𝑺𝒕𝒊𝒍𝒍 𝑰𝒏 𝑺𝒂𝒏𝒕𝒐𝒓𝒊𝒏𝒊 ✓

01

sᴀɴᴛᴏʀɪɴɪ, ɢʀᴇ́ᴄɪᴀ

Espalho o protetor solar pelo meu rosto, abusando do creme, ou então eu voltaria para casa parecendo um tomate.

O Sol de Santorini poderia não ser tão forte quanto em alguns outros lugares que eu havia visitado, como o Brasil, mas ele poderia facilmente fazer com que você pegasse um belo bronzeado.

Aquele não era o meu caso. Branca como papel, eu conseguia apenas marcas vermelhas no rosto e no resto do corpo.

Ainda assim, aquilo não foi motivo suficiente para que eu desistisse da minha vontade de trabalhar naquela ilha.

Sorria como boba todos os dias, olhando o meu reflexo no espelho e passando a mão pelo uniforme verde em meu corpo. A cor não me favorecia muito, mas eu ignorava aquela parte e focava no meu nome bordado logo abaixo ao nome da instituição.

Era a realização de um sonho.

Bióloga marinha e trabalhando no meu lugar favorito desde criança.

Tinha que agradecer muito aos meus pais por terem feito de Santorini o destino de quase todas as nossas férias em família. Estar naquele lugar me trazia uma paz inexplicável, e foi por isso que eu decidi que queria morar ali.

Iria completar dois anos desde que saí da casa dos meus pais e de Madrid, vindo para Santorini e começando a construir a minha história na ilha.

Estava me saindo bem.

Coloco o boné verde em minha cabeça e ajeito o mesmo. Sorrio para o meu reflexo e pego a minha bolsa, saindo de casa em seguida.

[...]

━ Bom dia, meus amores. ━ Digo animada e me ajoelho na areia, agradecendo por ela ainda não estar tão quente.

Retiro com cuidado a cerca de proteção do buraco onde estava os ovos de tartaruga e me inclino um pouco para frente, os olhando com cuidado.

━ Como vocês estão hoje? ━ Pergunto, contando os mesmos.

Tiro o caderninho do meu bolso e anoto a hora que eu estava escrevendo aquilo. Descrevi o local, que estava como nos outros dias, e anotei quantos graus estava fazendo.

━ Estou ansiosa para ver vocês nascerem. ━ Digo e toco com cuidado em um dos ovos. ━ Não podem fazer isso sem que eu esteja por perto, ok?

━ Falando sozinha, Luna? ━ Ouço e me afasto rapidamente dos ovos, levantando o olhar e encontrando Theo.

Sorrio no mesmo segundo, ficando encantada com o quão lindo ele era, até vestido com o mesmo uniforme verde horrível que eu usava.

━ Com os meus ovinhos. ━ Respondo e ele ri, se aproximando e agachando ao meu lado.

Fiquei nervosa, mas tentei não demonstrar aquilo.

━ Nunca pensei em conversar com os meus ovos. ━ Falou e eu o olhei. ━ Com os meus ovinhos de tartaruga, eu digo. ━ Completou rápido e eu ri.

━ Como não? ━ Pergunto. ━ Tem que conversar. Somos como as mamães deles.

━ Somos? ━ Perguntou segurando o riso e me olhou.

━ Sim. ━ Digo. ━ Nós que cuidamos, então... ━ Levanto e abaixo os ombros, vendo ele abrir um sorriso.

Retribui boba.

Theo era, com toda a certeza, o homem mais lindo de Santorini.

Talvez eu pensasse isso por ser completamente apaixonada por ele desde que havia chegado em Santorini e o conhecido no trabalho.

Ele também era biólogo e vivíamos nos encontrando no Instituto ou na praia.

Nunca tivemos nada, mas eu torcia para que algo rolasse.

━ Você quer sair hoje a noite? ━ Theo perguntou e eu pisquei algumas vezes.

━ Sair? ━ Repito e ele confirma com a cabeça.

━ Estava combinando de ir em um barzinho com uma galera do Instituto. ━ Falou. ━ Se você quiser aparecer...

━ Ah, claro, com a galera do trabalho. ━ Digo e forço um sorriso.

Por um momento, achei que ele estivesse me convidando para um encontro.

━ Isso. ━ Riu. ━ E então?

━ Vou tentar ir sim. ━ Falo sorrindo.

━ Ok. ━ Disse. ━ Nos vemos mais tarde, então. ━ Falou e deu um beijo em minha bochecha, se levantando e saindo dali.

Assisti ele se afastar e soltei um suspiro, mordendo o lábio para conter um sorriso por causa do beijo na bochecha.

━ Ai, ovinhos, eu sou uma boba. ━ Digo e olho para eles, torcendo o meu lábio.

*

Saio apressada do banho, ouvindo o meu celular tocar pela quarta vez. Atendo a chamada de vídeo, logo vendo o meu pai olhando confuso para a tela do celular e afastar o aparelho do rosto.

━ Está velho, hein, seu Beauchamp? ━ Brinco e ele bufa.

━ Me respeita, garotinha. ━ Falou e eu sorri pelo apelido.

Ele e a minha mãe me chamavam daquela maneira desde que eu era mesmo uma garotinha. Agora, adulta, eu ainda gostava.

━ É alguma coisa importante? Você estava ligando sem parar. ━ Digo e sento na ponta da cama, usando uma toalha para secar o meu cabelo.

━ Você estava no banho ainda, Luna? ━ Perguntou.

━ Ué, eu estava. ━ Falo. ━ É errado ser limpa?

━ Não, não é, mas não tínhamos combinado de você buscar o Ethan no aeroporto?! ━ Perguntou e eu arregalei os olhos. ━ Ele já deve estar pousando.

━ Ah, merda, eu me esqueci. ━ Digo e me levanto rápido. ━ Ligo pra você depois, beijos!

Desligo a ligação e corro pelo quarto, me vestindo rapidamente e passando a escova de qualquer jeito em meu cabelo.

Saí apressada de casa e peguei o meu carro, dirigindo em direção ao aeroporto.

[...]

Olho para o relógio em meu pulso e em seguida para o portão de desembarque, esperando avistar o tal Ethan. Eu tinha uma foto dele no meu celular, meu pai havia me mandado para que eu não levasse um desconhecido para casa.

Ele parecia esquecer que Ethan também era um desconhecido para mim.

O filho de Bailey May, companheiro do meu pai no futebol, estava vindo para Santorini passar uns tempos.

Se eu entendi bem, era para estudar.

Senhor Josh, como um ótimo amigo, ofereceu a minha casa para que o garoto ficasse.

Minha casa.

Não adiantou muito eu discutir. Depois de bastante insistência dele, eu concordei. Não que aquilo fizesse diferença para o meu pai, até porque ele já tinha combinado tudo.

━ Luna? ━ Ouço e olho ao redor, encontrando um cara à minha esquerda. Ele olhou para a tela do celular e em seguida para mim novamente. ━ É, deve ser você. É a única salsicha que eu estou vendo aqui.

Fechei a cara no mesmo segundo, olhando para ele de cima a baixo.

O odiei.

***
Começamos