes brancos. Suas presas projetadas. Ela se levantou com rapidez. Caminhou ao meu redor dando meia-volta. Acompanhei com atenção o movimento calculado dos seus pés. Parecia prestes a me atacar a qualquer momento.

― Me admira que não seja você ― disse, parando de andar, passando a língua nos dentes afiados ―, sua pronúncia fluiu tão perfeita... Eu disse apenas uma vez e você repetiu sem pestanejar. É romeno. Seu idioma natural. Nunca se perguntou a respeito?

Já tinha me feito essa e muitas outras perguntas. Milhares de teses se formavam em minha mente, me atormentando dia após dia. A frustração por não saber o meu nome, por não ter lembrança alguma de quem fui. Nunca tive sucesso em chegar a qualquer conclusão.

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