Capítulo 4

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Lennon📍


Já estava amanhecendo e nada do meu pai ter voltado ainda, minha mãe não para de chorar dizendo que aconteceu alguma coisa com ele, não quero acreditar que realmente tenha acontecido algo. Ele está bem, vai aparecer por aquela porta vivo.

Mais tarde o meu tio chegou aqui, repleto de sangue.

— Cadê ele Carlos ?— minha mãe perguntou aflita.

—Luiza eu preciso que você se acalme.

—Se acalmar o caralho— disse gritando— Eu quero saber cadê o meu marido.

—Sinto muito Luiza—abaixou a cabeça triste— os cana acertaram 2 tiro na cabeça dele, não tivemos o que fazer.

Sinto meu coração acelerar.

— O quê ?— perguntei enquanto via minha mãe chorando.

— Os cana tentaram pacificar o morro, até o BOPE tava aí. Eles não conseguiram mas perdemos muitos dos nossos nesse confronto.

— Eu quero ver ele Carlos— minha mãe se levantou.

—Mãe...

— Eu não vou repetir— gritou.

— Não vou fazer isso o rosto dele tá irreconhecível, não vai se torturar desse jeito Luiza... Não se preocupe vou organizar o velório pra vocês.— saiu de casa.


Porra não queria acreditar que não vou ver mais o meu coroa. A casa tava em silêncio só se escutava o choro agoniante da minha mãe, cheguei perto dela e abracei. Não conseguia chorar ou ter reação alguma, aquelas palavras então era uma despedida e ele sabia.

(...)

3 dias depois do enterro do meu pai estou aqui no meu quarto sem ter reação alguma, não consigo acreditar que perdi ele, minha mãe só fica no quarto chorando, é deprimente o estado que ela tá e o pior é que nem posso fazer muita coisa. A saudade é a única coisa que fica.

Aurora veio os 3 dias ficar comigo e não saiu do meu lado, ela é única pessoa que eu preciso agora.

—Lennon você e sua mãe precisam comer, trouxe umas quentinhas que minha vó mandou— Ela se sentou na cama do meu lado.

—Valeu Aurora, mas tô sem fome cara—chegou mais perto e segurou na minha mão.

—Você sabe que não tem problema em chorar né—assenti—Pode contar comigo pro que precisar—me abraçou e naquele momento me permitir chorar o que não chorei esses dias.

Essa sensação de perder a pessoa que você ama e simplesmente não poder fazer nada é como uma tortura.

Chegar em casa e não encontrar ele, escutar os gritos dele comigo ou até mesmo em um dia de domingo nós dois assistindo futebol e minha mãe do seu lado reclamando de alguma coisa. Apesar de tudo ele sempre foi um pai presente, boas lembranças que terei até porque ele não vai estar mais aqui.

Senti os seus dedos passando pelas minhas costas, abracei ela tão forte e fiquei ali chorando até me acalmar.

—Se não fosse por você tá aqui eu não sei o que seria de mim pretinha, minha mãe tá pior do que eu e o meu tio resolvendo os bagulho do morro, não tenho ninguém além de você agora.

— Você sabe que pode sempre contar comigo, somos amigos não somos ?

— Sempre.

Me deitei no seu colo enquanto sentia suas mãos no meu cabelo.

—Você vai assumir o morro Lennon ?

— Não agora, quem deve assumir agora é o meu tio e nem quero pensar nesses bagulhos agora.

Ficamos ali por um bom tempo sentido o conforto que eu precisava.

—Lennon eu vou ver como sua mãe está e tentar fazer ela comer, é pra você comer também.— me levantei—
depois vou pra casa, amanhã eu volto aqui, tchau.— me abraçou e eu beijei sua testa.

— Tchau Aurora.


Tomei um banho e depois comi a comida que a doida lá trouxe. Aurora me fazia muito bem, chega a ser engraçado a conexão que temos a única pessoa que eu confio de olhos fechados e consigo ser eu mesmo.



DESTINO (MORRO) - Degustação Onde as histórias ganham vida. Descobre agora