Capítulo 3

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Duda Basttin, o filho mais novo do Marquês de Shire não tem nada de tolo.

Pelo contrário, é inteligente, galanteador, engraçado e devo dizer que é bem bonito.

Ele e se irmão John são muito parecidos, se não soubesse, diria que são gemeos.

Os dois tem um cabelo louro queimado, olhos verdes, pela clara e ombros largos.

Mas Duda é mais extrovertido e John já é mais tímido.

Pelo que eu percebi no jantar, o Marquês é bem rigoroso quanto aos filhos, ou melhor, a John.

Está claro que se ele pudesse escolher o herdeiro, ele escolheria Duda pois o mesmo sabe pelo menos manter uma conversa por mais de três minutos.

Depois do jantar voltamos para a sala para tomarmos um pouco de chá.

Terrence se sentou ao meu lado no sofá mas não por mais de 10 segundos pois vi o Senhor Deluca lançar um olhar de reprovação para ele que inventou uma desculpa e se levantou frustrado. Em seguida Duda se sentou ao meu lado e dei um sorriso para ele só não foi tão largo quanto o sorriso do Senhor DeLuca.

Pelo visto tudo está indo como seus planos.

Olho para Sue e ela não para de falar, como sempre, ao lado de John que a olha um pouco surpreso por sua habilidade de falar tão rápido mas com um certo brilho nos olhos.

Se eles se casassem se completariam perfeitamente.

Ela é boa em falar e ele em escutar.

Será que se eu e Duda casassemos nos completariamos dessa forma?

- Como é a sua relação com o Duque DeLuca? - Duda se vira para mim

- Ah, é boa, muito boa - digo olhando para o Senhor Deluca e a memória dele beijando o topo da minha cabeça me vem a mente - eu tenho um carinho muito grande por ele e ele por mim. Eu sou grata, muito grata.

- Eu soube da sua mãe - ele abaixa a voz - sinto muito.

Um bolo se forma na minha garganta.

Já faz muitos anos e todos sabem disso mas não gosto quando falam dela. Sinto que é errado qualquer pessoa que não seja o Senhor Deluca e seus filhos falarem da memória dela sem nem mesmo a ter conhecido pois eu sei que se ainda estivesse viva, ninguém ia sequer importar.

- Obrigada - forço um sorriso para não parecer mal educada

- Sue, minha filha - o Senhor Deluca diz - porque não toca um pouco de piano para nós?

- Claro - todos sorriem em aprovação e o Marquês solta um elogio - mas só se a Dria cantar para nós.

Todos se viram para mim e meu rosto queima.

- Concordo plenamente, Dria nos dê o prazer.

Quando eu ia negar fielmente até a morte dizendo que Sue era melhor sozinha. Vi marquês cochichar no que eu acredito ter sido um ofensa contra mim no ouvido de sua mulher que riu com descrição.

O mesmo me fuzilou com os olhos como se quisesse colocar fogo em mim só com eles. Mas eu não sou tola e sustentei seu olhar.

Aparentemente ninguém viu esse gesto dos marqueses pois estavam ocupados tentando me convencer a a cantar.

Mas na outra ponta do sofá pude ver Terrence fulminando o Marquês com um olhar como se quisesse mata-lo.

Então eu cedi.

Eu ia cantar.

Não ia permitir que ele falasse assim de mim! Posso não ser filha legítima mas eu morava ali e pra todos os efeitos fazia parte dessa família.

Me levantei e acompanhada de Sue desfilamos até o piano.

Sem nem me consultar qual música ia tocar, Sue começa as primeiras notas.

Olho para ela com desespero mas quando vejo seus olhos cheios de águas percebo.

A música que minha mãe cantava para gente.

Meus olhos se enchem de água mas tento me acalmar porque se minha voz embargar eu não vou conseguir cantar.

Limpo a garganta e começo.

A cada verso o rosto da minha mãe surge na minha mente.

Lembranças dela costurando vestidos para mim e Sue.

Olho para a mesma que já tinha lágrimas rolando pelo rosto.

Memórias dela perseguindo Terrence pela casa com um paletó que ele se recusava a usar.

Olho para ele que estava com as mãos nos joelhos olhando para baixo.

Na poltrona ao lado o Senhor Deluca tinha os olhos lacrimejados.

Minha mãe foi um anjo nas nossas vidas e essa música reviveu mais ainda a memória dela em nossa vida e o quanto foi importante para todos nós.

Acabo de cantar e todos aplaudem fortemente.

A marquesa e John não parava de sorrir, Duda aplaudia mais forte que todos e até mesmo o Marquês aplaudiu com uma carranca.

Agradeço a todos e vou me sentar mas Sue continua ao piano.

- Minha nossa, você tem um linda voz Dria.

Agradeço com uma reverência de cabeça.

- Você foi esplêndida! - Duda beija a minha mão e mesmo com luvas sinto um calor subir pelo meu braço.

Sorrio abertamente, olho por cima de seu ombro e Terrence está com a testa franzida.

- Vejo que a caridade foi muito útil - o Marquês comenta por trás da xícara de chá fazendo um silêncio se instalar.

- O que? - pergunta o Senhor Deluca

- A caridade que você faz para essa moça desde que sua mãe morreu - ele fala com desdém - as aulas de piano, canto, estudos...

Sinto meu rosto queimar.

- Está errado - o Senhor Deluca diz calmamente - faço isso desde que a mãe dela era viva porque ela era como uma irmã para Sue pois a mãe dela foi como mãe para os meus filhos. Fez um papel importante que eu não consegui no meu momento de luto. Continuei educando-a depois da morte de sua mãe, não como caridade, mas sim porque a amo como uma filha.

O silêncio que se instalou acredito que tenha sido ensurdecedor mas dentro de mim tudo gritava.

A minha cabeça começou a girar e meus olhos marejaram tanto que não pude conter as lágrimas.

Porque a amo como uma filha.

Essa frase ecoou em mim como se eu fosse uma caverna vazia sendo preenchida pelo mínimo som.

Ele nunca disse que me ama e eu nunca esperei por isso.

Mas só agora percebi que eu precisava disso.

O Senhor DeLuca dispensou a todos com a desculpa de que já estava tarde e devíamos nos deitar.

Só me lembro de já estar sendo colocada na cama por Sue que se despediu com um beijo na testa.

A essa altura eu já não estava mais preocupada com o que o Marquês disse de mim.

Porque a amo como filha.

Essa frase está repetindo diversas vezes na minha mente sem parar.

Um sorriso brota no meu rosto.

Eu pensei que estava sozinha mas não estou. Eu tenho uma família.

E eu os amo.

E eles me ama.

Ele me ama.

Suspiro e fecho os olhos

- Ele me ama como filha.

FELICIDADE TÊNUE (Livro 1)Where stories live. Discover now