Capítulo 1

910 103 8
                                    

A casa fica um pouco distante, então pegamos um táxi. Leva uns vinte minutos para chegarmos e apenas a vista de fora já me deixa emocionada. Está em perfeitas condições. É tão bom saber disso.

- Precisa de um tempo?

- Não. - Balanço a cabeça. - Podemos entrar. Estou muito ansiosa para ver tudo.

Um grupo de visitantes espera no hall com o guia e logo iniciamos o passeio. Por várias salas que já conheço e o quarto que um dia foi meu. Contenho as lágrimas ao relembrar dos momentos que passei aqui. Da minha noite de núpcias, quando dei a luz a Isabelle e Matthew.

- A próxima sala é dedicada aos retratos dos membros da família. Todos podem olhar, mas tomem cuidado, não toquem em nada. São peças muito estimadas pelos membros remanescentes da família.

Nina e eu nos separamos dos outros e procuramos o quadro de John.

- Cat, olha.

Viro a cabeça na direção em que minha amiga está olhando e vejo o que a surpreendeu. Não apenas John, mas eu também estou na pintura. A seguinte nos mostra juntamente aos nossos três filhos. Então Willian e sua esposa. Continuando assim.

- Você estava linda. Quantos anos você tinha aqui? - Aponta para o retrato em família.

- Sinceramente, não me lembro. Mas provavelmente estava próxima dos quarenta.

- Você envelheceu muito bem. E seus filhos eram lindos.

- Teria sido uma tia incrível para eles. Queria que pudesse tê-los conhecido.

- Eu também. - Ela respira fundo. - Mas vamos, não queremos ficar tristes agora. Você sempre quis entrar para a história. Aqui está. Vamos ficar felizes.

- Tem razão. Vamos ao jardim? Era onde eu gostava de passar os momentos livres com John.

- Vamos.

Nos afastamos ainda mais e Nina me segue enquanto faço o caminho mais curto até lá. Olho ao redor e vejo que está mais lindo que nunca.

Me separo um pouco de Nina, que tira algumas fotos, e sigo para o canto onde John e eu costumávamos ficar. Me surpreendo ao ver dois homens lá. Eles estão conversando, um deles tem uma câmera na mão. Eles apertam as mãos e um deles sai.

Quando o outro, de cabelo mais claro, vira na direção da casa, meu coração para. Ando na direção dele.

- John? - O nome sai da minha boca antes que eu possa impedir.

Ele vira na minha direção, com a câmera próxima ao rosto e as sobrancelhas erguidas. Seus olhos, seus lábios, até mesmo sua mandíbula... É tudo tão familiar.

Meu coração bate forte enquanto vou até Nina e a puxo pela mão, saindo dali correndo. 

- Não é possível, não é possível. - Como pode ser real? - Vamos logo pra casa acho que a saudade está me fazendo ver coisas. 

- O que? - Nina tenta me puxar pra pararmos, mas insisto em ir. - Aconteceu alguma coisa enquanto estávamos separadas? Você está pálida. 

- Eu não estou me sentindo bem. Só isso. - Paro quando chegamos na esquina e me recosto no muro, ofegante. - Pensei ter visto algo. Ou melhor, alguém lá no jardim. - Suspiro, colocando as mãos sobre o rosto. - Acho que ainda estou confusa com passado e presente.

- E quem você viu? - Ela toca meu braço. - Pode me contar. Estou do seu lado em tudo. 

- Eu vi o John. - Olho pra ela. - Só posso estar louca. Não é?

- Ai, amiga. Pode ter sido alguém parecido, só isso. Não precisava correr desesperada desse jeito.

- Não. Eu vi bem o rosto dele. Era o mesmo rosto do John, tenho certeza. Ele estava com roupas normais e tinha uma câmera nas mãos. Ele olhou pra mim quando o chamei pelo nome. Como explica isso?

- Primeiro, me deixa tentar entender. Você acha que era o John ou não?

- Claro que não. Mas que isso aconteceu, aconteceu. E era o rosto dele sim. Mas pode ter sido minha mente pregando uma peça em mim.

- Bom... - Ela entrelaça o braço ao meu e me leva pra longe da casa. - Eu acho que, sim, seu cérebro pode ter te pregado uma peça. Não faz muito tempo que você voltou pro nosso tempo, então pode ter confundido as coisas. Já que queria estar com John ainda.

- Sim. - Assinto.

- Mas talvez tenha feito uma tempestade num copo d'água. O rapaz deve ter olhado porque você falou alto. Só chamou a atenção dele, nada mais. - Passa o braço ao meu redor. - Não precisa pensar muito sobre isso. Só vai te deixar mais confusa entre as duas realidades.

- É. Acho que tem razão. Eu tenho que colocar o meu cérebro pra trabalhar. O John viveu há muito tempo. Ele não está mais aqui, por mais que eu queira, e eu preciso aceitar isso. Não posso viver assim para sempre.

- Sim. Mas também precisa ter paciência com você mesma. Você voltou ontem, precisa de um tempo pra se acostumar a essa vida de novo. 

- Eu sei. Vou tentar manter isso em mente. - Sorrio. - Vamos tomar um sorvete? Senti muita falta de sair com você, de conversar. 

- Vamos. - Ela olha pra mim. - Mas sabe o que eu acho estranho disso tudo? 

- O que? 

- Que pra mim só passaram dois dias daquela tarde na sua casa. Mas pra você passou tanto tempo. É estranho te ver dizendo o quanto sentiu falta da minha companhia já que passou tão pouco tempo pra mim. 

- É estranho, mesmo. Mas é bom. Só uma de nós sofreu com essa distancia. 

- E só uma de nós viveu essa aventura incrível. 

- Não importa, porque agora apenas uma de nós tem alguém aqui. Não reclame.

- Você tá menosprezando a minha companhia? - Ela me empurra de leve. - Seu John pode não estar aqui, mas não significa que não tem ninguém do seu lado.

- Eu sei. Mas você me entendeu. - Entramos na sorveteria. - Agora vamos comprar nossos sorvetes e então você pode me atualizar sobre tudo. Eu esqueci várias coisas sobre minha vida aqui. 

- Até as fofocas? - Ela me olha, surpresa. Eu assinto. - Porque não me falou antes? - Sorri. - Eu vou te contar tudo. 

Nina me deixa escolher uma mesa e vai fazer nossos pedidos. E por mais que eu tente, não consigo parar de pensar naquele rapaz. 

Por mais que eu queira me readaptar a minha vida agora, meu coração ainda está no passado. Ainda pertence ao John. 

Olho na direção do balcão, onde minha amiga espera o rapaz finalizar o pedido de outra pessoa, então pego o celular e abro o navegador. Procuro por John Stirling e vou até a página de fotos. Tem apenas algumas pinturas, nenhuma foto de verdade, claro. Mas, mesmo assim, ainda lembra muito o que ele era de verdade. 

Lembra muito o rapaz do jardim. 

*

E vamos começando mais um capítulo na história da Cat. Espero que gostem do decorrer da história. O capítulo dois vai ser postado em breve. Beijão!

Era Uma Vez... Os StirlingWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu