Gravidade

4 1 0
                                    

Rachel saiu do apartamento e resolveu descer os cinco andares que a separavam do térreo pela escada. Era um prédio antigo e bonito, o elevador sempre parecia deslocado, fora de lugar. 

No quarto andar ela começou a ouvir uma música suave e uma voz de homem, muito agradável, cantando algo que ela parecia conhecer. No terceiro andar, a letra da música ficou clara: 

Tendo a Lua aquela gravidade aonde o homem flutua 

Merecia a visita, não de militares, 

Mas de bailarinos, 

E de você e eu... 

Sem perceber ela entra naquele corredor, procurando de onde vem aquela música, aquela voz. E encontra uma porta aberta. Ao olhar por ali, vê um hall parecido com o de seu apartamento, com portas para dois quartos, um de frente pro outro, e uma porta para o banheiro (que era a única aberta, mostrando uma pia bagunçada, com aparatos de barbear jogados e um espelho velho embaçado pelo vapor). Via também a entrada sem porta para a cozinha, que parecia arrumada, e, ao fundo, depois do balcão, um pedaço da sala. Na parte que ela conseguia ver estava o dono daquela voz, em um banquinho de madeira, com uma guitarra acústica. 

Olhando para a guitarra, Robert não percebeu Rachel. Ele tinha a cabeça raspada e a barba por fazer. Seus óculos de grau lhe caíam muito bem. Sua roupa era desleixada, uma bermuda velha, cáqui, e uma camisa surrada, branca, de mangas curtas e aberta. A sala parecia ser marrom e creme. Lentamente ele voltou o olhar para ela, parou de tocar e se levantou, apoiando a guitarra na parede. 

Rachel encarou olhos castanhos insistentes e andou até lá. A sala na verdade era um quarto, com as cortinas claras e uma cama de casal desfeita, com travesseiros espalhados, lençol e cobertas, em outros tons de creme, harmoniosamente bagunçados. O barulho do chuveiro ligado estava mais perceptível sem a música. Rachel fez menção de sair mas Robert segurou a sua mão. Ele a olhou de um jeito que ela conhecia bem. Ela desviou o olhar, apertou a mão dele e saiu. Devia estar no primeiro andar andando apressada quando Angela saiu do banho e Fred estacionou na frente do prédio para pegá-la.

Angela saiu do banheiro enrolada numa toalha branca que contrastava magnificamente com o seu corpo negro. Os cabelos cacheados estavam molhados, pingando no chão do corredor. Robert estava deitado em um canto da cama, com um cigarro aceso, meio coberto e olhando para o céu através do vidro limpo da janela. Já tinha fechado a porta da sala. Angela sentou no canto oposto da cama. Com outra toalha branca tirava o excesso de água dos cabelos sem olhar para ele.Fred estava bonito, com uma camisa branca nova, manga enrolada até o cotovelo, os cabelos castanhos ligeiramente bagunçados pelo vento e a calça jeans azul escura, esperando encostado na porta do carro. Rachel sorriu quando o encontrou, mas desviou a boca, ganhando um beijo no rosto. Sentou no carro para irem almoçar, sem quase conversar, ela sempre olhando para fora, para o céu, através do vidro limpo da janela.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 11, 2021 ⏰

Adiciona esta história à tua Biblioteca para receberes notificações de novos capítulos!

Fragmentos de nós doisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora