A Aposta [Completo]

chubiradawn

Olho pro teto. O clima está tenso. Minhas pernas não param quietas. Sinto minhas mãos suarem. Olho pra mesa. Vermelho.

"Uno e ganhei"
"Nãooooooooooo"
"Droga"

Victor e Sofia jogam as cartas na mesa e eu sorrio vitoriosa.

"Eu sou boa demais"

Victor me pega pelo pescoço e me da um cascão. Meu cabelo cai tudo na minha cara.

"Aaa me solta."
"Não"
"Tô comendo cabelo"
"Parem de flertar vocês dois, não gosto de ser vela"

Victor me solta enquanto nós dois encaramos a Sofia.

"Flertar só se for com a mãe dele"
"Vagabunda"

Vejo o Gabriel me encarando, sinto um frio na barriga. O Victor me repara:

"Não sei o que aconteceu com vocês dois mas o cara é um babaca."
"Você nem conhece ele."
"Você o conhece por acaso, Ana?"
"Não, mas.."

O alarme toca.

"Vamos"

Pegamos nossas mochilas e fomos em direção ao banheiro, para trocar de roupa para a educação fisica.

*na quadra*

"Mais uma volta meninas."
Eu suspiro devagar enquanto quase morro de correr. Socorro, não fui feita pra correr. Olho pra quadra dos meninos, que jogam basquete.

O Gabriel e o Victor tá contra oNicollas e o Pedro. O Victor quase não joga, nem parece tentar. Já o Gabriel carrega o time, ele tá bonito molhado e sem camis.. caralho virei uma pervertida. Nossos olhares se encontram e ele sorri.
Algumas meninas olham pra mim confusas.

"Ana, correndo."

Volto a correr. Gabriel me alcança e começa a correr (andar) comigo
"Ana, você pode parar de me encarar, tá me atrapalhando, eu sei que eu sou difícil de tirar os olhos."
"Tu é muito corno e você não tem um jogo pra voltar?"

Ele para na minha frente.

"O quê?"
"Tu fica bonita, assim"
Minha bochechas começam a rosar. Filho da puta. Ele sorri e vai embora.

"O que foi isso?"

A Sofia aparece da puta que pariu

"Ai que susto carai"
"Meu Deus. Você e Gabriel?"
"Como tá com a Maria?"
"Para de mudar de assunto"
"Nossa que clima horrível o de hoje ein"
"Para"
"Você viu carros 3? Muito bom o filme"
"Simm amo. Não. Pera.
"Esse governo do Bolsonaro tá foda ein
"Ana. Para"

*na casa de Gabriel à tarde*
"Não acredito que você jogou fora as coisas dele"
"Ele morreu faz anos, você tem que superar, filho"

Sinto meus olhos lacrimejar.

"Deus sabe o que ele tá fazendo. Seu pai soube na hora que ele decidiu ser bombeiro, que ele iria arriscar sua vida por outros. Eu sei que dói, mas eu só quero seu bem."

Minha mãe tá certa. Mas por algum motivo, não consigo superar. Saio de casa e bato a porta. Acendo um cigarro. Tem uma coisa que não sai da minha cabeça, eu sei que é uma conhecidência estranha mas meus pais morreram no mesmo dia.