Não sei para onde Josh foi, muito menos a hora em que voltou, minha única certeza era que foi tarde, pois fiz questão de espera-lo acordado, mas acabei dormindo no sofá.
Como sábado, domingo também foi chuvoso e tenso, fazendo o clima ficar ainda mais pesado entre Josh e eu.
Presos no mesmo alojamento pela chuva, sem escapatória a não ser olhar para a cara um do outro.
Via em seus olhos que não estava nervoso, mas sim frustado e chateado, pois sei que o seu "eu te amo" foi o mais genuíno e sincero, enquanto eu mal conseguia abrir a boca e falar.
E assim passamos o domingo, mal olhando para a cara um do outro, falando o básico e tentando ficar o mais distante possível. Até que na primeira estiagem do sol, Josh saiu para sei lá onde, sem me dizer uma palavra.
Ao ver das outras pessoas, nossa briga é um tanto infantil, mas eu não consigo me imaginar no lugar dele sem sentir uma grande dor no peito.
Dizer palavras com tanto significado para alguém e não ouvi-las de volta deve ser pior que um soco no estômago, e me sinto horrível por não ser capaz de dize-las.
Sei que elas devem vir do coração, e sei que elas estão lá, mas dizer que você ama uma pessoa é como entregar uma arma engatilhada e rezar para ela não apertar o gatinho.
Sofri muito com perdas antigamente, e talvez essa dor tenha me feito um obstáculo para dizer palavras importantes, por mais que elas queiram sair.
— Você parece tão distraída hoje, Any. — Mary diz me chamado a atenção.
— É só saudades de casa. — Minto com um leve sorriso nos lábios. — Nunca passei tanto tempo longe de casa.
— Relaxa. — Shiv diz terminando de comer seu almoço. — Quando você perceber, já se passou o ano.
Ela fala e sorrio.
Sinto meu celular vibrar dentro da bolsa e procuro o mesmo em meio a alguns fichários e canetas.
Era Noah.
Solto um largo sorriso, antes de atender meu irmão.
“Maninha! Pensei que já estivesse se esquecido de mim. Nem mandou mensagem depois que foi pra Victoria... Fiquei chateado.”
Noah faz seu drama e solta uma risada.
— Não queria estragar sua lua de mel. Quero que meus sobrinhos sejam concebidos com glamour. — Falo e rio imaginando seu rosto ruborizado.
“Hei! Eu ainda sou seu irmão mais velho!”
— Okay, senhor mais velho. — Falo e ele ri. — Mas o que devo a sua ilustre ligação?
“Não sei se você lembra, mas minha lua de mel acabou hoje, e estou voltando para casa.”
— Claro, me recordo. — Falo e vejo as meninas distraídas em outro assunto.
“Pois é, parece que Sina vai ficar lá por mais um tempo.”
Ele diz com certo desânimo e me preocupo.
— Aconteceu alguma coisa.
“Quando compramos as passagens, o check-in do aeroporto cadastrou as datas errado. Minha passagem ficou com o dia certo, 05, já as de Sina, para dia 13.”
Ele fala e me espanto. Erros como esse são inadmissíveis para uma empresa de aeroporto.
— Então vocês vão ficar aí por mais tempo?
“Não posso, se não vou ter que pagar uma multa e ainda ter que comprar outra passagem.”
Ele fala e solta um suspiro.
— Não pode dizer que foi por atraso?
“Eles iriam remarcar, não iria conseguir ficar com Sina, por isso decidi te ligar.”
— No que eu entro na história?
“Bem, como o avião faz escala com Victoria, pensei em ficar uns dias aí com você, assim mato a saudade.”
Ele fala e fico feliz com a ideia. Talvez mais alguém no alojamento deixe o clima mais leve.
— Primeiro preciso falar com Josh, mas por mim seria ótimo ter você aqui por uns dias. — Respondo entusiasmada.
“Que bom! Quando tiver resposta, me manda mensagem, minhas relações extraconjugais me aguardam.”
Ele diz e eu rio.
— Até mais, Noah!
“Tchau, maninha.”
Desligo o telefone sorrindo e as meninas me olham curiosas.
— Quem era? — Hina pergunta.
Antes que possa responder, ouço passos e vejo os meninos se aproximarem.
— Bom dia, meninas. — Lamar diz dando um beijo em sua namorada.
— Falando sobre? — Alex pergunta se sentando.
— A ligação da Any. — Mary responde. — Eaí, Any, quem era?
— Era meu irmão. — Falo e olho para Josh. — A passagem dele e de Sina saíram em dias diferentes, e ele queria saber se podia passar uns dias aqui.
Falo e Josh assente sem muito interessante.
— Por mim tudo bem, a semana está bem cheia de treino mesmo, o alojamento iria ficar quase vazio. — Ele fala e assinto.
Percebo os olhares de estranheza dos meus amigos com as palavras secas que trocamos, mas eles logo disfarçam.
— Vou avisá-lo. — Digo digitando para Noah.
Conversa vai, conversa vem, terminamos de almoçar, mas o clima entre Josh e eu continua estranho. Por mais que ele tente evitar, sei que ainda está chateado.
E muito.
Só espero que a ilustre visita de Noah deixe o clima mais leve, não piore o que já está ruim. Se é que dá pra piorar isso.
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