capítulo único

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Você se lembra, hyung?

Daquela clareira que costumávamos visitar quando crianças, onde nos escondíamos dos valentões da escola que corriam atrás da gente pra roubar nosso dinheiro do lanche? Porque, mesmo que você fosse mais velho e mais forte que eles, você me dizia que violência não era a solução... só que ao mesmo tempo você me dizia pra nunca deixá-los tirar vantagem de mim. E então a gente se escondia.

Foi assim que a descobrimos, em uma de nossas tentativas de fuga, depois de tanto apanhar. Você sempre levava a surra em meu lugar, dizendo que não tinha problema e que era seu dever me proteger. Eles me encurralavam no beco atrás da escola, tentavam pegar minha carteira à força e você aparecia do nada, se colocando na minha frente pra tentar impedir.

Eles torciam seu braço, faziam você se ajoelhar no chão e o enchiam de socos. Eu, covarde e assustado, paralisado com minhas costas encostando na grade, não fazia nada, apenas te observava aguentar aquilo que era destinado pra mim. Mas um dia eu reuni coragem, apanhei um pedaço de madeira que estava perto de uns barris e acertei na cabeça daquele que estava te batendo.

Ele caiu no chão, desacordado. Os outros 3 gritavam o nome dele e tentavam acordá-lo, mas eu não dei a mínima. Peguei você pelo braço que eles não tinham machucado, te apoiei em meus ombros e corri, o mais rápido que pude, pra longe dali.

Parecia que havíamos nos livrado deles, mas depois de um tempo eu escutei passos atrás de nós. Você mal caminhava, eu te arrastava pra onde quer que eu estava indo. Eu não sabia onde estávamos, eu apenas queria fugir daqueles meninos e te levar pra um lugar seguro.

E a gente encontrou um, lembra?

Era uma clareira rodeada por uma vasta fileira de árvores, que impedia a visão tanto de dentro pra fora, quanto de fora pra dentro. Ficava em um canto mais afastado da cidade, onde não havia muitas casas construídas. Não fazia ideia de como tinha chegado ali, ainda mais com você naquele estado... acho que a minha vontade de te proteger, da mesma forma que fez comigo tantas vezes, era maior que tudo.

Sentei você no chão e tentei analisar seus hematomas. Você pegou minha mão e arregalou os olhos, perguntando se eu tinha sofrido alguma coisa. Às vezes não dá pra acreditar em você, Seokjin. Te assegurei que estava bem e lhe disse que precisávamos dar um jeito de limpar os cortes que você tinha no rosto.

Olhei pra você e vi que tinha seu dedo indicador em frente a boca, pedindo silêncio. Seguramos nossa respiração por um momento, quando ouvimos barulhos ao longe. Apesar de acharmos que não nos encontrariam, nunca era demais prevenir. Após o que pareceu ser uma eternidade, o barulho cessou e pudemos relaxar novamente.

Tirei uma garrafa d'água de dentro da minha mochila, arranquei um pedaço da camisa do meu uniforme e o molhei, limpando o sangue, que já estava seco, da sua testa, da sua bochecha e do seu lábio inferior. Você dizia que não precisava, que estava bem, mas logo depois soltava um pequeno grunhido, demonstrando que as feridas lhe deixavam desconfortável.

O som da sua reclamação era tão fofo que eu não podia deixar de sorrir. Você era mais velho que eu, mais alto que eu, mais forte que eu, mas mesmo assim parecia apenas um menino aos meus olhos... um menino que eu aprendi a admirar e a amar.

Você olhou pra mim e pediu do que eu estava rindo, o que era tão engraçado, mas eu não respondi. Então, você me deu um leve empurrão no ombro e disse "Jeon Jeongguk, eu sou seu hyung e exijo uma resposta!" Isso só serviu pra te deixar mais fofo ainda e pra que, aí sim, eu começasse a gargalhar.

É claro que não tinha sido engraçado, mas eu senti vontade de rir. O ambiente estava agradável, a companhia me deixava leve, a ameaça dos outros meninos já não se fazia presente e, por um momento, me pus a pensar na nossa diferença de idade. Você é apenas 1 ano mais velho que eu e, no dia-a-dia, nunca fez questão de que eu usasse honoríficos, mas naquela hora você quis usar sua vantagem etária pra cima de mim.

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