capítulo único

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Eu sentia os olhos dele em cima de mim

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Eu sentia os olhos dele em cima de mim. Quase tão baixos quanto seus ombros, quase tão baixos quanto a sua voz. Olhos tristes, quase tão tristes quanto os meus, quase tão tristes quanto eu.

— O que tá acontecendo com a gente? — tentando não demonstrar como estava afetada pelo que estava acontecendo conosco, acabei soltando um som alto do fundo da garganta.

Não tão alto quanto as batidas do meu coração. Eu jurava que ele podia ouvir do lugar que estava. Jurava que se ele fizesse tradução de código morse daria pra entender que era tudo de mim pedindo pra ele não ir embora.

Não vai embora. Fica.

Meu coração gritando tudo que eu não conseguia com a boca.

Só conseguia mesmo chorar em silêncio. E chorava, chorava e ouvia os suspiros que ele dava. O desespero soando no meu cérebro. Gritava e gritava. Não tão alto quanto a tristeza. A tristeza berrava tão alto que meus ouvidos zuniam e sua boca me engolia, me afundava, me fazia gelar e queimar ao mesmo tempo. O gosto amargo na minha boca, o gosto das palavras não ditas, o estômago pesado de todas aquelas que eu engoli e a indigestão de empurrar pra dentro tudo que me faz mal.

— Eu... — ele começou mas não conseguiu terminar. Levantei minha cabeça, até então baixa pra olhar pra ele, que não conseguia olhar pra mim, só para os próprios pés descalços. Queria poder falar alguma coisa para trazer um sorriso no rosto dele, queria conseguir te dizer qualquer coisa, meu amor. Qualquer coisa. Mas eu estava sendo engolida pelo berro da tristeza. Afundando no gosto amargo das palavras não ditas e meu bote salva-vidas estava indo embora.

— Hm... — Foi a minha tentativa de dizer alguma coisa. Agoniada. Gritando tanto por dentro mas em silêncio por fora. Os ouvidos zunindo parecendo prever que só iam escutar coisas que não iriam gostar.

Fica. Por favor, fica.

— Eu não... — Eu não quero mais. Eu não te quero mais. Eu não consigo mais. Eu não aguento mais.

Várias variações que chegavam ao mesmo lugar. O fim

— Eu sei. — Consegui murmurar, reaprendendo a falar. Meio rouca, meio gaga e muito cansada.

— Você não... — Conseguiu olhar nos meus olhos dessa vez. Não do modo que normalmente fazia, esses eram os olhos do fim, os olhos do cansaço. — Você não tem culpa.

— Eu sei. — Desejei ser como ele estava tentando ser para mim, desejei conseguir desejar que ele ficasse bem apesar de mim, desejei conseguir dizer que não era culpa dele. Por mais que fosse. Desejei conseguir dizer alguma coisa.

— Desculpa. Quero que a gente possa... — Não. Não ia aguentar ouvir ele falando aquelas coisas. Só fazia doer mais. Ouvir ele me dizendo aquilo, como se fôssemos conseguir conviver sabendo como éramos juntos. O que fazíamos juntos. Como nos sentíamos juntos.

— Não. Por favor... Não. — Não me pede isso. Por favor. Por favor não me pede isso. — Não.

Só fica.

— Ah, então... — Era tão esquisito ver ele daquele jeito. Sem jeito. Sem saber como agir na minha frente, sem saber como me machucar menos, sem saber como fazer ser menos doloroso pra mim. Somente pra mim. Parecendo sentir pena de mim. Senti pena também. Tanta pena.

O último olhar que ele me deu foi pena. O último sentimento por mim, foi pena. O último olhar que roubei dele, foi de pena.

Estava me sentindo dentro de um filme que eu odiava assistir. Me sentindo a personagem de um romance que eu odiava ler. Me sentindo patética. Não queria estar sendo assim, mas não conseguia deixar de ser... eu. Queria dizer coisas bonitas, dar um sorriso e um abraço de até logo, dizer "espero que fique bem, espero que encontre alguém", mas não consegui. Não conseguiria sem acrescentar alguém que te ame como eu. Queria só chorar quando ele fosse embora. Queria ligar pra minha mãe pra ouvir ela dizer que a única pessoa que sairia perdendo seria ele. Não consegui fazer nada disso.

Comecei a sentir mais pena de mim. Por estar daquele jeito. Por saber o depois. Saber quem eu seria depois de aquilo tudo. Saber como as pessoas agiriam depois daquilo tudo.

O tempo inteiro questionei qual a minha parcela de culpa naquela situação, o que eu havia feito que o cansou tanto? Será que de alguma forma eu o sobrecarreguei? Será que foi a nossa rotina? Queria desafundar para perguntar a ele: o que eu fiz? O que eu fiz que te fez fazer isso?

Tantas perguntas.

Nenhuma resposta.

— Tudo bem. Acabou. — Disse junto de uma respiração, soltando os ombros. Tentando fazer meu cérebro captar as palavras, pensando que talvez fosse mais fácil ouvindo na minha própria voz. Não foi.

— Então é... isso. — Olhei fixamente pra ele. Como que eu ia deixar de amar esse cara? Pena. Seus olhos de pena e os meus de amor, tristeza e saudade. Tanta saudade.

Mais.

Pena.

Ainda.

— Espero que você... — Seja feliz. Encontre alguém. Não continue com ela. Me ame por um tempo ainda.

Tanta. Coisa.

— Fique bem. Não sei o que falar, nunca passei por isso. — Tentei. Juro que tentei, mas soei patética com a voz embargada. Pena.

— Ah eu... também, eu acho. Ainda te amo. — Doeu. Doeu tanto. Machucou tanto. Não sei se podia doer mais — Mas eu não consigo mais. — Podia. Porque doeu.

— Desculpa. — Nem eu sabia porque tava pedindo desculpa. Desculpa por estar assim. Desculpa por ser assim. Desculpa pelos últimos tempos. Desculpa pela pena. Ele odiava sentir pena. Eu também odiava que ele sentisse pena.

— Acho que é isso, então... — Prendi a respiração. Os olhos fechados tentando controlar tudo. Ele veio até mim. Eu senti. Tudo de mim sentiu. — Fica bem.

Me deu um beijo na testa com os olhos cheios de pena. Se afastou com os olhos de pena. Também senti pena. E me odiei por isso.

Ainda sentada trouxe os joelhos pra perto do peito, me encolhendo inteira com as lágrimas me molhando, me afogando. Me deixei afogar até ficar sem ar. Até que tudo que saia de mim eram sons estranhos, até que finalmente cansei e nem chorar consegui mais.

Ele não ficou.

Levou meu coração junto.

O fim.

Nosso fim.

o fim. {harry styles}Where stories live. Discover now