restarts | chapter one

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Eu sempre fui uma filha,mas penas foram feitas para o céu

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Eu sempre fui uma filha,
mas penas foram feitas para o céu.
Então eu estou desejando, desejando além
pela empolgação de chegar.

Home | Gabrielle Aplin.

Lembro de cada minúsculo detalhe do dia em que meu pai faleceu. As memórias ainda são tão vívidas em minha mente que tenho a constante sensação de reviver aquele maldito instante todos os dias. Me recordo de sentir que as minhas lágrimas seriam capazes de quebrar o chão abaixo dos meus pés. De sentir meu corpo tão pesado que era difícil mantê-lo em pé. Ainda consigo ouvir o grito agonizante da minha mãe, o barulho do telefone ao escapar de suas mãos e cair fortemente no chão.

Lembro que a partir daquele dia nada nunca mais foi igual para ela, minha mãe simplesmente tornou-se uma eterna refém da dor, e hoje, quando meus olhos procuram os dela, tenho a recorrente impressão de que ela se perdeu de si, de que não é mais a mesma pessoa. Era como se meu pai tivesse levado com ele o brilho dos seus olhos e a magia que existia dentro do seu sorriso. A nossa relação nunca mais foi a mesma desde então. Por isso, é completamente entendível que a minha ida para Londres não tenha sido algo planejado e sonhado por ela.

Na verdade, ela adorava repetir que me achava uma ingrata por abandoná-la em meio a tanto caos e tanta dor, mas os últimos dezoito meses da minha vida foram de exclusiva doação a ela e à minha irmã mais nova. Persistir com a minha ideia de mudar-me de Newcastle foi a decisão mais angustiante que já tomei em toda a minha vida.

Faltam três dias para a viagem que mudará completamente a minha história, e confesso, que não ter seu apoio me machuca um pouco. Francamente, me machuca muito. Acredito que no fundo, minha mãe pensou que eu desistiria da ideia, o que acho uma enorme bobagem, pois sei que ela me conhece suficientemente bem para saber que eu jamais desistiria de um sonho como esse. Principalmente sabendo de como esse sonho era importante para o papai, de como sonhamos juntos com esse momento.

A LAMCP – London Academy Makeup and Film Productions – parecia um sonho tão distante para mim que até tive receio de contar ao meu pai sobre isso. Eu não sei ao certo quando descobri meu amor por maquiagem e produções cinematográficas, mas sei que desde o momento em que meu pai tomou conhecimento desse sonho não houve um minuto da minha vida em que ele não me incentivou fervorosamente a lutar por ele. A academia era a mais conceituada de Londres e abria portas para tantos universos cinematográficos que eu soube, no momento que tomei conhecimento da sua existência, que era ali que eu lutaria pelo meu futuro.

Separo as minhas roupas e viajo em meus pensamentos. Meu quarto em tons de amarelo, com alguns quadros de maquiagem e capas de revistas revela o meu amor absurdo pelo mundo das artes. Em cima da minha cama, um mural antigo cheio de fotos com lembranças e sentimentos. O meu pai me ensinando a andar de bicicleta, a minha formatura, o baile. Agora, sentada no chão encarando o mural que evitei olhar por tantos meses sinto um buraco se formar em meu peito. É que minha vida é diferente agora, desde aquele maldito acidente, tudo parece ter perdido um pouco o sentido, e o mundo parece ter perdido completamente a cor. Mas agora, olhando fixamente cada pequeno detalhe desse quarto consigo reviver de uma maneira clara e perfeita em minha mente cada momento que passei aqui. Se pudesse, embrulharia o meu quarto em uma caixa de papelão e levaria cada pequena parte dele comigo. É mágico como lugares conseguem guardar momentos, não é?

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