Prólogo

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Antoniele desperta com seu celular tocando. Era domingo e ela não sabia como reagir ao atender aquela ligação já que era seu tão merecido dia de descanso e em cada anúncio que ela postava, deixava isso bem claro.

Respirou fundo e ainda deitada pegou o celular da mesa de cabeceira e finalmente atendeu, tentando ao máximo não pareceu rude:

- Pronto – sua voz serena se esvaiu pelo apartamento.

- O-oi, bom dia. Esse número é da detetive Satoriva?

- Sim, sim. É ela mesma quem fala – a chance de ser finalmente um novo trabalho a fez se sentar na cama em um pulo de empolgação.

- Posso te encontrar hoje com meu marido? Estamos desesperados e acredito que falar pessoalmente é a melhor opção para todos – uma breve pausa. – Ao menos é, para nós dois.

- Tudo bem por mim – ela deu de ombros como se fosse possível a mulher do outro lado da linha ver o movimento. - Estou com o dia livre hoje de qualquer forma.

- Sim, vimos no anúncio no Facebook que você usa este dia como folga e estávamos hesitantes em te propor o encontro hoje, mas...

- Está tudo bem, eu entendo – a garota interrompeu de forma suave. - A onde quer me encontrar?

A mulher que parecia claramente aliviada passou o endereço de um café que por sorte era bem próximo ao apartamento de Antoniele, no centro da cidade, e combinaram de se encontrar ás 02PM aproximadamente.

Após desligar o celular, verificou as horas e viu que eram 09 da manhã e sabia que não conseguiria dormir novamente. Revirou os olhos mas tentou ao máximo não reclamar por ter sido acordada por um motivo tão bom: chance de reerguer sua conta bancária.

Então, durante a manhã ajeitou seu apartamento e preparou o macarrão instantâneo que era seu companheiro de batalhas a um bom tempo, destruindo o seu rim e o seu fígado.

Às 01:30 da tarde saiu porta afora do prédio onde mora, caminhando tranquilamente, enquanto tirava o maço de cigarros de um dos bolsos de seu sobretudo para, óbvio, fumar tranquilamente enquanto caminhava até chegar ao seu destino – assim também destruindo a seus dentes e o seu pulmão.

Desde seus 19 anos e meio se empenhou a trabalhar como detetive particular na cidade de Vidal da Lavares, a qual nasceu e foi criada nos United Stades Of America. Porém, a menos de cinco meses os negócios iam de mal a pior já que por alguma razão os casos de adultério diminuíram na pequena/média cidade e nem mesmo para auxiliar alguma empresa a investigar os próximos passos de seus oponentes ela era contratada; chegou a checar se não haviam posto pó de sumiço em sua casa. Começou a agradecer mentalmente ao universo por finalmente ter aparecido uma chance de um novo cliente.

Aquela era uma ótima oportunidade, mesmo que a fizesse sair de casa justamente no meio de setembro, no frio de inicio de outono – Vidal de Lavares era conhecida por ser a cidade mais fria dos USA, até mesmo no verão.

Chegou ao café e jogou a bituca do cigarro numa lixeirinha ao lado da porta de entrada e logo já estava sentada aos fundos do estabelecimento quase vazio – o bom de morar em uma cidade não muito populosa é que os estabelecimentos raramente lotam. Observava a porta tentando adivinhar como seria o tal casal. Antoniele poderia ter se posto a olhar a foto da mulher em seu whatsapp salvando o número que a ligara mais cedo, mas, era fã de jogos de adivinhação.

Não demorou muito. Coincidentemente às 02PM em ponto um casal comum adentrou o local. A mulher tinha mais ou menos a altura que a nossa protagonista: 1,69 metros. A pele negra e os cabelos em tranças longas e soltas. A mulher tinha uma beleza serena, um jeito de andar tranquilo, a feição opaca, quase triste ou como se estivesse com tédio/sono. O esposo era um pouco mais alto: cerca de 1,75 metros – a detetive deduziu. Também de pele negra, careca. Também possuía uma beleza serena e o andar tranquilo. Sua feição era agitada, de alguém que notava todos os detalhes a sua volta, porém, parecia também estar opaco, com tédio ou sono.

VulturesWhere stories live. Discover now