Prazer, sou o Nathan

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Amigos? Eu tenho muitos. Tá bom, eu tenho muitos amigos online. Ganhei um fã clube só por participar da orientação dos calouros. Isso foi mais fácil... do que fazer amigos.

Volto para a realidade em questão de segundos. A vida virtual parece ser boa, e é. Mas quando você fica off, seus problemas atacam. É difícil ter que soltar o celular e encarar a vida real. Somos solitários. Os amigos online não estarão aqui quando você precisar. Prazer, sou o Nathan.

O mundo me diz que agora sou um adulto. Mas nunca me senti adulto. O mundo classifica isso como juventude. Mas não podemos realmente chamar de juventude. Quem eles estão enganando?

Eu, Nathan, sempre ouvi as pessoas falarem coisas do tipo: "ele é tão legal", "ele é tão fofo", "ele é tão lindo". Por dentro, sou tudo isso ao contrário.

- Oi rapazes. Aqui está o café de vocês. -

Entrego os copos sorridente e procuro meu lugar na turma. Digamos que estou ansioso por esse ano. Meu primeiro ano na faculdade e não faço ideia do que me espera. Mas, sendo bem sincero, vou me esforçar para tentar ser alguém melhor e ter um melhor amigo.

- Você só faz coisas agradáveis. -

Um dos rapazes agradece. É isso que faço para tratar bem as pessoas. Também quero ser bem tratado.

- Você poderia só ter nos dado o cartão. Por que foi comprar sozinho? Deve ter sido cansativo.

O outro comenta. É sobre isso que eu estava falando quando disse que queria um melhor amigo. Alguém que não ande comigo apenas pelo meu dinheiro, ou fama, ou sei lá o que. Quero encontrar alguém leal, honesto, que seja recíproco. Mas será que estou pedindo demais?

O professor entra na sala, chupando um pirulito de maracujá? Acho que sim. Aleatório, além disso. A turma se arruma, para prestar atenção na aula. Mas, algo me chama a atenção. O rapaz que está sentado na cadeira da frente está dormindo? Estava prestes a acordá-lo mas ouvi alguém falar baixinho:

- Deixe ele, você terá problemas se cutucar o Daniel. Não tem uma pessoa que já o viu sorrir nesta universidade.

Fiquei um pouco espantado. Daniel? Ninguém nunca o viu sorrir? Neste momento, o professor anuncia que conferirá a presença. Começa a chamar os alunos por ordem alfabética.

- Presente. -

É o que os alunos respondem quando ouvem seu nome. Logo, o professor chama Daniel. Mas como ele está dormindo, tenho certeza que não ouviu. O professor repete mas nada acontece. Para ajudar, me inclino um pouco para frente para chamá-lo mas meu braço bate sem querer no meu copo de café, derramando em Daniel. Os alunos arregalam os olhos, como se estivessem com medo do pior acontecer. E eu confesso que achei que seria morto por ele.

Daniel acorda, talvez pelo café quente e encara o chão. Imediatamente, abro minha mochila e tiro alguns lenços para ajudar a limpá-lo. Mas Daniel apenas levanta a cabeça, seu rosto sem expressão deixa a sala com um ar desconfortável. Ofereço o lenço mas o próprio empurra meu braço, recusando a ajuda. Se posiciona em sua cadeira, encara o professor e responde a presença.

- A saúde é o mais importante. Não canse o seu corpo. Você terá que gastar dinheiro se ficar doente. -

O professor aconselha Daniel, mas falha porque o mesmo não deu a mínima. Fico pensando no fato de Daniel não sentir dor ou algo assim, café quente caiu e com certeza deve ter queimado sua pele.

A aula acaba. Todos arrumam suas coisas e guardam em suas mochilas. Me arrumo rápido para alcançar Daniel, que saiu primeiro. Corro em sua direção e o chamo.

- Desculpe por antes. Você não se queimou, né? -

Mas Daniel não se dar ao trabalho de responder, apenas balança a cabeça, negando. Antes disso, me olha da cabeça aos pés.

- Ainda bem. -

Continuo. Feliz por algo grave não ter acontecido, mas sou interrompido.

- Ainda bem? -

Pela primeira vez, ouço sua voz.

- Não, não quero dizer que isso é bom. Desculpe. Você deveria ir se limpar primeiro. -

- Esqueça isso. -

- Eu não posso esquecer. Me sinto culpado. -

Puxo seu braço de leve, fazendo-o parar de andar. Finalmente Daniel olha em meus olhos. Sorrio amigável.

- Cento e cinquenta. -

- O quê? -

- Custos de limpeza, transporte e tempo, calçados novos.

Oh! Ele está se referindo ao prejuízo. Puxo minha carteiro do bolso e lhe dou o dinheiro.

- Você parece um caixa eletrônico. Escolho o valor para sacar e o dinheiro sai mesmo. -

Sinto um tom irônico vindo de Daniel. Mas, ele não aceita o dinheiro e vai embora me deixando com as mãos estendidas.

Os rapazes de antes aparecem batendo de leve em meu ombro.

- O que eu disse? Está curioso sobre como é o Daniel? -

Um deles pergunta. E sim, estou.

- Ele nunca perdeu a bolsa de estudos em nenhum semestre. Deve ser muito inteligente. -

- Bolsa de estudos em todos os semestres? -

- Ele é muito durão, nem parece humano. Mas, nós humanos, vamos arranjar comida. -

Falou o "esperto" me abraçando de lado. Me afasto e dou a desculpa de que preciso trocar de roupa. Mas não adianta. O interesse no meu dinheiro é um problema.

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⏰ Last updated: Oct 20, 2021 ⏰

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Primavera DolorosaWhere stories live. Discover now