capítulo único

Beginne am Anfang
                                    

Ainda assim não respondi, porque queria ver até que ponto você insistiria e, também, porque o riso não me permitia. Acho que você não entendeu essa última parte, porque se pôs em cima de mim e começou a me fazer cócegas, exigindo uma reposta. Eu disse que estava ficando sem fôlego, mas você deixou claro que só pararia e me permitiria respirar depois que escutasse aquilo que queria ouvir.

Mas eu decidi me vingar, lembra? Levantei minhas mãos e ataquei suas axilas, pegando você de surpresa. Você deu um pulo, juntamente com um grito, e caiu pra trás. Você sempre foi mais sensível a cócegas do que eu. Aproveitei a brecha e montei em cima de você, fazendo o mesmo que você havia feito em mim instantes atrás.

Seus olhos logo se fecharam e formaram marquinhas ao redor, seu nariz franziu enquanto você ria e tentava, desesperadamente, se livrar de mim. Entre puxadas de ar e tentativas frustradas de sair debaixo do meu corpo, você dizia que eu estava sendo desrespeitoso, que era mais velho e que eu iria me arrepender.

"Jeon Jeongguk... v-você... vai se v-ver... comigo"

Era estranho vê-lo assim tão... vulnerável. Pra mim, você sempre foi alguém a se temer, observar, tomar de exemplo. Sempre me senti pequeno ao seu lado, inferior. Mas, ao mesmo tempo, era bom saber desse lado frágil que você tinha e que só mostrava a mim, mesmo que não fosse de propósito.

Minhas cócegas eram implacáveis e você não sabia mais o que fazer pra tentar me parar. Suas mãos não podiam fazer nada, porque quando me pus em cima de você, prendi seus braços entre seu corpo e minhas coxas. Você gargalhava, mostrando todos os seus dentes brancos e perfeitamente alinhados. E, por isso, seu lábio retornou a sangrar.

Fiquei hipnotizado com aquilo, esquecendo até do que estava fazendo. Minhas mãos pararam em suas costelas e eu permaneci olhando pro fio vermelho que escorria pelo seu queixo. Você percebeu que eu não estava mais fazendo cócegas e se pôs a me observar, com as sobrancelhas franzidas, não entendendo minha parada abrupta.

Mexi-me involuntariamente, juro pra você. Minha mão foi de encontro ao sangue e o afastou de seu rosto, depositando-o em minha camisa branca, bem ao lado do rasgo que eu havia feito antes. E eu fiz de novo. E de novo, de novo, de novo, até que que conseguisse estancar o sangramento.

Você permaneceu embaixo de mim, imóvel, apenas me encarando. Mas, novamente, juro que não me mexi de propósito, foi uma ação automática, talvez por causa de um desejo reprimido que eu nem sabia que guardava. Eu desviei meu olhar de sua boca e o fixei em seus olhos. Eu me abaixei. Eu aproximei meu rosto de você.

Eu o beijei.

Senti o macio de seus lábios misturado com a superfície afiada do corte, um leve gosto de ferrugem e sal sendo absorvido por minha pele.

Mas eu não me importava. Eu queria mesmo assim.

Quando me afastei, você olhava pro lado, ruborizado. Suas mãos, ainda presas, se fechavam em punhos por causa da vergonha. Assustado pelo meu próprio ato, me ergui do chão e me pus de pé, deixando você livre. Você permaneceu mais um tempo ali, deitado, sem saber o que fazer.

Mas então você saiu correndo, mancando, tropeçando... indo pra longe de mim.

Tentei chamar seu nome, tentei chamá-lo de hyung, mas nada adiantou.

Você não olhou pra trás.

Fui pra casa naquele dia, sob um céu já escuro e cheio de estrelas, me culpando por ser tão imbecil, por ter feito algo tão impensado, por ter te deixado daquele jeito. Estava mortalmente arrependido, mas decidido a te pedir desculpas logo que te visse na escola, na tarde seguinte.

Mas você não apareceu. Te procurei por todos os cantos da escola, sem sucesso.

Eu achei que fosse porque você não queria mais me ver.

E então eles me disseram.

Que você atravessou uma rua movimentada correndo.

Que sua perna machucada te fez tropeçar.

Que você caiu e foi atropelado.

E que tinha entrado em coma no hospital.

Meu mundo desabou ali. Não podia deixar de me sentir culpado, pois quem lhe deixou tão perturbado fui eu. Quem lhe fez sofrer um acidente fui eu.

O motivo pelo qual você está preso a essa cama nos últimos 5 anos sou eu.

Você parece não ter envelhecido nada, Seokjin. Nem mesmo os pequenos fios que estão brotando em seu rosto fazem com que você perca sua juventude, seu brilho, seu vigor. Sua mãe já me disse que precisa fazer sua barba antes que todo mundo venha pra se despedir.

Antes que os médicos venham desligar seus aparelhos.

É por isso que eu tô aqui, hyung, te contando essa história novamente. Porque eu espero que você ainda se lembre, que ela ainda esteja presente em algum lugar do seu subconsciente, e que a leve consigo pra onde quer que você vá. Porque eu não vou esquecê-la jamais.

Eu não vou te esquecer jamais.

Eu precisava te lembrar disso, Seokjin. Porque daqui um ano, nesse mesmo dia, ela não vai mais fazer sentido. Você não vai mais ser meu hyung. E dali pra frente o hyung serei eu. É a última chance que eu tenho pra chamá-lo desse jeito.

5 anos eu passei esperando que você acordasse pra me perguntar novamente o que era tão engraçado. Mas não há mais esperanças agora. Você está indo embora, pra sempre.

Me deixando com a vontade de sentir seus lábios sob os meus mais uma vez.

O que vai permanecer é a vaga lembrança que eu tenho da sensação de beijá-lo e a dúvida do que você sentiu...

Quer saber a resposta que eu nunca te dei, hyung? O motivo pelo qual eu estava sorrindo, naquela clareira, 5 anos atrás?

É porque eu tinha descoberto que te amava.

Eu ainda amo.

E pra sempre amarei.

Do You Remember?Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt