Final

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Agora, leitor, que meu sonho terminei de contar,
Vê se és capaz de o interpretar,
Ou se teu vizinho o é, ou não, mas presta atenção.
Para não interpretar meu livro mal, senão,
Em vez de fazer o bem, estarás servindo,
Ao mal interpretá-lo, ao caminho mal-vindo.

Também presta atenção, eu proponho,
Para não brincar com a forma do meu sonho:
Não deixa que minhas imagens ou a semelhança
Te levem a rixas e brigas que afetem tua confiança.
Deixa isso para crianças e tolos; quanto a ti, certo está,
Que a verdadeira substância do meu texto vejas.

Abre as cortinas, olha para além do véu,
E acha nas minhas metáforas o caminho pro céu.
Aqui, se bem procurares, coisas boas encontrarás,
Coisas úteis que uma mente honesta apreciará.

Mas se aqui algo encontrares que corrompa o tesouro,
Não hesita em descartar, mas preserva o ouro;
E se o metal precioso estiver no meio do ferro?
Jogar fora a maçã e ficar com a casca é um erro.
Mas, se achares que o que escrevi é fútil,
Nada me resta a não ser sonhar de novo com algo útil.

O peregrino (1678)Onde histórias criam vida. Descubra agora