mais pesado que o avestruz

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Liberdade: desconheço.
No mundo em que eu vivo, liberdade tem preço.
Justiça: já ouvi falar,
Mas meu lado, minha voz,
Nunca se dispuseram a escutar.
Após todo esse tempo, ainda tento;
Tento acreditar em um futuro, 
Tento resistir; mas, ainda preciso pedir,
Insistir e suplicar:
por favor, eu não consigo respirar.
Mas era ladrão, bandido tem que morrer.
ELE MERECEU!
Mas era meu pai, era trabalhador.
E, adivinha? também desapareceu.
Todos falam:
RESISTÊNCIA, RESISTÊNCIA!
Mas ninguém deveria resistir tanto;
A vida não é só sobrevivência.
Meu cabelo, a minha cor;
eram pra ser apenas características.
Mas, por estas, eu sou apenas estatística.
“Hoje morreu, mais um jovem negro e favelado vítima de bala perdida”
VIDAS NEGRAS IMPORTAM!
A cada 23 minutos morre um negro,
E a estatística não vai mudar
Então, me diga, como não se preocupar?
Comece a ver tudo que a TV não mostra,
Estude mais, leia mais.
Você vai perceber que são apenas pobres,
Que morrem nas filas dos hospitais.
País onde museus são queimados,
E não são reconstruídos.
O país em que jovens negros caminhando,
Na rua são mortos com mais de cem tiros.
País em que um negro é morto,
Por seu guarda-chuva ser  "confundido" com um fuzil.
Esse é o país em eu sobrevivo,
País racista, esse é o Brasil.
Estão censurando a arte e a verdade
Há tanta verdade aqui que a censura eu mereço,
A população vai continuar morrendo;
Porque o tiro por engano, tem sempre um endereço.
Eu tenho um alvo no meu peito,
Talvez não valha a pena a minha vida,
Eu tenho medo;
Porque eu posso ser a próxima “vítima" 
Dessa tal bala perdida.
Tenho medo de sair com um guarda-chuva na rua, 
Pois por engano posso ser baleada...
Eles se confundem todos os dias,
Tra, tra, tra... E assim se vão mais de 80 tiros,
Me expliquem: 80 tiros é só confusão ou minha vida não vale mesmo nada?

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