2 de fevereiro de 2025

ابدأ من البداية
                                    

- Você pode chamar de outra coisa que não amigos, então - percebi que tinha dito aquilo em voz alta. O sorriso continuava em seu rosto, não sei se isso melhorava ou piorava a situação.

- Eu queria convidar você para tomar um sorvete comigo -

- Claro!

- Sério?

- Sim! Na verdade, eu acho que tenho que pensar e ... - Tentei completar a frase, me lembrando do conselho da minha tia-avó Gertrude sobre nunca aceitar nada de primeira.

Pensando melhor, acho que seria mais prudente considerar aceitar menos conselhos românticos de alguém que tem três quartos de século de idade.

Para minha sorte, ele apenas revirou os olhos, pediu para que eu o seguisse e disse:

- Vamos, conheço um lugar não muito longe daqui.

Heitor 

É no momento que uma pessoa te encara esperando que você fale algo que você começa a se amaldiçoar por suas habilidades sociais serem inexistentes. Sim, você, no caso, sou eu.

Eu já tinha conversado mais com ela no dia anterior do que com todas as pessoas com quem me encontrei no outro ano juntas.

Parando para pensar, Ella não parecia se incomodar com o silêncio, mas qual outra razão ela teria para me encarar quando pensava que eu não estava vendo?

Quando pisei no primeiro degrau da sorveteria, ela já estava lá dentro pegando o pote G+. Ela olhou todos os sabores e escolheu... Iogurte natural? Quem come esse tipo de coisa? É saudável. Ninguém vai à uma sorveteria procurando algo saudável.

Cheguei por trás e perguntei:

- Você está de dieta?

Ela não respondeu e avançou para a mesa de coberturas, onde colocou rios de calda de caramelo, morango e chocolate, estrelinhas e granulado colorido no seu sorvete.

- Nada de dieta, então.

Dessa vez, ela respondeu:

- Esse é o melhor jeito de tomar sorvete, por mais que eu respeite quem prefere diferente.

Quando Ella se aproximou do caixa, colocou mais leite condensado e em pó no seu pote.

Ella

Paguei meu sorvete e escolhi uma mesa.

Em pouco menos de três minutos, Heitor se sentou comigo (ele tinha pego três bolas de chocolate, duas de creme e quatro de creme paris).

- Eu pretendia pagar para você.

- Ah. Desculpe, acho.

- Não precisa pedir desculpas - ele revirou os olhos. - Então... - Ele limpou a garganta.

- Procurando assunto?

Quando ele não respondeu, tentei iniciar eu mesma a conversa.

- Qual é seu livro favorito do Shakespeare?

- Medida por Medida. É apenas possível imaginar o escândalo que foi para a época que ela foi publicada, considerando que os temas que aborda são sensíveis até hoje.

"Eu adoro diversas peças dele, mas essa, sem a menor sombra de dúvidas, fica no topo da minha lista."

- A minha é Muito Barulho por Nada, se eu tiver que escolher apenas uma. Também gosto muito de Otelo, A Tempestade, Sonho de Uma Noite de Verão, Noite de Reis... Acho que eu poderia nomear mais umas cinco apenas para a posição de peça favorita.

"A única que não gostei foi Um Conto de Inverno".

- Primeiramente, é um absurdo sem precedentes você colocar Muito Barulho por Nada como a sua peça favorita. Segundo, é igualmente ilógico falar que não gostou de Um Conto de Inverno.

Depois de eu falar por trinta segundos, ele começou a rir.

- Vamos prometer uma coisa: nunca brigar seriamente sobre nada além de livros e sorvete.

- Isso assumindo que vamos nos encontrar mais vezes?

- É claro que vamos! Nós somos almas gêmeas, afinal. Em dez anos, quando estivermos casados e com três filhos, eu vou virar para você e falar 'avisei'.

- Isso é uma variação de um trecho de Todas As Suas Imperfeições. Outra coisa: não quero ter filhos. Nunca.

- Você promete que não vamos brigar assim sobre mais nada além de livros e sorvete?

Meu celular apitou:

Seu avô chegou. Venha para casa em dez minutos, caso o contrário te proíbo de chegar depois das 13 pela próxima semana.

- Tenho que ir, nos vemos por aí. 


Amor entre o Tempoحيث تعيش القصص. اكتشف الآن