Capítulo VII

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(Música: The girl from Ipanema, Kenny G.)



Ele não seguiu na direção dos quiosques, mas na direção contrária. Fiquei aliviada. Não queria de modo algum ser objeto dos comentários dos meus vizinhos, que certamente notariam imediatamente que "a filha do Humberto e da Dora estava com um cara que ninguém sabe quem é", levando a história a ser comentada em todo o bairro. Não! Seria demais para mim.

Na verdade, atravessamos a praça e ele parou num vendedor ambulante, pedindo o que queria rapidamente, sempre olhando para mim como se quisesse ter certeza de que eu não iria fugir. Era tão estranho...

Tomamos nossos refrigerantes em silêncio, cada um imerso em seus próprios pensamentos, mas a sintonia entre nós era tal que ele logo se aproximou e disse:

— Não quero que você pense que eu sou louco, doente, tarado ou alguma coisa desse tipo, mas eu quero muito conhecer você. Então, você aceita passear comigo? Na minha moto? Podemos ir para outra praia, talvez Ipanema. O que você acha?

Eu não respondi de imediato. Não consegui.

— Olha — ele continuou —, na verdade somos vizinhos. Eu moro, ou melhor, estou morando na casa em frente ao seu prédio. É a casa dos meus pais. Então, não existe perigo, certo?

Eu me lembrei de imediato da primeira noite em que cheguei de férias e ouvi o som de dezenas de motos entrando na rua, me acordando, e em seguida entrando naquela casa, a mansão em frente, a misteriosa. Então, ele era um deles. Ou melhor, ele fora o anfitrião naquela madrugada. Isso não deveria me tranquilizar, mas de alguma forma que eu não compreendia por inteiro entendi que ele não me faria mal algum. Era um sentimento apenas, talvez inútil, porque na prática não havia garantia alguma disso, mas a voz dentro de mim dizia que tudo bem.

— Então, somos vizinhos? — eu perguntei, finalmente me sentindo mais relaxada, quando não deveria me sentir. Afinal de contas, ele ainda era um estranho.

— Somos. Então, você aceita vir comigo?

— Tudo bem. Eu vou. Podemos ir para Ipanema?

— Claro que sim. Vamos aonde você quiser.

— Tudo bem.

Quando voltamos, eu finalmente pude olhar a moto com mais atenção e tomei um susto. Ela era simplesmente... linda. Poderosa. Maravilhosa. Acho que antes, por causa de todo o nervosismo que eu tinha passado a cada vez que o encontrava em situações inusitadas, não prestei atenção à moto, mas naquele momento em que eu iria subir e me instalar nela, aquela maravilha se mostrou inteira para mim.

Eu não sei quais são os modelos famosos de motos, assim como não presto muita atenção a carros e marcas. Carro, para mim, tem que andar e ser prático. Não ligo para preços, grifes e coisas assim, mas, ao ver aquela beleza de duas rodas, não me contive.

— Sua moto é linda mesmo.

Acho que ele percebeu o meu encantamento e gostou do meu comentário.

— É uma R1. Linda, não?

— Yamaha, estou vendo.

— É a minha marca preferida. Para motos.

— E... Você dirige bem... mesmo? — Minha voz falhou e eu fiquei envergonhada.

— Você já sabe que eu dirijo bem. Não sabe? — Ele sorriu, como se partilhássemos segredos. Eu estremeci, — Tudo bem. OK. — Foi o que eu consegui dizer.

Ele subiu no assento, virou a chave e o conhecido ronronar chegou aos meus ouvidos. Era a minha vez, mas eu estava de vestido, o que não facilitava o movimento. Ele percebeu e gentilmente colou os pneus no meio-fio para facilitar as coisas para mim. Eu retive a respiração, mas fui em frente. Quando me dei conta, já estava instalada atrás dele e a moto saiu, devagar, para ganhar a rua em seguida, aumentando lentamente a velocidade.

Prometidos - Um para o outro (livro 1)Where stories live. Discover now